SONHOS
 
Nunca sonhei com minha avó materna. Esta noite sonhei. Ao acordar pense: “ Deus está olhando por mim”. Porque numa dessas noites que passou, sonhei com minha querida mãe que veio e deu-me um forte abraço, que pareceu estar mesmo junto dela quando em vida.
Esta noite sonhei com minha avó que muito amei apesar de ainda ser uma pequenina menina.
Sempre falei que não lembrava de minha vida quando criança, mas com o tratamento psicológico, devagar venho lembrando de situações às vezes engraçadas e outras tristes. Mas não quero falar de tristeza.
Quando minha avó veio de Portugal para o Brasil, já tinha dois filhos, um menino e uma menina. Minha mãe foi encomendada em Portugal, mas veio nascer no Brasil.
Chegando aqui, minha avó comprou uma casa antiga, muito bonita e grande demais.
Quando minha mãe casou, ficou morando um bom tempo com ela. Minha mãe também teve três filhos, eu era a mais nova. Mudamos da casa de minha avó quando meu pai comprou um apartamento na Tijuca, mas vou falar do tempo que moramos todos juntos naquela casa tão bonita. A casa era antiga, as janelas e portas eram muito altas e na frente da casa, todas as janelas/portas  tinham uma varanda. Lembro que eu e minha irmã éramos levadas e nos dias de chuva íamos para a varanda e cuspíamos nos guarda-chuvas de quem passada embaixo.
A casa era alta, havia uma serie de degraus para subir.
Um dia minha mãe nos pegou fazendo isso e nos deixou de castigo sem poder brincar e nos proibiu de chegar na varanda. Aquilo era uma grande distração para nós que ríamos muito. Mas ficamos uma semana sem poder brincar.
Como eu era a mais novinha, meus irmãos também gostavam de fazer brincadeiras comigo e se divertiam.
As portas e janelas sendo muito altas , eles diziam que à noite elas viravam monstros
Eu morria de medo e chorava. Para não contar a minha mãe, meu irmão dizia que se eu dividisse com eles as balas bonecos que havia recebido de meu padrinho, ele faria com que as portas não virassem monstros.  Então, eu dividia as minhas balas com os dois. Criança sabe inventar histórias muito bem e como eu era bem novinha, deveria estar com uns cinco anos , no máximo, acreditava em tudo. Vivemos lá até meus sete anos.
Minha avó fazia doces em calda os mais diversos e nós ficávamos atormentando até que ela nos desse um pouco de cada um. Nunca soube o que ela fazia com aqueles doces maravilhosos acredito que ela vendia, mas antes de colocar nos vidros, já separava uma porção para nós.
Nos banheiros que eram quatro, havia banheiras e chuveiro. Eu e minha irmã enchíamos a banheira e brincávamos de navios, com barquinhos de papel. Fazíamos uma bagunça sem limites, mas minha mãe estava trabalhando e minha avó não brigava com a gente. Mas ficava atenta para não nos machucarmos.
Quando mudamos daquela casa imensa para um apartamento de dois quartos nos sentimos muito mal. Não tínhamos onde fazer tanta bagunça, nem os doces de minha avó.
Minha mãe deixava-nos brincar no nosso quarto, mas não era a
mesma coisa.
Por uns tempos vi que minha mãe, estava muito triste e chorava muito. Só depois de uns dias é que ela falou que nosso avô havia morrido, estava no céu.
Meu avô nunca reclamou de nossa algazarra, era excelente e quando mudamos ele fez minha mãe prometer que iríamos para lá nos finais de semana. Naquele tempo as pessoas não iam muito além dos sessenta anos.
Enquanto ele viveu minha mãe cumpriu a promessa e isso para nós era um presente. Minha avó foi logo em seguida. E desta vez, acabava nossa farra naquela casa grande e bonita onde as portas viravam monstros se eu não dividisse minhas balas boneco com meus irmãos.
Essas lembranças são maravilhosas, éramos levados, mas avó e avô como dizem é para deseducar os netos.
Tive uma infância muito feliz na companhia deles, bons dias, belas lembranças.
naja
Enviado por naja em 09/11/2011
Reeditado em 26/09/2015
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