A fertilidade

Tchekhov, mestre do conto de atmosfera, tem um conto chamado A dama do cachorrinho. E a dos cachorrinhos? Encontrei-a na Le Chocolatier onde bebia um chocolate quente. Sentava de perfil com um filhote de poodle no colo, de rostinho colado com o cãozinho. Vestia branco, grenha negra ondulada na altura do pescoço, estilo belle époque. Posso tirar uma foto sua com seu cão, a pose de vocês merece ser registrada? Pode, toma meu celular. Ah! Ficou linda! O gole de chocolate desceu mormaço pela goela. Você é turista? Moro aqui. Vim morar aqui, morava em São Paulo, quando era casada. Eu vim morar aqui acompanhando cônjuge, depois me separei. Somos divorciados. Sim. Engravidei três vezes, mas perdi. Ó!... Sou capixaba. Carioca. Moça, mais um chocolate. A lojista trouxe mais um, enquanto conversávamos. O colorido das embalagens dos chocolates e dos bombons ao fundo da mesa dela destacava mais ainda o seu vestido branco, a sua pele láctea, o seu sorriso fácil, a simpatia dela, que alisou a cabeça do poodle, agora com as patinhas na mesa, interessado na conversa. Só tenho ele, mas quero mais dois. Sou amigo da Maria, dona de um pet Shop. Você me leva lá? Sim, claro. Quando? Depois que formos ao cinema e saiamos para jantar. Combinado. Anote o número do meu celular. Os dedos saltitaram de alegria na tela do telefone dele.

Fabio Daflon
Enviado por Fabio Daflon em 16/08/2022
Reeditado em 26/08/2022
Código do texto: T7583422
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