Agora já pode chorar.

(Baseado em um fato real.)

Honória entra no quarto, falando com o marido, ainda deitado.

Ele não andava bem de saúde ultimamente. A vida de pescador o maltratara.

Arrastando os chinelos e os anos, mas ainda bem disposta, dirigiu-se, na obscuridade, até às janelas.

- Ô meu velho, faz um lindo dia e você ainda dormindo.

Puxa a cortina de chita, empurra os postigos para fora. Deixa que luz e calor da manhã invadam o pequeno aposento. Pega umas peças de roupas de uma cadeira, guarda-as no armário, ajeita a cadeira, sempre falando com o silêncio dele.

- Olha só que dia! O céu limpo. Dá pra se ver daqui até a ilha Verde. Vou trazer sua roupa, enquanto você se levanta, escova os dentes e se lava. Mas põe um casaquinho, não pode apanhar um resfriado, sabe disso. Fiz café agorinha, e a broa que você tanto gosta. Vá aproveitar esta manhã tão fresca e bonita!

Ainda sem olhar diretamente para a cama, continuou, agitando toalhas, dobrando-as e guardando-as.

- Mas, se você está muito cansado, pode ficar aí, deitado, que eu trago o seu café e o meu, tomamos juntos, um piquenique de domingo! E riu-se.

Falava e piscava, pelo contraste da claridade do dia com a do quarto. Voltou-se para ele, movimentando-se em volta da cama, recolhendo sapatos e chinelos, em uma arrumação só sua. Ele, em tantos anos, não aprendera a guardar o que era dele! Resmungava.

Quando lhe perguntou se queria só a broa de milho ou também pão saído forno, na manhãzinha, encostou-se na cama. Foi quando o olhou de perto. Por que tanto silêncio? Não era esse o jeito dele, dormir até tão tarde e não falar com ela!

Com a luz da janela batendo diretamente sobre a cama, era impossível não reparar na sua quietude, na sua imobilidade voltada para o lado direito e coberta até a cabeça.

Tocou nele, nada. Tocou com mais decisão voltando-o para cima e estacou. Gritou! Um grito quase mudo, surdo, encravado dentro da boca.

Saiu correndo como se perseguida pelos fantasmas da memória. Ela queria correr, mas suas pernas já não davam mais do que passos miúdos, presos aos chinelos.

E o segundo grito se fez ouvir, chegando à praia, aos bar-cos, onde se encontrava Pedro, o filho, que consertava uma rede.

- Pedro!!!

Ergueu-se, mais surpreso do que assustado por ouvir a voz da mãe, espalhada assim. Era sempre tão discreta. Largou tudo no chão e disparou para casa.

- Pedro! Pedro! Teu pai! Corre!

Honória gritava e já se voltava, gesticulando, em uma lin-guagem que Pedro não decifrava.

Ele entrou, foi apressado para o quarto que ela já invadia e parou junto à cama, sentindo na adivinhação do silêncio e do ar parado algo que ele não queria ver.

Ela, de pé, colada ao batente da porta, tremendo, olhos desmesurados fixos no marido, mãos postas, rezava. Não chorava, ainda não era a hora.

Pedro olhou-o, encostou-lhe a mão na palidez.

- Mãe, acho que o pai morreu.

Só a voz lhe dava sentido de pesar, não os olhos secos de incredulidade.

- Não, filho, não pode ser! Assim, sem nada dizer, ir-se embora, e eu sem nem saber. Como ele pode ter morrido en-quanto eu dormia do lado dele? Eu, com ele, na cama, defunto? Não!

- Calma, mãe! Temos que fazer alguma coisa! Avisar al-guém, chamar um médico. Não sei! Mas temos que tomar alguma providência! Vou no armazém ligar pro médico, chamar uma ambulância, levar ele não sei pra onde! Mas é preciso pensar nisso, agora! Chamar alguém do posto de polícia, quem sabe?

- Não, Pedro, polícia não! Vamos levá-lo pro hospital, quem sabe ele ainda não morreu, só está desmaiado!

