Fundo da América do Sul Parte 10

Depois liguei para Valquíria, que gostava de falar sobre como estava à situação do País e eu sempre acabava não dando muita bola para o assunto. Pedi a ela que fosse me encontrar lá na colônia Z3, ela disse que poderia, mas tinha algumas coisas para fazer antes, mas assim que se liberasse iria me encontrar.

Já era perto do meio dia e Horácio, o dono do bar me convidou para almoçar com ele, um peixe fresquinho, que tinha sido pescado naquela manhã; no meio do bate papo, quando já tinha ganhado minha confiança, ele interpelou:

- Vi que te deixaram aqui, os homens do Simpala preto!

Fiquei com vergonha.

- Não se preocupe, pois direi nada a alguém, seguido eles desovam pessoas aqui, tens que agradecer a Deus por estar vivo, geralmente eles largam mais adiante os defuntos, enterram em valas comuns, mas quando não da tempo, o amanhecer esta perto ai eles largam os corpos de qualquer jeito mesmo.

- E alguém faz alguma coisa? Perguntei indignado.

- Estamos saindo de um período muito conturbado em nosso País, parece que estamos caminhando para uma democracia, mas isso acredito que ainda haverá turbulência no caminho; Eu dava aulas na Universidade Federal até pouco tempo de filosofia, mas desencantei de tal forma com nosso País que pedi demissão e comprei esse boteco aqui, e estou vivendo bem melhor aqui com minha esposa e filha, todos os dias vejo o pôr-do-sol, tomo meu chimarrão, costuro as redes para os pescadores, cuido da família, da casa, e leio e escrevo meus livros.

- Pois é, depois da noite passada, minha vida virou de pernas para o ar! Meu amigo foi torturado até a exaustão, não sei se ele esta vivo ainda, se precisa de ajuda, e o que esta me incomodando muito é saber que meu pai direta ou indiretamente esta envolvido com essas pessoas!

– Estou perdido.

- Calma, acharemos uma saída para tudo, lembre-se, que sempre começa uma nova fase em nossas vidas, e temos que estar preparados para olhá-la como um começo, e não como um fim de algo fracassado; e como vamos nos preparar para enfrentá-la da melhor maneira possível.

Refleti sobre aquelas ultimas palavras, e me deu certo animo; eu tinha que ter sobriedade para raciocinar com tranquilidade.

- Vou dar uma caminhada pela praia quando Valquíria chegar diga que estarei no trapiche ok?

- Certo Carlos, vá e tente oxigenar sua mente, tu precisa olhar para frente e não no que aconteceu ontem, mas sim o que com ontem tu poderá melhorar o futuro.

Passei a tarde caminhando entre aquelas casas humildes, como se ali fosse um outro País, como se aquelas pessoas só conheciam o Brasil às oito horas da noite quando se ligavam os televisores para ver a novela! Eles viviam como que só da pesca, iam à cidade, que para eles era uma distância grande, em situações extremas, se não, ficavam ali mesmo, na colônia Z3 deixando suas vidas passarem calmas como a maré da lagoa.

JorgeBraga
Enviado por JorgeBraga em 25/05/2011
Reeditado em 04/06/2011
Código do texto: T2992022