O VENDEDOR DE BANANAS
 
 
Era verăo, logo cedo Zezinho ajudava seu pai a pegar os mais bonitos cachos de bananas para ir vender na estrada. Zezinho năo ia à escola, precisava ajudar seu pai a criar seus irmăos menores, mas enquanto esperava à beira da estrada que alguém gostasse das bananas e as comprasse, ele ficava  sonhando quando fosse grande, o que ele seria. Zezinho năo gostava de lembrar que sem estudar năo seria nada. Seus irmăos iam à escola, cresceram e cada um foi trabalhar em sua profissăo, mudaram de casa, uns casaram, outros foram morar na cidade grande e Zezinho cansado de vender as bananas resolveu arrumar um outro emprego. Seu pai já bem velhinho năo tinha condiçőes de ir cortar os cachos de bananas sozinho e pensou em ir com o filho para a cidade. Vendeu o sitio, deu um bom dinheiro, pois só as bananas já sustentavam as despesas gerais, com  as outras frutas que năo eram poucas, dava uma boa renda no total. Com o dinheiro da venda, Zezinho decidiu abrir uma lojinha de doces caseiros e nesse detalhe entrava sua măe que fazia doces que năo dava para resistir. Em principio, o rapaz Zezinho usava as roupas ainda do tempo da fazenda, um macacăo e uma camiseta por baixo. Mas, após algum tempo ele resolveu gastar algum dinheiro com eles e comprou roupas da cidade para o pai, a măe  e para ele.  No domingo Zezinho vestiu sua calça jeans, um belo blusăo azul claro, um bonito par de tęnis e foi passear na praça. Pensou entrar num cinema, que nunca tinha ido e lembrou que năo sabia ler. Mas a vontade que tinha de ver como era no cinema fez com que comprasse o bilhete e entrasse. O filme parecia ser ótimo, cheio de açăo, policiais atirando nos bandidos, carros pegando fogo, acidentes de carros da polícia, e no final os bandidos que năo morreram foram presos e o filme que tinha uma musica com um cantor de voz muito bonita, acabou. Zezinho saiu triste, pois queria entender o que falavam, queria saber ler e escrever. Ele sempre fora um menino batalhador, dera a idéia ao pai de vender as bananas na estrada, inhame, batata doce, aipim, tudo ao  lado das bananas que chamavam a atençăo. Com isso melhoraram a casa do sítio, ele passou a ter seu quarto, e enquanto sonhava com a cidade grande, o cansaço o dominava e dormia. Agora, na cidade, tinha uma linda lojinha de doces, ficava bem perto da praça onde moças e rapazes iam passear e sempre passavam por lá e deliciavam-se com os doces de dona Marina, a măe de Zezinho. Estava tudo perfeito, menos o fato dele năo saber ler. Havia uma moça que sempre que voltava do colégio entrava na loja e fazia seu pedido ao rapaz, ainda que a dona  Marina viesse lhe servir. Ela sorria e pedia o doce a Zezinho. Ele de moreno, ficava verde, roxo, todo envergonhado, mas seu sorrido era iluminado e seu olhos duas estrelinhas negras reluzentes naquele rosto tăo bonito. Quando ia dormir Zezinho só pensava na menina estudante. Precisava saber o nome dela. Mas era tăo tímido, e o fato de năo saber ler, o fazia ficar calado, apenas sorria. Porém um dia ela veio de saia preta e blusa estampada de azul, năo estava de uniforme. Ela para ver se o rapaz falava alguma coisa para ela poder se insinuar, falou: _ Como é seu nome? Também está de férias?
 E agora, o que ele diria para ela, năo estudo, escrevo mal e aprendi sozinho com os cadernos de meus irmăos? Năo posso me comparar a vocę. Nunca tenho férias, essa lojinha é minha e de meus pais. Ficou pensando e resolveu falar com ela do jeito que sabia. Cecília logo viu que ele cometia muitos erros, mas năo desistiu. Resolveu falar com ele frente a frente, com toda a sinceridade dela. Nesse ponto, os dois eram iguais, năo sabiam mentir. Falou para Zezinho que o mundo năo havia acabado para ele, era jovem e podia trabalhar na lojinha de doces e estudar à noite na própria escola que ela estudava. Ele, entusiasmado, logo foi com ela na escola e deu inicio no curso de agosto. Era um curso preparatória para quem nunca havia estudado, um tipo de pré-vestibular ao ginásio. Assim, ele que havia estudado sozinho o primário, faria uma boa revisăo no colégio com professoras capacitadas e no ano seguinte faria o ginásio em dois anos e a seguir um curso técnico. Era cansativo, era puxado, mas ele nunca pensou em desistir.  