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PESCARIA RIO VERMELHO - GOIÁS (FINAL)



- Como sempre depois de um suculento peixe, lavamos os pratos, os garfos feitos de bambuzinho improvisado, limpamos tudo para evitar mosquitinhos (ões) e não deixar cheiro para outros animais. Sentamos a sombra de uma Gameleira secular e passamos a conversar, degustando um  azedinho caju do mato,  meu pai contou uma história antiga sobre pescaria acontecida com o seu avô no rio claro, perto dali, também afluente do majestoso Araguaia, o meu avô retrucou com uma grande caçada de onça no Mato Grosso, o guia intrometido (ele pegou o caju e sementes de sucupira - boa para digestão)  contou sobre assombração, e como era uma democracia romana, eu contei sobre o meu primeiro peixe pescado neste mesmo rio em baixo da ponte da Cidade de Goiás, estava com outro avô zeca, pertinho onde morava a grande escritora Cora Coralina, era bem grande!!! Tinha uns 5 centímetros, era um lambari, ai foi uma gozação, mas eu só tinha 8 anos ...me defendi.
- A tarde do terceiro dia estava chegando. Iniciamos novos preparativos para aquela noite. Os poucos peixes estavam no pulça, a carne da capivara salgada em mantas, tudo organizado, foi quando escutei um berro : “ uma aranhaaaaaaaaaaaa cabeludaaaaaaaaa” , eu pensei, vixe!!! Esqueci de avisar o desencapado... quando eu olhei rapidamente e deparei com uma figura exótica dançando a dança do ula ula... feito um maluco, pulava, rebolava, gritava, coisa de louco, ele estava incorporado de uma coisa matagalesca.... os dois correram perguntando: foi picado? Foi picado? Foi picado? Ele gaguejando respondeu: não foi uma pretona das cabiludona, cheias de pernas gigantes...ui..ui...ui..., meu avô com sarcasmo disse: o caboclo não é chegado numa aranha....aliviado e olhei a menina felpuda se afastando lentamente, tipo tá todo mundo doido, to fora!!!! E sumiu nas folhas da mata. Refazendo do susto o matusquela contou que foi abrir a sacola e deparou com o referido aracnídio e entrou em transe pscicodélico, mas estava tudo bem. Meu pai sorrindo disse, este cara estava e soltando a franga, em tempo de carnaval tudo acontece...
- Tudo em ordem natural, meu pai disse: eu e o neto vamos pescar, e o senhor seu Miné? vou fumar o meu cachimbo na rede e descansar, não estou muito disposto e você Ovídio, ele respondeu: vou tentar cochilar no carro, lá não tem aranha, está bem qualquer coisa pode dançar aquela dançinha de coisa louca!!! Nós pegamos a traia e fomos para a pedra no rio, somente eu e meu pai, naquele dia não éramos pai e filho, éramos companheiros de uma viajem que marcaria o meu espírito para o resto da vida.
- Na pedra o silencio imperava, meu calado como sempre e eu na expectativa do peixe, assim se passaram as horas, o meu coração batia de alegria por estar ao seu lado, mas não falava nada, eu era macho, mas alegre e feliz. De repente, meu pai falou baixinho, tire a sua linha do poço que esta chegando um peixe grande no meu anzol, rapidamente recolhi, foi quando ele deu a fisgada !!! o peixe era grande, brigava como um leão, não querendo ceder e o meu velho firme com a linha na mão, a briga durou um 40 minutos ai eu dei a idéia, será que não é melhor nos irmos para a praia e tira-lo, seria mais fácil, ele retrucou, certo vamos para praia, eu fiquei importante, dei uma idéia que foi aceita. O peixe devia pesar mais de 20 kg.
- Quando estávamos descendo da pedra eu escorreguei e cai nágua, naquele escuro aquático desesperei-me, apenas escutei meu velho instintivamente gritar segura na pedra, eu não consegui, e a corredeira estava me levando para fora do remanso, eu estava indo para os braços da princesa do rio, senti medo, tentava nadar, não conseguia, pensava que eu tinha que sair antes que meu pai deixasse o peixe ir e tentasse me salvar não me perdoaria...
