Amor além da vida

=AMOR ALÉM DA VIDA=

Na zona rural da cidade onde resido, morava um casal de idosos que viviam em tamanha harmonia, que a todos encantavam.

Não eram ricos, tinham um pequeno pedaço de terra de onde tiravam o seu sustento. Não tinham ouro, pedras preciosas, nem mesmo perfumes de grande valor. Ele, o senhor Marinho, e ela, Dona Divina, que era “divina” até no nome, criaram seis filhos que lhes deram, não sei exatamente, cerca de dez netos.

Eles já idosos, com sessenta e quatro anos de casados, viviam na plenitude do amor. Os seus filhos casaram-se e foram morar nos grandes centros. Mesmo assim, viviam unidos pelos laços familiares e, pelo exemplo de amor.

Quando se reuniam - meu Deus - eram momentos indescritíveis. Trabalhavam, caminhavam e passeavam juntos. Seria eles a prova de que o amor não é uma utopia? (Acredito que não, pois ali, bem pertinho moravam o senhor Chiquinho e a dona Zélia, também com sessenta e três anos casados que ainda, sem nenhum esforço, conseguem ser eternos namorados.)

Os dois casais tinham uma história de amor bem semelhante. Tudo isso é bonito de se contar e garanto que existem vários casos semelhantes por este mundão de meu Deus.

Sabemos, por experiência de vida, que todos os casais idosos, quando se separam pela morte, ao perecer um, em pouco tempo depois outro se vai, talvez pela idade avançada ou pela profunda perda, causando uma solidão insuportável.

Talvez vocês estejam perguntando se existem mais casais como eles, que vivem em pleno gozo da alegria e paz. Então, por que narrar este caso, em especial? Vou chegar lá onde fez, deste casal, um marco de amor que durará para sempre.

No final do ano de dois mil e sete, estavam com sempre, o casal nos seus afazeres do cotidiano, quando dona Divina sentindo-se adoentada e disse ao querido marido que iria à cidade (também divina até no nome - Divinópolis) para fazer exames de rotina. Na idade deles fazer certos exames é normal. Ele continuou em sua labuta diária esperando pela esposa amada.

Dona Divina acompanhada pelos filhos foi a um dos hospitais da cidade. Foi colhida de surpresa por um mal súbito que a levou à indesejável óbito. Foi uma tragédia entre os amigos e familiares. Era ela muito querida por todos. A maior preocupação era como preparar o senhor Marinho, que estava lá na roça, e nem imaginava o trágico silenciar daquele amor tão duradouro e, agora, abruptamente cortado.

Combinaram entre eles, parentes e amigos, em levar a dolorosa notícia. Várias idéias foram discutidas. Optaram então, por levar um enfermeiro e medicamentos (calmantes) para amenizar aquele coração que, com certeza, sofreria a maior de suas dores.

E assim o fizeram. Ao chegar ao sítio, chamaram pelo senhor Marinho. Ele não parecia estar presente. Gritaram para fazê-lo escutar, mas nada! Caminharam até os canteiros da horticultura. Também não estava! Voltaram à casa, tocaram no trinco da porta da cozinha e constataram que estava aberta. Resolveram entrar e esperar a sua volta. Atravessaram a cozinha e foram até à sala.

Foi quando viram o senhor Marinho deitado no sofá da sala, parecia que estava adormecido. Com toda a tristeza que traziam em seus corações, resolveram acordá-lo e dar a ele, a terrível notícia. Quando o tocaram, sentiram que aquele corpo também jazia sem vida.

Pelos seus corações amorosos, Deus não os deixaria partirem em separados. Talvez fosse à maneira que o nosso bondoso Senhor achou de presenteá-los pelo grande amor vivido.

Eu tenho por mim que as almas gêmeas nunca se separam. Cumpriram juntos, com alegria, a missão a eles determinadas. Dois caixões, em uma só sepultura, seus corpos unidos, para sempre, como em uma cama de casal.

Com certeza, suas almas pairaram sobre os seus próprios corpos, admirando e agradecendo pelos belos momentos vividos. De mãos dadas, com os olhos transbordantes de amor, partiram juntos, pelos jardins floridos da eternidade.

Esta não é uma historia de ficção, foi um acontecimento que mesmo triste, não deixou de ser um lindo e real conto de amor.

Tonho Tavares.

ANTÔNIO TAVARES
Enviado por ANTÔNIO TAVARES em 25/06/2009
Código do texto: T1666006