=TRAJETÓRIA 2 =

Espero que gostem deste novo capítulo. Origado por ler-me.

Parte 2

“O homem livre

é escravo

de seus deveres”

O tempo passou, aos poucos foram-se as possibilidades, eram menos sonhos e mais realidade. A cruel realidade aflorava, ela começava a impor sua vontade. Chegava a adolescência. Junto com ela, as mais absurdas dúvidas, a falta de identidade! Quanto sofrimento numa simples transformação.

No meio do ano, veio para a minha sala de aula, transferida de outra cidade, a bela Suélen, para mim ela era a garota mais bonita do mundo. A troca de olhar, a falta de assunto as desculpas mais esfarrapadas, sempre nos levaram a ficar perto Os dias passaram e nos sentíamos mais enamorados, mesmo com toda a minha timidez, o amor falou mais alto. Começou ali a nossa primeira experiência amorosa. A cada encontro, sentia o coração pular com tanta força no peito, parecendo que saíra pela boca. Era uma emoção forte; minhas mãos suavam frias, as pernas perdiam a força, eram dias de glória. Vieram os primeiros beijos, escrevemos juntos os primeiros poemas de amor. A insegurança, o ciúme, começaram a roubar minha paz, começou então uma mistura de amor e ódio. Dia doze de junho, dia dos namorados, saímos juntos com os amigos, a cada garrafa de cerveja que bebíamos, sentia meu ciúme cada vez mais fora de controle, até que não contive mais, aprontando, assim, a cena mais ridícula de minha vida. A vergonha que senti, junto da minha timidez, não nos deu chance de reatar, deixando assim de escrever, talvez, o capítulo mais bonito de nossa vida. Aquilo doeu, doeu como se uma avalanche tivesse caído em cima de minha cabeça. Comecei a sentir que, a cada dia, minha timidez se acentuava, a auto-estima também estava em baixa e minha vida estava se tornando em um verdadeiro inferno.

Culpava minha família, e o mundo. Achava que eu tinha todos os direitos eu só não queria deveres. Um dos maiores suplício para mim era passar perto das pessoas, quando elas estavam paradas no passeio de suas casas, principalmente se fosse jovens, minhas pernas tremiam, meu corpo endurecia, sentia que estava rebolando e que aquelas pessoas ririam de mim. Isto é que era sofrimento! Nesta altura, eu andava pela rua só, acompanhado ao mais angustiantes pensamentos. Em uma noite fria, de inverno. Eu estava sentado numa lanchonete, numa auto-piedade que fazia gosto, quando chegaram, ali dois amigos de infância, Harailton e Décio, e começamos a conversar. Em pouco tempo, cada um contava suas conquista, cada uma mais fantasiosas que as outras; de lorota em lorota, eu não pude ficar para trás, dei asas à imaginação, podendo, assim, igualar-me aqueles fanfarrões. Continuamos a sair juntos; a cada dia que passava os amigos cobravam aquelas conquistas, sobre as quais eu havia falado naquela noite. Conquista que só existiam em minha imaginação.

Parte 3

“A maior de todas as batalhas

É lutar

contra si mesmo”

Dois anos se passaram. Enfrentaria, pela primeira vez, um emprego. As dúvidas, o medo, a insegurança eram permanentes. Para a família, me tornei o orgulho: estudar, trabalhar, era o máximo, apesar do aspecto de pessoa normal e equilibrado. Só eu sabia dos fantasmas que rodeavam minha vida. Meus defeitos de caráter, se expandiam. Estávamos na primavera. Meu conflito aumentava, e, paulatinamente, eu era uma bomba prestes a explodir. O pavor de decepcionar aqueles que confiaram em mim, doía lá no fundo de minha alma. Dia a dia criava novas fantasias e me valia de mentiras, para proteger-me, ou me afirmar, perante os amigos. Minha credibilidade, estava em decadência. Um fato aqui, outro ali, fazia ver que meu mundo irreal estava prestes a ruir. Ainda não era a minha derrota, era o começo de uma longa jornada, que me levaria ao nada. A cada dia, eu esculpia uma imagem deformada e degradante, caminhando a passos largos para a decadência total. Meus amigos e eu saíamos todas as noites, sempre à procura de novas emoções. Certa noite, sei que, nem porque, resolvemos tomar umas e outras. Nesse momento, percebi que a bebida não me dava coragem, mas me tirava a vergonha, e assim eu podia dançar, conversar com as pessoas, me permitia, inclusive, cantar. Que alegria! Parecia que eu encontrara o elo perdido.