- O frio tomou conta, estava entregue a própria sorte, não conseguia mais gritar, escutar sons humanos, apenas o barulho da água em alguns momentos, já estava na corredeira, pensei em Deus e disse seja o que o senhor quiser!!! Mas o milagre aconteceu, uma mão forte me segurou pelos cabelos e me suspendeu, consegui tomar fôlego, estava quase desmaiando, mas ainda escutei duas vozes diferentes conversando, uma era de meu pai dizendo, deixa que eu o levo, cheguei até a praia não sei como, lembro-me vagamente de expelir um líquido e adormeci...
- Ao acordar os três estavam ao meu lado, olhando com aqueles olhos de sentimento, perdidos, alegres, sei lá, só sei que estava vivo, perguntei e o peixe pai??? Ele respondeu com lágrimas aos olhos... Ele esta aqui, salvo, vivo e forte e pesa mais de 50 kg que é você, foram a suas palavras ditas e saiu, caminhando virou e ordenou... agradeça o Sr. Ovídio que foi ele que te salvou eu apenas te retirei da água.
- Foi neste momento que eu passei a acreditar em milagres, Deus utilizou as mãos do mais humilde para provar que na minha vida futura todos possuem seus valores, conceitos, esperança e amor. Eu me levantei abracei-o e agradeci, com uma profundidade de emoção nunca sentida. Escutei meu avô dizendo ao meu pai, "a pescaria acabou, o milagre da vida aconteceu e nos temos que respeitar as ordens deste puro e santificado lugar, bendito seja".
- Pensativo, eu sozinho coloque toda a bagunça no carro de forma ordenada, e fiz questão de ficar ao lado do meu mais novo amigo o grande senhor Ovídio, pessoa humilde, pai de família, trabalhador, que foi um enviado dos anjos para salvar a minha simples vida ou será que é a energia da Serra Dourada ou os dois acontecimentos em conjunto.
- O retorno foi rápido, estávamos todos esgotados, mas felizes, deixamos o Senhor Ovídio em casa, meu pai passou em uma venda e comprou mantimentos para quase um ano e ainda lhe deu alguma ajuda financeira até o seu falecimento, alguns anos depois, que Deus abençoe pela sua bondade terrena.
- Meu avô, nunca mais tocou no assunto, com o avançar da idade, foi perdendo o gosto pelas pescarias e caçadas, faleceu aos 98 anos, continua a contar histórias de caçadas e pescarias no andar superior.
- Meu pai, continuou a pescar com o seu companheiro que era eu e ainda os meus irmãos, sempre preocupado com todos feito galinha choca, nunca mais falou nada sobre o assunto, até vir a falecer precocemente aos 54 anos, também continua defendendo a preservação do ambiente e a purificação de nossos rios em espírito, grandiosa alma, que Deus a envolva com o seu manto.
- Eu, continuei a pescar em rios, lagos, córregos, mas quando perdi os meus parceiros de pescaria, deixei de viajar e passei a viver minha solitária vida de pescador em pesque pague com a minha família e/ou sozinho, dedicando cada peixe pescado aqueles malandros pescadores e caçadores espirituais. Tento sempre, recordar das delícias que me foram presenteadas pela vida, pelos meus companheiros eternos e por meu Deus único.
- Finalmente, ao terminar, gostaria de dedicar este simplório conto para os espíritos dos guias e pescadores de todo o mundo. Que preservemos a nossa fauna e os nossos rios para o eterno prazer de estar em contato com a magia da natureza e que ela seja infinita a todos. Infelizmente, estão conseguindo destruir os nossos belos pesqueiros no Rio Vermelo. OBS: existem dezenas de textos de minhas travessuras e experiências em pescarias, estarei colocando-as em breve.
Kulayb
Enviado por Kulayb em 04/02/2008
Reeditado em 04/02/2008
Código do texto: T845771
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