A Mangueira
Eram dois amantes apaixonados. Sempre juntos. Sempre sorrindo. Com a felicidade estampada no rosto.
Cada um deles não podia ficar longe do outro por muito tempo. Logo vinha o telefonema e suspiros saudosos eram trocados.
Nunca brigavam. Simples desejo de cada um era uma ordem para o outro, numa plena reciprocidade de carinho e atenções.
Em certa tarde chuvosa, marcaram um encontro após a saída de trabalho, às 17h30min numa determinada praça, sob uma velha mangueira que ali existia.
Às 17:00 horas em ponto ela postou-se sob a mangueira, por ele aguardando.
Também às 17:00 horas, ele, na mesma praça, mas em outra extremidade, postou-se sob uma mangueira que ali existia.
Passados dez minutos, começou a chover. Cada um em seu posto, aguardando o outro. Passou meia hora e ambos inquietos e encharcados pela chuva que continuava a cair.
Mais uma hora passou e o desencontro foi total. Com a fisionomia fechada, ela até chorando, e ambos encharcados, retiraram-se, cada um para sua casa.
Nesta noite, não houve telefonemas. No dia seguinte, logo pela manhã, ele telefonou para ela, que atendeu rispidamente.
- Que papelão heim! O que houve que você não foi ao nosso encontro?
Ele respondeu grosseiro:
- Você está louca: fiquei das cinco até quase sete horas, apanhando chuva, e você foi quem faltou ao nosso encontro?
-Mentiroso!
-Mentirosa é você!
- Seu cretino! Não fale assim comigo!
- Eu também não quero mais saber de você, sua fingida!
Somente dias mais tarde puderam verificar que, em razão da existência das duas mangueiras da praça, ocorrera o desencontro, enquanto que ambos haviam comparecido ao compromisso assumido.
Mas era tarde. Foram tantas as Ofensas e grosserias assacadas um contra o outro, em razão da inexistente falta, que a reconciliação tornou-se impossível.
E o Feliz romance teve fim...
Texto retirado do ANUÁRIO de 2003 da ACADEMIA DE LETRAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO (ACLERJ)