Fundo da América do Sul Parte 7

Fui para escola, louco para perguntar o que significava a palavra ANISTIA para o professor de história, Humberto Canarin, ele tinha uma baita barba negra, uns óculos fundo de garrafa, uma abertura entre os incisivos, e dono de um conhecimento literário invejável, era um professor que dizia aos alunos para abrirem em tal página do livro e começava a narrar o texto sem ter aberto o seu livro! Era uma pessoa muito inteligente; No meio da aula levantei a mão todo ansioso por uma resposta que me convencesse que eu estava certo do que tinha lido nos manuscritos do Vitor, o professor olhou-me com um ar de surpresa e amarelou de repente;

- Não entendi tua pergunta Carlos! Com ar de admiração.

- Professor, eu ganhei um decalque de um amigo com essa palavra, mas não estou muito certo do que ela significa.

- Bem alunos acabou a aula, Carlos tu fica, pois temos que conversar.

Depois que todos saíram da sala ele me chamou em sua mesa e perguntou:

- De quem ganhasse esse decalque?

- Um vizinho me deu professor!

- Não podemos falar sobre essas coisas em público, é muito perigoso, as paredes tem ouvidos!

- Mas...

- Não podemos conversar aqui na escola sobre política; faz o seguinte tens que perguntar para teu vizinho o que significa, ou melhor, o que ele quer que tu entendas sobre esses assuntos de “adultos”, pois ainda és muito jovem para pensar em política, agora vai indo...

- Mas...

- Nem mais nem menos, estou atrasado para dar aula na outra sala, tchau.

Já saindo na porta ele olhou para trás e disse:

- Não tenta te envolver com esses assuntos! As diretas estão chegando e o País vai respirar melhor, é só uma questão de tempo, vai pra casa!

- Ele nem deixou eu dizer que o Vitor tinha fugido! Pensei.

Meu pai andava estranho, muito nervoso em casa parecia que estava fugindo de algo, eu não entendia o que estava se passado!

Estava começando a ficar desconfiado que ele também fosse um subversivo (palavra bonita!).

Ele não dava atenção para minha mãe, estava sempre com a mente distante de nós!

No sábado convidei toda galera para fazermos o primeiro ensaio da banda na casa de Vitor, foi o máximo, ninguém para nos incomodar pelo volume!

... Comecei a perceber que aqueles escritos dariam boas letras de músicas, e que eu poderia fazer com que as pessoas às ouvissem e ao mesmo tempo burlar a censura que estava por toda parte; então começamos a musicá-las para um festival que teria no final do ano ficaram todas muito boas; e o pessoal da banda gostou do resultado.

JorgeBraga
Enviado por JorgeBraga em 24/04/2011
Reeditado em 04/06/2011
Código do texto: T2928373