- Não sei dessas coisas, mãe, mas ele está gelado, branco que nem cadáver! O coração não bate, ouve aqui, vem cá!

- Não! Gelado, não! Defunto, não! Vamos pro hospital. Lá eles resolvem se está morto ou não! Só tenho um medo, filho!

- Qual, mãe?

- Lembra do seu Jacinto, marido da dona Joana? Aquele que morreu no ano passado, em casa, e que chamaram a polícia? Ele acabou indo parar num tal de hospital onde cortaram e esvaziaram ele todo pra saber do que ele tinha morrido? Não quero isso pro seu pai, nunca! Onde eles vão botar os pedaços que tirarem dele?! Ah, não! Isso não!

Já gritando, de novo.

Pedro, indeciso, que tentava pensar e ouvir a mãe, ao mesmo tempo decidiu que ela estava com a razão.

- Tá certo, mãe, tá certo, ele vai pro hospital. Mas como vamos levar ele?

- No carro, ora!

- Nesse carro velho que nem sei se ainda anda de tanto tempo parado? E a gasolina? E se não pegar?

- Como você vai saber se não for lá ligar ele? É nesse mesmo que você vai levar seu pai! Vai lá, vê se funciona!

- Nós vamos levar ele, né mãe? Não vai dar pra fazer isso sozinho.

- Eu? Ai, meu Deus! Tá bem, vai duma vez!

E Pedro foi, jamais desobedecera a mãe.

Honória ficou no mesmo lugar, intacta, balbuciando, quem sabe, rezas ou apenas resmungava medos, mas ouvindo os ruídos que o filho fazia abrindo e fechando gavetas e portas de armários e, depois, batendo as portas do carro e do porta-malas, levantando e baixando o capô. Barulhos de tudo muito velho.

- Cadê a chave do carro, mãe? Gritou ele lá de fora.

- Não sei, filho, não sei. Sussurrou ela.

- Mãe, cadê a chave?!

Botou a cara para fora do quarto, com as mãos em concha, e gritou dentro delas.

- Não sei! Nunca guardei elas, sempre foi seu pai!

Pedro retornou, vasculhou a cozinha, de novo, entrou no quarto, olhou o pai. Dali não obteria resposta alguma. Abriu a gaveta da mesinha de cabeceira, e lá estava o chaveiro. Apanhou-o e saiu de novo.

Ecoou o barulho de um motor tentando ser acionado. Mais uma vez, e outra, e mais outra.

Pedro gemeu.

- Vai ver nem gasolina tem.

Foi verificar. Tinha, sim. Pouca, mas tinha. Sentou-se ao volante e tentou mais algumas vezes. Desceu, empurrou-o para um declive, pulou dentro e apertou o acelerador. Conseguiu! De primeira! Deu ré e encostou-o rente à porta da cozinha, com o motor ligado. Não queria correr mais riscos. Entrou no quarto.

- Me ajuda, mãe! Vê meia e calçado e um casaco pro pai.

- Eu?! Pra quê?!

- É mesmo, não precisa, refletiu Pedro.

- Mas me ajuda aqui, então, o pai tá pesado!

Honória moveu-se, resignadamente.

- Tô indo, filho, tô indo...

Com muito custo, ergueram o defunto da cama, colocando-o em pé. Pedro passara o braço do velho sobre seus ombros e segurava-lhe a mão, enquanto abraçava-o pela cintura, sustentando-o.

- Faz como eu, mãe!

A cabeça do morto pendia. Ora era um lado, ora outro. Balançava sobre o peito. Boneco desengonçado.

Honória, ao sentir o corpo inerte, pesado, e o frio do braço que passava pelo tecido fino do pijama ficou branca, parecendo mais defunta que o defunto.

- Eu aguento o peso e o puxo, a senhora só apoia ele, mãe.

- Tá.

