Fundo da América do Sul Parte 16

Enquanto isso em Pelotas...

Tínhamos que continuar com a idéia da banda, de tocar e fazer as pessoas se acordarem de que aquele momento iria ficar na história, não adiantavam pau-de-arara, torturas,... Aqueles horrores tinham seus dias contados.

Arrumamos muita confusão com as poesias musicadas de Vitor, mas valia a pena, depois do show sempre tinha um grupo de cabeludos que se juntavam com a gente para beber e falar de como estava à situação do País naqueles dias, sempre saia bons papos!

Naquela noite resolvi ir a pé para casa, Na madrugada, sempre andávamos em grupos, mas, resolvi sair de fininho e ir embora sozinho, eu tava bem alto do chão, cantarolando “Give peace a chance”, quando estava passando sobre o canal da Praça Vinte de Setembro, ouvi uma freada estridente, era o simpala preto, parou abriu as quatro portas e saltaram quatro homens de pistolas e metralhadoras na minha direção, eu meio bêbado tentei ficar sóbrio mas não dava! Foi quando pensei que estava fudido; só tinha uma chance, pular no canal, mas bêbedo do jeito que eu estava iria morrer afogado.

Ai pensei:

- Antes afogado do que no pau-de-arara! Olhei bem lá para baixo dei uma baforada forte no cigarro, atirei ele no chão, limpei os lábios, dei uma risadinha de adeus, numa corrida meio em zigi-zagi, pulei, só que esqueci que tinha o para peito lá embaixo, no momento que cheguei ao concreto ouvi um estalo extridente, e uma dor insuportável, acabei caindo sentado, não conseguia mexer a perna direita; Ouvi umas três ou quatro balas zunirem por mim e estouraram no concreto que eu havia descoberto que era muito duro! Foi quando ouvi uns gritos:

- Mata ele, mata! Gritou um dos homens do simpala;

- Ei vocês ai, não atirem, ele é meu amigo, pô! Era a turma chegando; Como eu estava muito bêbado eles resolveram sair atrás de mim pra me cuidar!

Os homens entraram no carro e saíram cantando pneus, não queriam testemunhas, mas por azar não conseguiram fazer a curva e acabaram caindo no canal, nisso meus amigos já estavam descendo o barranco para me ajudar, quando tentaram me levantar percebi que tinha feito uma fratura exposta na tibia da perna direita! Doía muito e era muito difícil me tirarem dali; os homens estavam se debatendo na água quase se afogando quando começou a juntar de pessoas em cima da ponte, um de meus amigos começou a atirar pedras no carro que estava afundando lentamente, mas estava muito escuro não acertava nem uma, foi quando pedi para tentarem me tirar dali, e acabei desmaiando da bebedeira ou da dor...

Quando acordei no hospital, já tinham feito à cirurgia e colocado um pino, que eu carregaria o resto da vida como um amuleto no pescoço. Meus pais estavam no quarto, tinha dado tudo certo, não ficaria com seqüelas. Meio tonto perguntei o que tinha acontecido com os quatro homens do carro, alguém falou que haviam conseguido fugir em uma Kombi que foi resgatá-los e saiu do local cantando pneus também; Me virei pra parede e adormeci, sentindo a mão de minha mãe arrumando meu cabelo e choramingando.

- Pobre do meu filho, o que esses homens queriam contigo! Tonto de morfina, me senti seguro.

Meu pai abraçava minha mãe, e estava com o rosto desfigurado!

JorgeBraga
Enviado por JorgeBraga em 14/08/2011
Reeditado em 14/08/2011
Código do texto: T3159406