UM DIA É DO PRÍNCIPE; OUTRO, DA DONZELA

Marinilza, noiva de Armando, era moça romântica e sonhadora... bem ao contrário do noivo atlético e machão, que desperdiçava beleza com a rudez de seus pensamentos expressados a grosso modo. Armando sempre dizia o que pensava (só pensava tolices), e não tinha filtro ao dizer. Como se fosse pouco, destilava zombaria e veneno, toda vez que Marinilza expressava o seu romantismo.

Um dia, Marinilza disse ao noivo que sempre sonhara com um príncipe montado num cavalo branco. Era um príncipe tão belo e forte quanto ele, mas um príncipe: galanteador, gentil, romântico e disposto a roubá-la. Ele a tomaria nos braços, delicadamente a pousaria em seu cavalo e tomaria rumo ignoto. Para ela, bastaria viver um momento assim, que valeria por todo o sempre. Desnecessário dizer o quanto Armando zombou daquele desejo fantasioso.

Não acredite se não quiser, mas esse dia chegou, para grande surpresa de Marinilza e de todos que acompanhavam a longa e monótona história de seu namoro e noivado: vestido a caráter, cheio de gentileza, galanteios e romantismo, seu belo príncipe surgiu montado num grande cavalo branco e a chamou do portão, com voz potente, porém aveludada. Na mão direita, um mosquete como não se vê a qualquer hora, muito menos em qualquer lugar.

Tímida e com as faces ruborizadas, Marinilza despertou do leve sono da tarde, sem perceber imediatamente o que ocorria. Lá fora, dezenas de pessoas rodeavam aquele príncipe, curiosas e ao mesmo admirando a coragem repentina de tanta exposição por uma donzela. Uma donzela que também teve coragem de chegar ao portão, e sem a menor cerimônia, expressar com sinceridade o seu sentimento:

- Mas que coisa ridícula... que papelão, hein, Armando!?

Demétrio Sena
Enviado por Demétrio Sena em 18/11/2013
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