E foram arrastando-o até ao carro que, pensava Pedro, milagrosamente, ainda estava funcionando. Conseguiram, com imenso esforço de Honória e muita ginástica do filho, colocá-lo sentado no banco traseiro. Ela ainda questionou por que não o colocavam no banco do passageiro.

- E quem vai segurar ele, mãe? Eu vou dirigir, preciso das duas mãos. Dissera-lhe Pedro.

Questão resolvida.

- Mãe, a senhora vai sentada atrás com ele e não na frente comigo.

- Eu? Por que eu?

- Ora, mãe, ele vai cair ali, sozinho, não entende? A se-nhora vai ter que segurar ele. Pois se eu vou dirigir! E esse carro nem tem cinto de segurança!

- É verdade, não tem.

- Então?

- Tá certo, falou ela, relutante e engolindo em seco.

- Tá com medo de que, mãe? O pai dormiu a vida toda do seu lado, na mesma cama!

- Mas ele estava vivo, né filho?

- E daí? Ainda é ele! Vai, entra aí, mãe. Olha só, já é quase meio-dia, e com esse calor vamos amargar na estrada.

- Que estrada? Nós vamos levar ele no posto médico da vila, é mais perto.

- Fazer o que no posto? Ele já está morto!

- Mas lá eles não sabem disso. Vamos dizer que ele só tá passando mal e que a gente levou ele, correndo, pro posto!

- Tá bem. Mas não sei não...

Ambos entraram no carro. Ele, na direção. Ela atrás, ao lado do marido, mas na outra ponta do banco.

Pedro começou a dar ré. O carro engasgou, corcoveou, e o velho também balançou, inclinando-se para frente. Pedro viu isso pelo espelho retrovisor.

- Mãe, segura ele! Mantém o pai sentado, senão alguém vai poder ver ele assim caído e vai suspeitar, né?

Com extremo esforço físico e de vontade, Honória puxou-o de volta para o lugar. Sentado, mas a cabeça pendia-lhe sobre o peito, perigosamente, puxando-o para baixo.

- Mãe, bota a cabeça dele para trás, sobre o encosto.

Ela o fez, com mãos geladas e suadas.

- Agora, encosta nele. Vai ficar seguro entre a senhora e a porta.

- Precisa disso?!

- Claro, mãe, ou ele vai cair de novo!

Encostou-se nele, olhando rigidamente para frente, para além do para-brisa.

E o carro seguiu, engasgando, roncando, aos sacolejos.

De repente, um grito saído da boca de Honória atravessa o cérebro do filho. O susto foi tão grande que Pedro enfiou o pé no freio. O carro esqueceu-se de se agarrar ao asfalto, deslizou meio de lado, saiu da pista e parou, resfolegante, metade no acostamento, metade fora da estrada, na areia. E morrera.

- O que foi, mãe!?

- O teu pai, olha!

Pedro virou-se e olhou. Com um dos sacolejos, o corpo oscilante do pai pendera para o lado, sobre o colo dela, paralisada, com as mãos para o alto, como se acenasse loucamente para alguém. Não queria, não podia tocar naquela figura fria sobre suas pernas.

- Mãe! Por que a senhora gritou desse jeito?! Olha só o susto que me deu. Poderia ter matado nós todos!! Quer dizer, nós dois...

- Teu pai está no meu colo! Ele caiu!

A voz enrouquecera-lhe.

- E daí? Levanta e arruma ele, ora! Quero ver a que hora vamos chegar no posto. E se o carro não pegar mais?! Ainda bem que falta pouco. Se não pegar, vou ter que pedir ajuda na estrada!

- Não! Vão ver que ele tá morto! Tenta, liga o motor! Eu... eu ajeito ele.

Depois de várias tentativas, empurrões e engasgos, o motor cedeu. Seguiram.

Logo após uma grande curva, surge o posto de saúde.

Prédio acanhado, caiado, pequena sala de espera, meia dúzia de cadeiras velhas e um balcão. Por trás dele, uma jovem entediada.

A sala encheu-se com a presença apressada e suada de Pedro.

