Sex animal

“O elemento genético produz modificações ao largo do desenvolvimento da humanidade”. A estranheza das cruzas deve ter libertado na geografia humana as diversas linhagens da escala zoológica. Darwin não se ateve à sexualidade humana como preceito analítico. Precisamente procuramos obscurecer todo e qualquer vestígio dos componentes animalescos da existência humana. Consagramos diferenças no plano mágico como um desenho abstrato demais para que o espelho real das origens nos convença de nosso parentesco animal.

Há pouco tempo, lembrou-se com clareza, certa atriz notável do cinema americano guardou a própria placenta para consumir aos poucos as vitaminas necessárias aos seu fortalecimento. Ela destacou-se na imprensa como anomalia, e para se defender replicou: somos os únicos mamíferos que evitam esta suculenta recuperação natural. O artifício melhorou a humanidade, mas também lhe roubou os aspectos naturais instintivos como parir, lamber a cria, cortar o cordão umbilical com os dentes. O nojo tomou conta de celebração moral em, que vivemos.

Não quer com isso, escreveu em sua página, posicionar a visão que tenho dos fatos como certa ou enganosa. Pretendeu apenas mergulhar no tabu como homem culto. Envolvido certamente na temeridade. Poderia estar sendo vigiado por certo, diante da ausência de liberdade em que mantemos a mentalidade dos adultos atrelados a indigência das revelações meramente espirituais.

O bestialismo está no cerne oculto da razão humana. O passado remoto jamais distinguiu gênero, sendo esta a visão antropológica ancestral e os acidentes da metamorfose. Afinal, como foi o homem no começo? Como existiu durante o período não verbal? Mergulhava nestes reflexos até se deparar com o primeiro computador. Pressentiu que poderia pesquisar isoladamente, sem riscos de ser considerado um “tarado” a ponto de ir vasculhando páginas indecentes sem receios da vigilância. Com o tempo descobriu que estava sendo controlado à distância e teria poucas chances de defesa diante do caso que envolve pouquíssimas explicações além da ciência.

O sexo animal por si só possui diversas interpretações em linguagem de máquina. Começou a observar todas as que disponibilizavam documentos de ordem antropológica ligada a sexualidade humana, mesmo sendo tomadas como desvio de conduta. Partiu delas a compreensão do homem remoto através de uma nova pergunta: por que o computador abrigou tais documentos como nenhum outro meio? Nenhum outro meio de comunicação tratou este tema de modo tão explícito. O que querem dizer? Que verdade há em tais ocorrências? Freud tratou um caso de bestialismo em seus estudos. Tivesse vivido mais se embrenharia pela internet atrás desses relatos.

Em termos de sexualidade há apenas duas correntes. A liberal e a repressora. Não há meio termo sem profundas neuroses. Agora estava ali, diante do psiquiatra, tentando explicar suas incursões neste tema confuso. Temia ser confundido com o objeto da pesquisa graças à lente moral. Estava avançando em sua literatura que continha análise profunda de pessoas que se entregavam a tal prática. Há nisto visivelmente um tempo remoto oculto nas ações humanas.

Abandonou o psiquiatra. Procurou aliado na psicanálise. O doutor Aranha Pimentel, psiquiatra, desejava lhe receitar medicação psicotrópica para diminuir a ansiedade, como se julgasse antecipadamente certa propensão para experimentação anômala. Riu e desistiu daquela presença esdrúxula. Se assim fosse confundiria o nome do médico com o objeto de suas indagações, pensou alacremente.

Crimes representam verdadeiras conotações deste período arcano revelado sem pudor à sociedade. A sociedade fareja a distância o cheiro de sangue através dos fatos televisivos. O criminoso sabe que poderá ser levado ao plano de espetáculo. Reconhece na carnificina um efeito de respeito indevido sustentado pela origem animal enraizada em todos. Talvez fosse hora de revelar seus estudos, todavia sabia que estamos vivenciando a sociedade vazia de especulações. Vivenciamos a era da superfície em que as exceções procuram rever do homem certa nutrição remota de humanidade livre. O tempo impede a reflexão profunda como se a sociedade fosse inteiramente composta de mentalidades infantis governadas pelo poder da idiotia. Reflexivamente pobres jamais estaríamos preparados para compreender os elementos expostos como elo de relação entre primitivos indígenas e nossos homens de terno e gravata em plena ação na bolsa de valores.

O receio de abrir livremente as páginas da web começou a preocupar a sua condição adulta. Poderiam facilmente lhe chantagear com rastreamentos ou novas modalidades de confusas interpretações. Examinava o conteúdo vulgar e toda a vez que entrava em contato com tais registros, começava a construir em si, um espaço sábio de conhecimento atávico. Sabia que a própria loucura começava na fragmentação da identidade através da confusão erótica entre possuir uma face comum até perdê-la no desejo animal instintivo. O giro da antropomorfia nada mais é do que a mescla de fatores ligados entre homem versus animal. A única metamorfose adquirida como subjetividade e transformação.

Agora estava na mira de si mesmo diante das muitas incursões sobre o tema. Sabia que no conjunto daquelas imagens em filmes, múltiplas fotos, todo estoque de material continha grandes revelações sobre o tema elaborado. Finalmente compreendia a fingida liberdade cerceada pela moral impeditiva como processo vantajoso. A curiosidade de W. seria medida com uma condenação fria de máquina. Mas ali está a metamorfose... O espaço de não ser e estar ao mesmo tempo perdido no passado remoto que retorna como traição absoluta de valores. Mesmo sobre a repugnância estagnada, irrefletida, porém toda reflexão é como a luz do ouro, ainda que com o risco da estupidez no tempo moral das atribuições famintas de carne ao circo.

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Tércio Ricardo Kneip
Enviado por Tércio Ricardo Kneip em 07/06/2012
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