Imagem: Parque Nacional da Chapada dos Guimarães)
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TRECHO DO MEU LIVRO- 12


Agora já não podia mais ver Raul, mas em seu cérebro ainda ecoavam suas palavras:
– Vá em frente...
Viu-se, então, num lindo palácio. Vestia um luxuoso traje real e caminhava em direção a um lindo trono ricamente adornado a ouro, sentando-se em seguida.
Imediatamente surgiram várias escravas que se apressaram em servi-la. Uma delas a abanava com uma enorme pluma azul. A outra levantava seus pés com cuidado e punha-os para descansar sobre grandes almofadas de cetim vermelho. Outras ainda lhe serviam sucos e várias frutas numa bandeja de ouro.
Porém, o rosto de uma delas lhe chamou especial atenção. A escrava penteava cuidadosamente seus cabelos, prendendo-os com lindas presilhas enfeitadas com diamantes. Fazia isso todos os dias com imenso carinho e cuidado, com receio de machucá-la.
– Pronto, minha rainha – disse, mostrando-lhe sua imagem num espelho. – Está a seu gosto? Deseja mais alguma coisa?
Ela percebeu que a moça tinha a voz muito triste. Ao olhar para o seu rosto viu que chorava. Perguntou:
– Por que chora?
Ela respondeu, tentando esconder o rosto:
– Oh, Majestade... não deve se preocupar comigo... sou apenas uma humilde escrava...
Mas, a rainha Myrna se preocupava com todos. Era dona de um generoso coração e em seu reino todos a adoravam. Não fazia qualquer distinção entre nobres e escravos: sua maneira de tratar a todos era igual. Arranjava sempre uma maneira de ajudar a quem precisasse. Às vezes com remédios, com roupas, alimentos ou até mesmo – na maioria das vezes – com palavras de carinho, apoio e estímulo.
– Não, não é apenas uma escrava! – replicou. – De todas é a que mais fielmente me serve. Vejo que trabalha por prazer, não por obrigação!
– Mas... Majestade...
A rainha Myrna segurou-a pelos ombros e pediu, com carinho:
– Vamos, diga-me qual é o seu problema! Deixe-me pelo menos tentar ajudá-la!
A moça abaixou a cabeça, muito vermelha e desconcertada: a rainha falando com ela assim, como se fosse uma amiga! Não! Conhecia o seu lugar! Não era digna de tamanha consideração!
Chorou ainda mais. Os soluços não deixavam que dissesse mais nada. Fugiu, correndo.
A rainha ficou ali parada, tentando imaginar o que estaria acontecendo com sua escrava. Mas... como descobrir? Por que agia assim? Qualquer pessoa que chegasse até ela pedindo ajuda jamais saíra sem ser atendida! E sua jovem escrava sabia muito bem disso! Seu reinado era marcado pela paz e pela união. Não havia guerras. Sempre se desdobrara em medidas que pudessem fazer seu povo cada vez mais feliz! Então... que problema tão inconfessável seria esse? Precisava desvendar aquele mistério!
O resto do dia ficou pensando sobre isso...
A moça desapareceu. No dia seguinte não foi cumprir com seus afazeres no castelo.
Quando a rainha Myrna deu pela sua falta, imediatamente mandou que a procurassem.
Em pouco tempo chegou a triste notícia: havia se suicidado. Fora encontrada em seu quarto com os pulsos cortados. Ao seu lado, uma carta. Dizia nessa carta que estava profundamente desiludida da vida, pois o homem a quem amava partira para muito longe. Jamais voltaria. Foi sozinho tentar a vida em outras terras. Não quis levá-la, o ingrato. Poderia ter ido com ele – a rainha entenderia, quem sabe até os ajudasse com um pouco de dinheiro para começarem a vida lá fora?
Mas ele a abandonara. Não devia amá-la. Ela estava disposta a largar tudo e partir com ele porque o amava muito. Mas ele, não. Por isso tomava essa triste decisão. Ou talvez porque não quisesse se unir para sempre a uma simples escrava. Ou, quem sabe ainda, tivesse a esperança de encontrar uma esposa entre as mulheres da sociedade?
O fato é que agora vivia amargurada, não via mais nenhum sentido em continuar vivendo. Por esse motivo tomava aquela trágica decisão.
Seu amado, por sua vez, não conseguiu ser feliz vivendo tão longe dela. Sofria dias e noites pensando em seu amor distante.
Resolveu voltar. Mas, ao chegar, recebeu a triste notícia de sua morte.
A partir desse dia o pobre rapaz tornou-se uma pessoa imensamente infeliz. Vivia vagando pelas ruas, não trabalhava, não comia, dormia pela floresta. Em pouco tempo morreu de tristeza e de remorsos.
Mesmo depois de passado muito tempo a generosa rainha Myrna sempre chorava quando se lembrava dessa triste história. E sempre lamentava e culpava-se – mesmo sem ter tido culpa – por não ter feito nada para modificá-la, para fazer feliz sua dedicada serviçal que morrera por amor...
Uma voz distante afastou a rainha de suas lembranças. Uma voz que dizia:
– Volte...