- O doutor, cadê o doutor!?

Ela apontou para uma porta fechada e perguntou devagar.

- Qual é o problema?

- Meu pai, meu pai está lá fora, no carro, passou mal! Cadê o doutor?

- Ele já tem ficha aqui? Se não tem, é preciso fazer uma, primeiro.

- Depois, depois! Agora quero o doutor! Cadê ele?

E Pedro já avançava para a porta fechada.

Ela interpelou-o, alto, indo na direção dele que já metia a mão na maçaneta.

- Não entre! Espere! Eu chamo ele!

Bateu com os nós dos dedos, levemente, na madeira.

Pedro, inquieto. A porta abriu-se deixando ver uma cabeça branca sonolenta.

- O que foi? Perguntou a cabeça branca.

- Meu pai! Está mal. Adiantou-se Pedro.

- Onde?

- Lá fora, no carro, falou a entediada.

- Vamos lá, então.

E, naquela pressa de quem não tem entusiasmo, a cabeça e o jaleco brancos seguiram Pedro, que corria.

A mão branca foi colocada sobre a testa do velho, abriu-lhe um olho, pesou-lhe as batidas do coração.

- Meu jovem, nada mais posso fazer. Este senhor já está morto e há algum tempo.

- Não! Não pode!

O grito rouco viera de Honória que ouvira o dito e começara o drama, implorando para que o médico fizesse alguma coisa.

- Perdão, minha senhora, nada mais há a fazer. Melhor será levarem-no para a cidade. Em algum hospital irão orientá-los quanto aos trâmites legais para o caso.

- Quanto ao quê?

- Trâmites. Toda a papelada para seu pai poder ser sepultado. Como levá-lo ao IML, autópsia, atestado de óbito, essas coisas.

- Ah, tá, doutor, pode deixar, vamos fazer isso.

E partiram...

Honória, em pânico, ouvindo falar em autópsia, IML, agitada, tentando segurar o marido pelas roupas:

- Não, Pedro! Esse tal de IML, não! Vão cortá-lo todinho!

- Que outro jeito, mãe?

- Vamos pro hospital, sim, aquele da praia Celeste, mas do jeito que chegamos aqui. Esse médico não sabe nada. Viu a preguiça dele e da moça? Vai ver, nem diploma tem! Só botou a mão no teu pai, nem examinou direito... Vamos pra praia Celeste.

E foram. Rodaram mais um pouco, e o carro começou a engasgar.

- O que foi agora, meu Deus?!

- Gasolina, mãe. Tinha pouco e tá acabando. Vou ter que abastecer, mas onde? O posto mais perto fica dentro dessa vila ali. O da estrada fica longe.

- E empurrar ele, não dá? Eu ajudo.

Honória desceu. O defunto deitou de lado.

Ambos a empurrar o carro, lentamente. Pedro, de pé ao lado, com a porta aberta, dirigia com a mão direita, enquanto também empurrava.

Entraram na pequena vila. Sorte. O posto ficava na primeira esquina. Uns garotos se chegaram querendo ajudar. Honória, muito ligeira, despachou-os. Não precisava, obrigado.

Exaustos, abastecido o veículo, retomaram a estrada.

Ela conseguiu sentar o marido e ficar meio de costas para ele, apoiando-o.

- Vamos chegar lá no hospital, sem nada dizer, ouviu? deixa eles levarem teu pai pra dentro, quem sabe fazem alguma coisa por nós.

- Tá bem, mãe. Mas acho que não vão poder fazer nada também.

- Vamos assim mesmo, não te custa tentar!

Mais alguns quilômetros, Pedro saiu da estrada e entrou em uma rua sem calçamento. Poeira. Virou à esquerda em uma avenida paralela a uma praia de mar azul. Logo viram o minúsculo edifício que chamavam de hospital. Destacava-se entre as casas simples dos pescadores.