Cecília ia para lá e estudava com ele, explicava, dava exercícios e enquanto ele estudava, ela ficava com dona Marina  na loja e permitia o Zezinho, que se mostrava bem interessado a fazer boas provas. Cecília terminou seu colegial e passou para a faculdade de Letras, pois queria estar preparada para ensinar a todos os Zezinhos que  encontrasse na vida e ajudá-los ainda que năo lhe pagassem. Zezinho foi para o colegial. Por uns tempos a vida deles caminhava para um futuro promissor, ajudado por Cecília. Ela estava no final de seu curso de professora, decidida a fazer o mestrado para também dar aulas em faculdades e ganhar um salário melhor.
       Zezinho estava terminando o curso de técnico em informática e  já pensava na faculdade. Nesse ano, em que ele tentaria um vestibular, seu pai, senhor bondoso, cheio de carinho com Cecília que tanto ajudava seu filho e esposa, faleceu.
       No entanto, Cecília que gostava muito de seu Carlos, não permitiu que os dois, Zezinho e dona Marina desabassem.
        Apesar de estar muito sentida, deu força aos dois para seguirem em frente, pois esse era o sonho de seu Carlos.
       Poucos anos depois Zezinho já no final da faculdade de Informática, pediu Cecília em casamento. Tudo ia muito bem, mas Zezinho nunca imaginou a tragédia pelo qual passaria naquele ano. Pensava no baile de formatura, dançando a valsa com sua querida Cecília, tanto que a amava....
       Mas não houve essa valsa. Numa noite de chuva, Cecília que já dava aulas, voltava à noite para casa, o chão muito escorregadio,  causava vários acidentes. E foi numa curva que Cecília cuidadosa que era no volante, ia devagar à sua direita, mas um carro em alta velocidade que vinha em mão contrária, derrapou, passou pela mureta e bateu no carro de  Cecília.  A moça foi levada às pressas para um hospital próximo, porém não resistindo aos ferimentos veio a falecer com o pedido, em voz bem fraquinha, que Zezinho seguisse com seu sonho . Ambos pensavam em ensinar de graça, a todos os Zezinhos que pudessem. Ela  ensinaria as matérias básicas e ele ensinaria informática.
        O rapaz demorou muito tempo para se recuperar da perda de sua amada, mas por ela e em sua memória, inaugurou com a ajuda de amigos que pensavam igual a eles a Escola Professora Cecilia , onde atendiam todas as crianças pobres do bairro e imediações. Zezinho nunca se casou, deixou a loja de doces aos cuidados de sua cunhada, irmã de Cecília que era boa para negócios fOI  trabalhar numa grande empresa de Informática e à notinha, quando voltava para casa, arrumava-se e ia para a escola dar as aulas que tanto sonhou com sua
inesquecível e muito querida amiga e futura esposa, Cecília.
O tempo passou....

      Já com idade avançada, Zezinho sentado em um banco de seu jardim onde cultivava numa grande área,  uma linda flor, delicada, chamada “boca de leão” que Cecília tanto gostava. Ficou relembrando o tempo que vendia as bananas na estrada , o quanto sua vida mudara desde que conheceu sua amada e sem poder segurar as lágrimas chorou. Chorou tudo que não pode durante todo o tempo que tinha que trabalhar, dar as aulas e ajudar a quem precisava, realizando o sonho que idealizara com sua muito querida Cecília.
      Agora, já idoso e sozinho, chorou sua perda ,  mas agradeceu a Deus ter tido o direito de ter como amor uma menina meiga, doce e gentil chamada Cecília.   Cecília fora um anjo protetor em sua vida. Era impossivel ter outro alguém igual a ela. Começava a esfriar, Zezinho entrou em casa, não antes de dar sua boa noite a todas as meigas “bocas de leão” que cultivava em memória de sua amada.  
                                             FIM    



naja
Enviado por naja em 19/07/2009
Reeditado em 03/01/2011
Código do texto: T1708259