= O milagre chamado Chico =

Em meados de 1996, chegou em minha casa um amigo, sargento da polícia militar, chamando-me para ajudá-lo a internar um mendigo alcoólico, que estava “vivendo” no entorno da rodoviária. Eu o atendi prontamente. Fomos até lá, o quadro era desolador, se tratava de um jovem de 26 anos, nordestino (daremos a ele o apelido de Chico). Seu aspecto era de arrepiar. Uma barba muito grande e suja, que descia até o seu peito. Não sei a quanto tempo ele não se banhava, o odor era de lascar, era uma mistura de sujeira e cachaça. Sentamos em um banco, ali existente e o convidamos a sentar se conosco. Ele meio que desconfiado, muito arredio, tentou se esquivar. Fui conversando com ele até ganhar a sua confiança. Meio arisco perguntou-me qual era o meu interesse em sua pessoa, então eu lhe disse: Preciso que me escute, estou querendo me desabafar, acho que você é a pessoa certa, pode ser? Aos poucos ele foi se acalmando, sentou-se e esperou que eu narrasse a minha triste história. Ele ouviu com um certo interesse, no final ele me perguntou se eu estava dizendo a verdade ou tentando enganá-lo, pois as nossas histórias se cruzavam em vários momentos. Vi que era chegado a hora da abordagem. Perguntei-lhe se queria conhecer o caminho que o levaria de volta a sociedade. Chico olhou com os olhos em lágrimas e disse: Deixei de acreditar em milagre a anos, agora vem você me dizer que ainda tem jeito para mim! Isto é muito para meu submundo que vivo, mas se vocês quiserem me dar uma mãozinha eu posso tentar. _Estendemos a mão a ele e dissemos em uma só voz, segure aqui, caminharemos juntos. Levamos o Chico para a casa de recuperação, “Nossa Senhora de Fátima” ali existiam varias freiras que dedicavam, ainda dedicam a esta causa. Nós, como voluntário, fazíamos 2 reunião semanais, com a turma ali existente. Passaram-se 3 meses, Chico, já mudado, de banho tomado, veio revelar se o homem bonito e inteligente que ele era. O programa da casa era de 9 meses a 1 ano de internamento, mas o Chico não estava contente, queria sair, alegava que estava perdendo tempo, que precisava trabalhar. As irmãs nos procuraram contando-nos que ele estava desistindo do tratamento. Fomos até lá. Conversamos muito com ele, mostramos a necessidade da conclusão do tratamento, mas ele estava irredutível. Então só nos restou aceitar a sua saída. Muito triste, o levamos de volta a cidade. Como é difícil saber o que é certo ou errado! Ao invés de voltar para o submundo do alcoolismo, se agarrou conosco, fazendo novas abordagem e dando o seu exemplo de vida. Seis meses depois do internamento, numa noite fria de junho, ele entrou porta a dentro, com um lindo sorriso nos olhos, chamando-nos a compartilhar de sua alegria. Ele dizia: - venham ver, comprei uma Catarina, olha como ela é maravilhosa. _ Ao chegarmos lá na rua, ele mostrou-nos um carro velho, (Belina) bem estragadinha mesmo. Esta jóia é minha, dizia ele, comprei a vista. Devo dizer que todos nós que estávamos presentes choramos de alegria de vê-lo, trazendo para nós um milagre ao vivo. Ele estava vendendo panelas de alumínio, e outras vasilha. Com 8 meses ele já havia trocado de carro por um bem mais novo. Quando Chico reencontrou a sua família que a anos não os via, todos pensavam que ele já era morto, a cena foi tão forte, que até hoje quando me lembro choro. As firmas que ele representava, lhes deram credito sem limites, pois ele era um grande vendedor, honesto e muito inteligente. Com 2 anos de sobriedade, ele já conseguira conta em três agencias bancaria, com cheque especial. Casou-se com a filha de um rico fazendeiro e se mudou para o estado de São Paulo, onde constituiu uma bela família.

A Vida nos dá grandes oportunidades, se agarrá-las com vontade, na certa, os milagres sempre aconteceram.

Chico, seja lá onde estiver, desejo a ti, todas as felicidades do mundo.

Tonho Tavares,

ANTÔNIO TAVARES
Enviado por ANTÔNIO TAVARES em 22/04/2012
Código do texto: T3627179