Fundo da América do Sul Parte 9

Foi quando parou em uma fazenda um homem desceu para abrir a porteira, o carro passou, o homem entrou no carro e andamos mais um quilometro mais ou menos; nesse momento começou minha ira e desilusão por tudo e por todos inclusive por meu pai! Tiraram-nos do porta-malas e um dos homens disse, se referindo a mim, esse ai não podemos tocar muito, deem uns tapas nele e coloquem no pau-de-arara para ele passar a noite refletindo onde ele esta se metendo, e que da próxima vez ele poderá não ter a sorte de seu amigo, então levei um soco violento no rim que me urinei todo, e já no chão levei uns pontapés e acabei desmaiando; não sei por quanto tempo fiquei desacordado, fui acordado pelos berros de Pablo que estava não muito longe, acredito que a algumas peças do local onde eu estava, me dei conta que estava com o capuz e no pau de arara. Os gritos dele dizendo que apenas estávamos comemorando a baixa do quartel e que não tínhamos nada a ver com nenhuma facção contra o governo, mas os homens diziam que não acreditavam nele e todos os terrores de gritos e pedidos de clemência ouvi naquela noite; pareceu-me que aquela seção de tortura que durou a noite inteira terminou quando ele já sem força alguma para gritar implorou chorando para que não fizessem aquilo com ele, mas não adiantava os homens estavam imbuídos em aniquilar com o moral dele e disseram:

- Não adianta chamar pela mãe, seu merda, eu vou te estuprar para quando pensares de novo em te juntar com teus amiguinhos penses duas vezes, lembrarás para sempre de como foi ser “mulherzinha” de macho como eu. Então ouvi os gritos dele, gritos de alguém violado, alguém sendo subjugado, perdendo todo seu caráter, gritos que eu ouviria por toda minha vida. Jogaram-no em um quarto onde só ouvia seus soluços, adormecendo de tanto apanhar.

Pela manhã, me tiraram do pau-de-arara, me mandaram tomar um banho, me obrigaram a tomar um café farto, depois entrou acredito que o chefe deles, que logo reconheci a voz, na sala e me disse:

- Tens muita sorte meu amigo de ter o pai na posição que tens! Se não terias conhecido meu cajado ontem à noite também, por mim terias tido o mesmo tratamento, mas veio ordens lá de cima para não te tocarmos, por enquanto. Te cuida, da próxima vez poderás não ter a mesma sorte que tivesse ontem a noite, aliás, meu jovem, a noite passada não existiu para ti, jamais estivesses aqui, jamais comente sobre ontem ou sobre nós, para teu próprio bem; nesse instante colocaram-me o capuz, levaram-me até a cidade, tiraram o capuz e mandaram eu descer, já na calçada o homem me chamou e dando dois tapinhas em meu rosto falou:

- jamais existiu a noite passada, jamais visse qualquer um de nós, tchau “florzinha”; arrancaram o carro e eu fiquei ali, desnorteado, sem saber o que fazer, o que tinham feito com Pablo? Estaria vivo? Iriam soltá-lo? Então sai do estado catatônico e cai na real, foi quando me dei conta em que parte da cidade estava, haviam me largado no meio da Z3, eu não tinha dinheiro algum, entrei em um bar e perguntei ao dono do estabelecimento se poderia me emprestar um telefone, mas me dei conta de para quem eu iria liga? Para meu pai? Naquele instante me dei conta de que ele de alguma forma estava envolvido naquela nojeira toda! O que fazer? Sentei-me perto de uma janela que dava de frente para a lagoa, que se parecia calma, silenciosa e totalmente à parte, do que estava acontecendo, o sol vinha de mancinho como que para iluminar meus pensamentos; alguns pescadores estavam arrumando suas redes, outros já estavam manobrando seus barcos para irem pescar, eu estava totalmente perdido em meus pensamentos; tinha medo de contar o que havia acontecido, e voltarem a me seqüestrar, ou pior pegarem minha irmã ou minha mãe que eu amava tanto! O que fazer meu Deus?

No desespero chorei.

Resolvi ligar para minha mãe, mas não contar-lhe nada, por enquanto, dizendo que ia passar uns dias na casa de alguns amigos, ela ficou muito brava, e disse:

- Mas e o emprego que teu pai estava arrumando pra ti meu filho?

- Mãe, esse emprego pode esperar um pouco, estou a recém saindo do exercito, gostaria de passar uns dias aqui para refrescar minha cabeça, certo?

Com um pouco de resistência a mãe relutou, mas acabou concordando.

- Certo, vou avisar teu pai que vais passar uns dais fora de casa; naquele momento meu ódio aumentou por meu pai.

JorgeBraga
Enviado por JorgeBraga em 17/05/2011
Reeditado em 04/06/2011
Código do texto: T2976117