O FESTIM DE DEUS NO VARAL DE CASA
-O céu, o céu muitas das vezes é o inicio de nossa caminhada, sabia?
-Não vem com essa de novo...
-Não, não. É verdade! Olhe para ele, absolutamente infinito e belo, como toda caminhada desbravadora e sincera.
-Há dias que você vai atrás de emprego, volta embriagado e acorda com essa cara inchada e essa mesma conversa fiada.
-Sabe de uma coisa? Quando as folhas caem e os espelhos das velhas paradas de ônibus nos refletem, Deus zomba da nossa cara achando que não sabemos nada de seus planos e de suas maracutaias sujas!
-Não ponha a culpa em Deus!
Roberto observou através da janela uma pequena massa de nuvens tentando ofuscar o sol, aproximou-se da grade com sua cara inchada de bebum desempregado, liso, com fome e que muito em breve seria abandonado pela mulher e pelos filhos.
-E se nos transformássemos em nuvens ou coisas que se desfazem no ar, como o amor e os beijos, será que teríamos alguma chance contra Deus e o sentimento de culpa?
Eleonora acendia o fogo do fogão para esquentar o café frio.
-Não temos nem pão seu patife imundo e miserável!
-É isso, as nuvens sempre nos deram as respostas exatas!
Enquanto a pequena massa de nuvens se desfazia e o sol se revelava com todo seu esplendor e ardência, Roberto se expunha aos raios dourados e fuzilantes com sua pele suja e queimada.
-Amanhã, minha querida Eleonora, serei apenas uma nuvem no seu pensamento, adeus!
Rojefferson Moraes 3:00 (Aceso)