O LEITEIRO

LEITEIRO

Estória das Minas Gerais


Joaquim Português era um pequeno proprietário de uma cidadezinha do interior. Tinha uma lojinha de tecidos e ainda vendia leite que produzia em seu sítio. Mas Joaquim não andava satisfeito com o que ganhava, queria muito mais e mais. Por isso, pensou num jeito de aumentar sua renda e ficar ainda mais rico. Ah, ia me esquecendo de dizer, Joaquim emprestava dinheiro a juros altos para os pobres coitados que precisavam resolver problemas financeiros.
Após matutar por muitos dias, descobriu que o leite o qual vendia na carrocinha era muito gordo e se colocasse umas gotinhas de formol para não estragar e um pouco de água aumentaria seus lucros e ninguém iria desconfiar.
Joaquim tinha um amiguinho inseparável: um macaquinho travesso chamado Justus. Todas às vezes que ia vender o leite nas ruas, o macaquinho ia junto para distrair as crianças.
Assim, o leiteiro todos os dias saía à rua para vender o seu leite. Tocava a buzina e gritava: - Olha o leite fresquinho, olha o leite. – Ia passando de casa em casa enchendo as vasilhinhas dos moradores da cidade.
À medida que o tempo foi passando, as donas de casa perceberam que aquele não era o mesmo leite que Joaquim vendia. Não tinha gordura, não tinha aquele sabor natural, Resolveram investigar.
Descobriram que bem escondido lá no fundo do quintal, Joaquim misturava a água no leite, meio a meio, e um produto químico para não estragar, podendo vendê-lo com mais tempo.
Com esta prática, o leiteiro ficaria com o lucro dobrado. Após a venda do leite, Joaquim tinha o cuidado de colocar as moedas na sacola que ficava bem escondida. Se algum dia, alguém descobrisse, ele cairia fora com sua sacola cheinha de dinheiro e longe realizaria seus projetos.
Cientes de que estavam sendo roubados, um grupo de moradores resolveu agir. Foi ao leiteiro pedir-lhe explicações e talvez denunciá-lo às autoridades.
A propriedade de Joaquim ficava próxima de um rio navegável por pequenos barcos. Junto à margem, o leiteiro tinha seu pequeno barco a motor, bem veloz. Era por ali que Joaquim pretendia escapar. Foi o que fez.
Joaquim não tinha mulher, nem filhos. Seus familiares ficaram em Portugal, morava sozinho. Pegou seus pertences mais importantes, a sacola cheia de dinheiro e seu inseparável macaquinho Justus. Saiu pelos fundos da casa com os perseguidores no seu encalço. Ligou o motor e desceu o rio.
Depois de muitos quilômetros percorridos, mais tranqüilo, recostou-se no barco, desligou o motor, respirou fundo e mergulhou no sono. Sonhou com sua terra natal, sua família e tudo quanto podia fazer com aquele dinheiro acumulado anos e anos, produto de sua desonestidade.
O macaquinho Justus vendo seu dono dormindo, não perdeu tempo. Soltou-se da corrente e pôs-se a mexer em tudo.
Não demorou em achar a sacola de moedas. Apossou-se dela e começou a pular de um lado para o outro, fazendo caretas e assobiando. Nisso, Joaquim acordou e deu conta das proezas do macaco.
Justus abriu a sacola por instinto animal, meteu a mão dentro, tirando uma porção de moedas. Por instinto, mordia uma e jogava dentro d’água, mordia outra e jogava no fundo do barco. Esse ritual continuou até a sacola ficar vazia. Metade na água, metade no barco. O leiteiro, desesperado, tentava inutilmente tomar a sacola, mas já era tarde, a justiça já havia sido feita.
Após ter jogado metade de todas as moedas dentro d’água, Justus devolveu a seu dono a sacola vazia. Joaquim pegou a sacola e recolheu as moedas do fundo do barco, humilhado.
Joaquim pensou, pensou. Só tinha metade do dinheiro, não conseguiria realizar seus projetos só com aquela quantia. Se voltasse para a cidade, seria preso e condenado.
Pensou, pensou por algum tempo e depois resolveu que seria melhor reparar o mal que fizera àquela gente.










ateleszimerer
Enviado por ateleszimerer em 01/10/2010
Reeditado em 04/02/2011
Código do texto: T2531097