Fundo da América do Sul Parte 2

- então vieste mesmo! Achei que não lembrarias a data! Disse ele surpreso.

- Como eu poderia esquecer essa data!

- É, estou ficando velho!

- Lembra quando sentamos aqui e colocamos um bilhete na estaca 41? Faz muito tempo; juramos que jamais nos separaríamos, mas esquecemos que o pra sempre, sempre acaba!

- Deixamos as amarguras da vida nos separar; éramos jovens cheios de ideais... Achávamos que poderíamos mudar o mundo, mas o mundo é que nos mudou!

- Será realmente que o mundo nos mudou? Não creio nisso, prefiro pensar que aprendemos a sobreviver no mundo em que vivíamos, todos tínhamos razão em que pensávamos, os dois lados faziam o que achavam que era o certo naquele momento!

- Vamos tentar achar o bilhete que escondemos no passado aqui no trapiche?

- bom... Se conseguirmos achar a estaca certa, tem tudo para ele estar lá nos esperando.

- Mas que diferença vai fazer acharmos ou não o bilhete! O que vai mudar? Nada mais tem importância hoje! Nossas vidas tomaram rumos diferentes, nossas prioridades foram diferentes, o que temos a ver com o que prometemos no passado?

...Quando jovens enamorados

Outubro de 1977

Estava saindo da casa do meu amigo José com o skate embaixo do braço, quando vi aquele cara que recém tinha se mudado para nossa rua, encostado numa pedra e com os pés apoiados em outra que tinha na frente da casa dele, incrivelmente compenetrado em estudos de biologia, quis cumprimentá-lo, mas ele nem me viu passar, subi no skate e fui pra casa cantarolando “give peace a chance”.

Dois ou três dias depois fui passear com meu cachorro Veludo, e por azar resolvi tirar a guia do pescoço dele e o f.p., viu uma cadela do outro lado da rua e saiu correndo, pronto estava feita a merda uma Kombi atropelou ele e fiquei sentado no meio fio chorando sem saber o que fazer olhando ele de língua de fora esvaindo da vida, tão curta que teve; A mãe do novo vizinho vinha passando e achando que eu morava na casa de meu amigo José levou-me até lá, e deram-me um copo de água com açúcar, e me levaram pra casa muito triste.

À tarde alguém bateu na minha porta, era meu vizinho novo! Perguntando se eu queria ajuda para enterrar meu cachorro, fiquei surpreso, mas aceitei, então vamos lá disse ele, já com uma pá na mão.

No caminho ele se apresentou como Marcos, e que tinha se mudado para a vizinhança, e fomos conversando pelo resto da tarde esquecendo um pouco a amargura da perda do cãozinho, começou uma amizade que seria fiel até o fim.

Tínhamos diferença de uns quatro anos, mas gostávamos das mesmas coisas, viajar de carona, acampar, pescar e rocking roll muito rocking roll, estava no auge as festas de garagem com a disco music, e nós dois organizávamos festas todos os sábados em minha casa, certa vez numa das festas havia uma loira que já conhecia o Marcos, então ele resolveu tirá-la pra dançar ao som de “Baby come back”, os olhares se misturaram à música se cristalizou e vi que naquele momento nos tons do jogo de luz a rosa estava desabrochando para o amor eterno dos dois foi quando se beijaram e para dar um toque diferente na música eu tranquei o vinil com a mão (para dar uma esticadinha na música), foi quando os dois me olharam e ele disse:

- Pô magrão qual é?

Mostrando o copo de vinho; fiz que não tivesse entendido.

JorgeBraga
Enviado por JorgeBraga em 09/03/2011
Reeditado em 04/06/2011
Código do texto: T2836816