De novo, Pedro desceu encenando o mesmo drama. De novo, Honória interpretou o seu pânico real em lamentos e rouquidão. De novo, partiram, com as mesmas promessas feitas ao médico daquilo que não era mais do que outro posto de saúde.

- Agora, não tem mais jeito, mãe. Vamos pro hospital da cidade e seja o que Deus quiser, porque não vai dar pra voltar com o pai pra casa, não acha?

- Ai, meu Deus, me ajuda! Ajuda meu velho a descansar em paz sem ter de deixar pedaços dele em alguma lata de lixo. Eu nunca mais teria sossego nesta vida!

A estrada entardecia, e ela rezava. De costas para o marido, agora, com as pernas meio esticadas sobre o banco. Ele servia de encosto para ela.

Chegaram.

A mesma cena, desta vez com auxiliares de branco trazendo maca e levando o morto para a sala de emergência.

Já sem forças, ambos jogados em um banco aguardavam o médico que voltou quase que em seguida, com cara séria. Os dois já tinham argumentos guardados para convencê-lo a lhes dar os tais trâmites.

- Dona Honória! O que faz a senhora aqui, está doente? Ou o Pedro? O que aconteceu? Estão muito longe de casa! E seu Antônio?

Honória saltou ao ouvir seu nome vindo de uma porta que se abrira no fundo do corredor. Conhecia aquela voz, mas ainda não distinguira a quem pertencia. Ele vestia branco, como o senhor moreno que estava se encaminhando para eles a fim de dar-lhes notícias do paciente.

Os dois de branco se olharam, um fez sinal negativo ao outro. Aproximaram-se e conversaram por alguns segundos. O da voz conhecida deu-lhe um tapinha nas costas. O outro tomou seu caminho de volta.

Agora, mais próximo, Honória tinha certeza de conhecê-lo. Ele chegou-se, colocou-lhe o braço sobre os ombros.

- Sinto muito, dona Honória, mas o seu Antônio... Não podemos fazer mais nada por ele. Lembra-se de mim? Sou filho da sua prima Maria, a que mora na capital. E você, Pedro, como vai? Há quanto tempo! Triste nos encontrarmos assim.

Ela espantou-se por ver que o moleque que ia comer broas de milho na sua casa havia se transformado em um homem tão perfumado, limpo, e que usava roupa branca de médico.

- Oh, menino, o meu Antônio, se foi! E agora, o que eu faço?

- Conte-me o que aconteceu, Pedro.

E Pedro contou-lhe tudo. Ele ouvia sem nem piscar, es-pantado com a narrativa do que fora o dia de Pedro e Honória.

- Mas o seu Antônio nunca lhe disse que tinha sérios pro-blemas no coração? Que já tinha vindo aqui e que se consultara comigo?

- Não, nunca me falou de nada. Era muito fechado. Nem de você ele falou!

- Pois é, se falasse de mim teria de dizer como, onde e por que me encontrou.

- E o meu Antônio, o que vai ser dele? Vai pro hospital pra cortarem ele todo? Pra fazer os tais trâmites? Não deixe isso acontecer, meu filho, não deixe!

- Calma, dona Honória, não se preocupe com isso. Pode deixar que eu tomo as providências. O atestado de óbito, eu mesmo dou, pois ele era meu paciente. Não me procurava muito para fazer o tratamento direito, mas era meu paciente aqui no hospital. Aposto que nunca tomou nenhum remédio que receitei.

- Remédio? Que remédio? Não, ele nunca tomou nada de remédio.

- Pois é. Mas deixe que isso eu resolvo. Pedro, venha comigo, sim? Você vai ter de assinar alguns papéis. Vou orientá-lo quanto ao resto. Seu Antônio vai poder descansar em paz, logo, logo, e inteiro, viu, dona Honória?

Ela sentou-se devagar, encostou-se, fechou os olhos e deixou que o rio contido escorresse pelos sulcos de toda sua vida.

Agora é a hora, ela já pode chorar.

Do livro: Palavras nuas - prosa e verso

lizeteabrahao@terra.com.br