Amor por todo o sempre

=Amor por todo o sempre=

Dia dos namorados, fomos ao sítio do senhor Chiquinho. Ele com quase noventa anos de idade, casado com dona Zélia a sessenta e três anos. Ali, se encontravam os filhos e filhas, noras e genros, netos, bisnetos, parentes e amigos. Eu, como bom expectador, a tudo observava. Adoro flagrantes da vida real. O que mais me chamava a atenção era o amor demonstrado por nossos anfitriões. Pareceu-me, até, que o ciúme, entre eles, pairava deliciosamente no ar.

Acho que ainda sou um dos remanescentes do velho romantismo, que há algum tempo, julgam-se ultrapassados.

Aquela cena atraía-me, como um filme de amor. Fiquei ali, à espreita. Estava tirando dali uma linda mensagem. Eles são muitos simples, de pouco recurso financeiro. Senhor Chiquinho, totalmente analfabeto, não assina nem mesmo o seu próprio nome, o que não tira dele a sua grande dignidade, vivência e sabedoria. Os livros nos trazem conhecimentos, mas a sabedoria, o amor, vem do nosso Ser Supremo. Em determinado momento os casais começaram a exibirem, com orgulho, os presentes trocados. Cada qual mais lindo e caro. Os sorrisos de felicidade eram o que preenchiam aquele belo momento. Ele, o Senhor Chiquinho, a tudo assistia. Seus olhos estavam cravejados de um brilho indefinido. Tentava entender melhor o porquê do acontecimento.

Senhor Chiquinho, nascido e criado na roça, nunca dantes havia pensado ou sabido daquele comemorativo dia. Aquele ano era diferente. Eles sabiam da visita de todos e do motivo a comemorar. Os dois se sentaram em meio aos outros, assistindo com admiração ao surpreendente acontecimento.

De repente, ela, com seu rosto bonito, esculpido pelos oitenta anos de existência, de mãos dada com seu único e verdadeiro amor, sorrindo disse: “-É meu velho, todos deram presentes às suas namoradas e você, não se lembrou de mim, né?”

Ele, olhando-a com amor e ternura, lhe respondeu: “-Minha velha, se eu fosse lhe dar o presente que você merece, nem todo dinheiro do mundo seria capaz de comprá-lo. Aí, eu pensei em lhe dar um buquê de rosas, então me lembrei que rosas murcham e secam e, depois de pensar muito, eu lhe trouxe o meu amor, pois este é verdadeiro e eterno.”

Seus olhos lacrimejantes, brilhavam como as estrelas, causando a aproximação de seus rostos, uma atração impensada e desejada, tornou-se em um longo beijo. Foi mágico aquele momento e, para mim, valeu como uma linda poesia declamada. Todos aplaudiram, deu-me a impressão que todos os presentes , naquele momento, tornaram-se fúteis.

Daquela hora em diante, todos que chegavam, ouviam de dona Zélia, a narrativa de seu valioso e inesquecível presente.

Eu cá com meus botões, fico a imaginar: corremos tanto pela vida, atrás de muitos sonhos e dinheiro, quando na verdade tudo que precisamos, para sermos felizes, é de um grande e eterno amor.

Tonho Tavares.

ANTÔNIO TAVARES
Enviado por ANTÔNIO TAVARES em 09/07/2009
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