Seu Aprígio

Que Seu Aprígio era um homem de posses, disso ninguém duvidava, como todos que o conheciam tinham certeza que ele era a pessoa mais avarenta e mão de vaca que já tinham visto.

Muitos não entenderam quando Dona Mazé (Maria José) se casou com ele, o pai dela que bancou o casamento e deu como dote algumas léguas de terra que faziam divisa com as do pai de Seu Aprígio, pra dizer a verdade o pai de Mazé só deu as terras porquê achou que elas não valiam nada. Seu Aprígio que era filho único ficou com a fazenda quando seu pai morreu, aí sim ele se tornou um homem muito rico.

Segundo diziam os mais velhos, ninguém conseguia atravessar a fazenda de um lado a outro a cavalo em menos de dois dias de trote puxado, propriedade tinha pouco gado era mais plantações e uma enorme criação de caprinos e ovelhas.

Quando os filhos começaram a chegar e foram somente três porque o doutor recomendou que era melhor ela parar por ali mesmo,o ultimo parto foi muito complicado. Foi quando ele veio realmente a descobrir quem tinha se casado, pois ela era tão canguinha quanto ele ou mais, diziam as más línguas que até as galinhas eram divididas, na semana que matavam uma para as refeições da semana, na outra semana tinha que ser uma das de Dona Mazé.

Quando ele se viu obrigado a contratar os serviços de um veterinário para cuidar das criações foi um perengue, porque doutor morava na cidade e ele tinha que arcar com todas as despesas e como os filhos já estavam grandes resolveram que mandariam eles estudarem na capital, assim no futuro não precisariam gastar dinheiro com estranhos.

O tempo passou e eles se formaram um médico, um advogado e o outro veterinário, como nunca gostaram muito da lida na roça, rapidamente foram enviados pela cidade grande e até o veterinário ia ver os velhos, depois que Dona Mazé morreu eles praticamente abandonaram o velho sozinho. Foi por esse tempo que ele botou a mulher de um morador pra cuidar da casa, porém nos finais de semana ele fazia questão de ficar sozinho.

As pessoas começaram a desconfiar que ele tinha dinheiro escondido em casa, principalmente depois que a mulher deu com a língua nos dentes a respeito de uns três ou quatro baús que ele guardava num quarto a sete chaves e não permitia que ela entrasse pra limpar nunca. Então começou a correr um boato que o governo ia trocar o dinheiro do país e quem tivesse algum guardado em casa deveria ir ao banco pra fazer a troca, antes que perdesse a validade. Mas Seu Aprígio que não confiava em ninguém nem" tchum", não ligou e seus filhos que já tinham suas vidas independentes, também não acreditavam que ele tivesse algum dinheiro em casa, portanto não tinham com o quê se preocuparem.

Até que a empregada por uma necessidade maior teve que ir falar com Elena sede da fazenda e para sua surpresa lá estava o patrão sentado numa cadeira de balanço com uma varinha de marmelo a espantar as galinhas que vinham ciscar no seu rico dinheirinho, que ele guardava a sete chaves.

Passado algum tempo um dos filhos foi visita lo e ficou sabendo da história do tesouro do seu pai, mas aí já não tinha mais que se fazer o tesouro de Seu Aprígio tinha perdido a validade e o destino, porquê o velho com medo de que alguém viesse pegar o seu dinheiro,escondeu tudo em local ignorado.

Talvez por isso as pessoas comentem que as casas velhas pelo sertão são mal assombradas, e a de Seu Aprígio não fica atrás, entrou para o imaginário e o folclore sertanejo.

Fernando Alencar

26/06/2011

Do livro Contos e Causos da Minha Terra (inédito)

Fernando Alencar
Enviado por Fernando Alencar em 26/09/2022
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