Imagem: Lagoa Azul (Chapada dos Guimarães - MT)
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TRECHO DO MEU LIVRO - 11


Entraram no jipe e Raul contou a história de Leonora. Disse que ela amava um rapaz chamado Giuliano. Ele também a amava. Só que Giuliano não queria ficar no Brasil. Seu sonho era ir para a Itália, a terra dos seus pais. Mas Leonora não aceitava de forma alguma deixar sua terra natal – apesar de não ter pai nem mãe, que morreram quando ela ainda era pequena. Vivia em casa de vizinhos e amigos que a criaram. Sua mentalidade simples de menina do interior não conseguia aceitar a idéia de partir assim, para outro país. Achava que podiam ser felizes ali mesmo. Mas Giuliano tinha um sonho e não desistiria dele por nada desse mundo. Por isso, mesmo sofrendo, resolveu partir e deixá-la ali.
Ela mergulhou, então, numa profunda depressão. Nunca mais foi a mesma. Vivia sempre daquele jeito: triste, sozinha e amargamente arrependida de não ter seguido o amor da sua vida – para um lugar distante e completamente estranho, é verdade, mas vivendo ao lado de quem tanto amava.
Betina ouvia calada.
De repente Raul apertou seu braço no volante.
Ela levou um susto e olhou para ele: estava com cara de quem havia acabado de ter uma idéia fenomenal.
– A história dela mexeu com você, não é mesmo? Aposto que se pudesse a ajudaria... estou certo?
Ela riu:
– Você é mesmo impossível, Raul!
Ele olhou sério para ela e disse, apontando o dedo indicador para a sua testa:
– Mas... você pode ajudá-la...
– De que jeito?
– Isso é com você. Um conselho: comece fazendo com que ela confie em você. Aos poucos irá se abrindo, e aí você poderá descobrir como ajudá-la. Vou designar o “caso Leonora” como a sua primeira missão aqui. E ainda vou lhe dar um outro conselho: a primeira coisa que precisa é fazê-la entender que tem que parar de se sentir a coitadinha. Ela precisa parar de ficar chorando pelos cantos, de agir como se sua vida tivesse acabado, de ficar se lamentando o tempo todo pelo que poderia ter feito e não fez. Explique a ela que não deve ficar se queixando da vida. Quem vive lamentando a própria sorte atrai para si... vamos dizer assim... como uma espécie de ímã, toda a carga de negatividade contida em suas próprias palavras, entende? Isso para alguns pode parecer absurdo, crendice, mas creia: é a mais pura verdade!
Não houve resposta por parte dela. Guiava em silêncio. De vez em quando olhava para Raul sentado ao seu lado: tinha um ar atrevido de quem havia acabado de lançar um desafio. Desafio bem difícil, aliás.
Várias perguntas martelavam em sua mente: conseguiria mesmo a confiança de Leonora? Será que ela realmente queria ser ajudada? Permitiria que uma pessoa estranha se intrometesse assim numa coisa tão íntima? E, o mais difícil: no caso de todas essas perguntas terem respostas afirmativas – de que forma a ajudaria? Como lhe devolver a felicidade perdida? Precisava pensar muito para descobrir uma maneira de fazer isso...
Mas, o que Betina ainda não sabia é que essa oportunidade surgiria muito antes do que ela poderia supor, e de uma forma que ela jamais poderia sequer sonhar. Aliás, seria mais que uma simples oportunidade: seria uma verdadeira motivação!
Raul tirou-a do devaneio:
– Pare aqui. Vamos andar um pouco agora.
Depois de quase uma hora de caminhada – em que Raul tentou por várias vezes puxar conversa e Betina respondia rapidamente, com poucas palavras – chegaram, afinal, ao seu destino.
Ele estava satisfeito: suas respostas evasivas eram um sinal de que estava totalmente concentrada no problema de Leonora. Tinha certeza absoluta que ela não falharia.
Pararam um pouco para descansar e admirar a belíssima paisagem.
– Vamos! – disse Raul.
Caminharam mais um pouco e chegaram a uma enorme caverna. Ela possuía uma entrada muito grande – talvez mais de trinta metros de largura.
Era realmente um lugar fantástico, estranho e misterioso. A caverna era um imenso salão, com estalactites e cascatas caindo ou pendendo do teto.
– O nome dessa caverna é Aroe Jarí. Na língua dos índios bororo, os primeiros habitantes dessas terras, quer dizer Morada das Almas – ele explicou.
Betina estava fascinada:
– Morada das Almas? Jamais vi algo assim, Raul!
Depois de explorar toda a caverna, que era bem ampla e fácil de caminhar por ela, continuaram andando. Até que chegaram a uma gruta que escondia uma piscina natural de rara beleza. Suas águas azuis esverdeadas eram incríveis.
Raul explicou que aquela era a Lagoa Azul.