CHUVISCO
CHUVISCO
Ela me acordou com uma voz doce de Diva decadente, bêbada e irritantemente felina. Lambuzou minha orelha cantarolando Jazz obscenos. Tragou-me com o emaranhado dos seus cabelos que dançam ao vento da janela do 640. Naquela manhã tocava San Francisco no seu MP4 surrado. Bafo quente de doses de Seresteiro. O amor acorda com preguiça de abraçar quando está de ressaca. San Francisco a fez serpentear sob os lençóis. Preparou um bote certeiro. Os cabelos e a cintura bailavam sonolentas entre minhas pernas. Sem idade, sem pudor, sem receio de pular do ônibus em movimento para não ter que pagar a passagem. A música e a respiração abafaram o som do chuvisco no telhado de zinco.