Viagem literária

Ela era aquela criança que levava um livro para ler em todo lugar.

Cada página que abria era um portal para outro mundo.

Sonhava com os desenhos que acompanhavam a estória.

Um dia ela pensou:

- Quero escrever um livro, plantar uma árvore e ter um filho. É o que todos fazem para serem realizados! Mas talvez eu não precise ser como as outras pessoas, talvez só escrever um livro seja o suficiente.

Então, ela mergulhava na literatura como um peixe precisa do mar.

Eu ficava a observar como ela se empenhava. Fazia da leitura a sua reza.

Começou a rabiscar, dizendo:

- Um dia vou escrever como Raquel de Queiroz ou como Cecília Meireles. Como podem falar tão bonito os poetas? Ah, se eu escrevesse como Carlos Drummond de Andrade...

Ela foi escrevendo para melhorar sua redação e mostrava para o pai e para a mãe. Por sorte, eles também gostavam de literatura e recitavam os poemas de autores famosos como Gonçalves Dias e Castro Alves.

Um dos versos que ela não esquecia, porque o pai recitava: "Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá..."

Seu pai também falava de Olavo Bilac e Augusto dos Anjos. Ele gostava de ler muito. Tinha assunto para dar e vender.

Tempo bom, o tempo de sonhar como criança esperando o sonho se realizar.

Aquela menina era a voz da poesia que clamava para continuar existindo no coração dos homens.

E ela cresceu como uma estudante exemplar.

Seus pais ficaram felizes e orgulhosos por ela ter sido a oradora da turma da faculdade. Por certo a turma percebeu o dom da palavra que estava nela.

Sei que resolveu plantar roseiras e comprou umas sementes para plantar no quintal e virar árvore.

Ela escrevia a sua vida quando olhava no espelho e quando escutava o canto das aves.

Quando terminará seu livro? E quantos sonhos ainda escreve em seu diário?

Sei que um dos seus melhores amigos é o dicionário.

Ela rima a sua alegria com a cor do dia e pinta de vermelho seus lábios para dizer que cresceu - entretanto, ainda sonha vendo as figuras dos livros e mergulha em suas palavras.