Dizem que, quando o diabo inventou a bebida alcoólica, escreveu em seu rótulo os seguinte dizeres: “Em cada doze desta bebida, há separação de lares, desastre, assassinato, morte prematura, choro de mãe e lágrimas de filhos.” tentou ele fazer alguém beber, mas com este rótulo, ninguém quis arriscar-se. Então, voltou para o seu laboratório, tratou de pingar sete gotas de felicidade, ofereceu às pessoas e elas tomaram. Por causa de umas poucas gotas de felicidade, muitas vezes nos tornamos vítimas de todos os dizeres previamente escrito no rótulo daquela invenção infernal”. Era o início de uma triste e nova etapa de minha vida. Eu, que não podia coordenar, nem a minha vida, após o primeiro gole, tornava-me conselheiro, às vezes. até filósofo de botequim, realmente, era um grande avanço. Por incrível que pareça, meus parentes e amigos garantiam que aquelas bebedeiras passariam, bastava que eu me casasse. Só assim criaria juízo.

O tempo passava e, para não ficar só, procurava novos amigos, até que a situação chegou a um ponto em que as pessoas que prestavam atenção as minhas conversas eram os alcoólicos (pés inchados, do pescoço fino), já em fase terminal. Comecei a sentir vontade de morrer, cheguei a pensar no auto-extermínio. A coragem era pouca. Entre ressaca, presepada e vergonha, eu paralisava temporariamente minhas bebedeiras, isso só fazia crescer meu orgulho. Estão vendo! se eu fosse um alcoólatra, jamais conseguiria parar, mas sou homem, paro à hora que quero e bebo quando quero. Nestas altura, Deus fazia parte de um passado remoto. Fui decaindo, decaindo, mas, felizmente, cheguei a um leito de hospital Depois de vários exames, constatou-se uma cirrose hepática. Ao acordar, vi um velho médico, que me observava com carinho e atenção. Disse-me ele: Filho; está na hora de você acordar; lembre-se que todas as lutas travada com a bebida alcoólica, você perdeu. Alcoolismo é doença progressiva, incurável e de fins fatais, quem brinca com ela, terá uma morte prematura, ou poderá passar o resto de sua vida num manicômio, até mesmo em uma cadeia. Aquele médico e eu fizemos uma grande amizade. A ele eu confiava todos os meus tormentos, No final dos quinze dias de internamento, estávamos conversando a respeito do alcoolismo e Alcoólicos Anônimos, quando percebi que, nos olhos daquele bom médico, corriam lágrimas em abundância. Depois de disfarçar o choro por algumas vezes, disse-me:- Hà exatamente dois anos atrás, neste mesmo quarto, eu perdi meu único filho, aos vinte e dois anos de idade. Seu problema também fora o alcoolismo. Nele eu havia depositado todos os meus sonhos: sonho de ser avô, ou mesmo de assistir à sua formatura em engenharia. Ele tinha um futuro promissor: era inteligente e também um bom aluno. O alcoolismo não lhe deu a menor chance, interrompendo, ali aquele início de vida. Pra mim, restou a sua última imagem: aqueles olhos sem brilho, no seu instante derradeiro, quando disse, apenas: _Perdoi-me, papai! _O alcoólatra perde primeiro a fé, continuou o doutor, depois, perde a esperança, e, por fim, a vida. Naquele momento, pude refletir:_ Se eu continuasse naquela vida, fatalmente submeteria meus pais, aquele mesmo drama Meus pais, muito religiosos, faziam sempre as mesma perguntas: _Porque você bebe? O que esta faltando para você? O que estamos fazendo de errado? Porque se comporta desta forma? Apesar de ver um brilho de esperança nos olhos de meus pais, sentia também um tom melancólico, em suas vozes. Olhei para eles e tudo que consegui dizer foi: _ Pelo amor de Deus, me ajudem! No hospital os dias passavam lentamente. Aos poucos, recuperava minha saúde. O doutor Pedro Otávio, vinha me visitar (eu o chamava de o “bom velhinho”); trazia um brilho no rosto, sempre com um sorriso no olhar. Ele sabia que, com a ajuda de Deus, salvara minha vida. Feliz, ele me disse: _ Aqui salvamos o seu corpo, você deve procurar o Alcoólicos Anônimo, pois só assim pode salvar sua vida. Ouvi tudo aquilo, não respondi nada. Pensava comigo mesmo: _ Não sou alcoólatra, tenho mesmo é que criar juízo; vou provar para todos, que sou um homem.

...Continua amanhã...

ANTÔNIO TAVARES
Enviado por ANTÔNIO TAVARES em 27/07/2010
Reeditado em 27/07/2010
Código do texto: T2401892