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Ana, uma linda mexicana, cheia de sonhos e naturalidade, vivia a esperar quem a fizesse feliz. Era ainda jovem, lançava olhares de esperança até os horizontes que conseguia alcançar. A vida lhe sorria, era bela, inteligente e finalmente o amor em seu coração havia chegado e nele acreditava piamente. Sim, ainda seria muito feliz!
Trabalhava como enfermeira num pequeno hospital do interior e sempre vestida de branco, impecável, assim como suas outras vestes, também brancas, pois era a sua cor preferida, ela era a imagem da pureza. Havia conhecido o jovem, dono de seu amor, quando ele levou ao hospital um soldado ferido na luta que se travava não muito longe dali . Ele também era soldado, a luta era contra rebeldes que tentavam tomar aquela região onde os tempos antes eram bem tranquilos. Depois de o conhecer ficava cada vez mais preocupada com o que se passava lá adiante, atrás das colinas verdejantes da linda San Luiz. O rapaz era tenente, chefiava uma pequena tropa e a partir daí ela sabia do risco que o mesmo corria. Pouco o via e dele recebera, na verdade, poucos carinhos porque não haviam tido tempo. A guerra afastava os amantes que prometeram-se muitos encontros quando houvesse pequena trégua e esta finalmente veio. Foi numa tarde de final de domingo que ela estando de folga o esperava em sua casa. O dia terminou e rapaz não apareceu, segurou a ansiedade e preparava - se para jantar quando o telefone tocou. Era do hospital, algo havia acontecido e precisavam mais pessoas lá para ajudar. Vestiu-se com seu impecável uniforme branco e foi correndo ao local. Haviam vários feridos no corredor, soldados quase massacrados pelos inimigos. Foi olhando o rosto de um a um, rezando sem parar e foi aí deparou com um deles, muito ferido, quase irreconhecível. Era o seu amor, ali, tombado e já moribundo. Correu a ajudar, mas nada mais foi possível, ele morreu sem a ver ou teria pressentido sua presença e não conseguira demonstrar. Desde então, ela cumpre sua rotina, seu trabalho, mas parece sempre absorta, à espera de um milagre, o regresso de quem partiu tão cedo e tragicamente. Os anos passaram e nada mudou, em sua cabeça reverberam as palavras do bilhete que encontrou no bolso dele:
  
Para Ana,
De branco, qual pura nuvem abstrata
a encontrei, és meu verdadeiro amor,
serás para sempre minha amada,
mesmo que a guerra leve-me em dor

26/07/16




Publicado em Antologia do Peapaz

 
Marilda Lavienrose
Enviado por Marilda Lavienrose em 27/07/2016
Reeditado em 16/12/2021
Código do texto: T5710482
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