O VESTIDO VERMELHO


Marina era uma mocinha bonitinha, corpo bem feito, era muito tímida e normalmente se impedia de ter amigos.Com muito esforço, às custas da insistência de seus colegas  juntou-se a um grupinho saudável e assim tinha companhia para bailes, cinema, praia e chás dançantes, e com eles sentia-se muito bem e querida por todos.
No sábado próximo haveria um baile de formatura num clube muito famoso na zona sul, onde quase todos os bailes de formatura se realizavam. Marina estava eufórica, iria conhecer o clube, com orquestra e imaginou o quanto dançaria. Ela dançava muito bem, ensinada por seu primeiro namorado. O seu amigo que era o formando do científico (segundo grau hoje) tinha um carro grande, tipo Pagero e levaria toda a turma , Marina seria a última a ser pega no portão de seu prédio, às 20.00h.
A mãe de Marina um senhorinha muito meiga e carinhosa fazia de tudo para ver sua filha feliz. Assim fez para esse baile um vestido lindo, vermelho, justo no corpo, mas muito decente.Era verão e o vestido não tinha mangas e era suavemente decotado.
Marina começou a se arrumar cedo, estava ansiona, queria vestir o vestido novo , pintar os olhos, usar seu novo batom e se por bem linda.
Seu pai havia permitido que ela fosse ao baile, então não lhe passou pela cabeça que daria algo errado. Enfim, toda pronta, com sapato de salto alto, estava linda.
Seu pai nunca chegava cedo, ela nem pensava nisto, estava calma pois desta vez não tinha inventado histórias de conversação na escola, porque o horário não permitia uma mentira assim. Nesse dia seu pai chegou quando ela estava no quarto se arrumando toda feliz.
Próximo das 20.00h saiu do quarto toda lindinha, alegre, um brilho radiante nos olhos e veio para a sala esperar seus amigos.
Quando seu  pai a viu, com seu dedo em riste, apontando para ela falou: Já para o quarto, tire essa roupa para eu rasgar, não vai sair com esses olhos pintados, e trate de tirar esses sapatos altos. Quem disse que poderia usar saltos altos? Não vai mais a lugar nenhum.
Marina foi para o quarto em prantos, lavou o rosto , esfregou com raiva , tirou toda a maquiagem, tirou o vestido, juntou ao sapato novo e pediu a sua maezinha que entregasse ao pai. Vestiu uma camisola, e pediu a sua mãe para avisar aos amigos. Ninguem desconfiava o que ela passava para ir a um simples cinema. Todos pensavam que seu pai era normal.
Marina nunca mais usou nenhuma roupa vermelha durante sua vida. Esse trauma transformou-se em outras situações em sua vida adulta, como insegurança,solidão e passou novamente a viver isolada, sem amigos, ia para o trabalho e voltava para casa, não participava das festas da empresa, Na sala em que trabalhava era a única que na hora da festa ia para casa.
No fim de ano, sozinha, Marina ficava admirando a festa de papeis picados do alto dos prédios, mas ela mesma nunca jogou nenhum.
Marina cresceu, casou, teve filhos mas sempre muito reservada com suas roupas, suas cores, a pintura no rosto Seu pai deixara marcas profundas em Marina, que se já era timida, passou a ser uma pessoa tão fechada em si mesma, novamente sem amigos.  Sem ter que dar satisfação a ninguém, ia muito ao cinema, via muitos filmes, mas não tinha mais bailes, chás dançantes e praia com seu grupo querido. Ela nunca mais viu nenhum deles. Envergonhada, sumiu deles, não atendia o telefone, pedia a sua mãe para dar uma desculpa e na sua vida adulta Marina era aquela mocinha que viu seus sonhos rolarem pelo chão por causa de um pai incompreensível e severo demais.
Deve haver muitas Marinas nesse mundo, mas se os pais (claro tirando uma mãe bondosa e amiga como a de Marina) soubessem o quanto podem prejudicar uma pessoa em formação deixando marcas profundos até sua vida adulta, pensariam duas vezes antes de bater, gritar proibir. Eles deveriam ter mais compreensão e se fosse o caso, acompanhar a filha aonde ela desejasse ir e não ser tão severo a ponto de acabar o respeito por ele e aparecer um grande medo e mais nenhum amor. Quando seu pai faleceu, ela não chorou, ficou triste por ele ter sido tão ruim, mas quando foi sua mãe, ela simplesmente adoeceu, sofreu tudo que se  pode sofrer, chegou ao fundo do poço e somente com a ajuda de um especialista, pode voltar a trabalhar e a viver, mas a vida para ela nunca foi realmente feliz. 
naja
Enviado por naja em 31/08/2010
Reeditado em 03/01/2011
Código do texto: T2470264