DO ENCONTRO I

DO ENCONTRO

Foram para casa dela testar suas habilidades. Por muito tempo ela não se permitiu encontrar novas aventuras. Por longa data Jack não entregava-se ao prazer de uma bela noite travestida com seu mais belo e longo vestido escuro. Ela se assemelhava à noite, pois sua posição de resguardo não a deixava que revelasse qualquer aspecto de sua vida. Seu interior propunha algo escuro do qual nada se via, ao menos se fosse de seu desejo revelar o que se mantinha oculto por de trás da sua fachada humana. Já a observava algum tempo desde que ela passou a frequentar o bar do Almir ali próximo da Universidade onde ambos estudavam. Entretanto toda aquela obscuridade que exalava de seus olhos deixou Jack impotente diante qualquer iniciativa. É preciso conhecer ao menos pouco o terreno que se deseja conquistar. Quando da hora certa previamente calculada fez tudo parecer obra do mero acaso, esbarrando em seu copo de whisky.

--- Ohh! Desculpe-me! --- Jack esbarra o braço contra o dela, o mesmo que encaminha whisky para degustação ocasionando desperdício mínimo sobre seu vestido.

--- Não tem problema --- Responde de imediato sugerindo uma fala mecânica, sem ter de pensar muito para respondê-lo.

--- Deixe que eu mesmo limpo --- Busca por seu lenço em paletó de brechó já fora de moda. A mania em carregar consigo o lenço florido já o configurava num estilo a margem do usual e corriqueiro. Ela o permitiu diante da primeira abordagem que encostasse sobre seu traje de mulher.

--- Já está ótimo, obrigada --- Levanta brevemente o rosto para sútil análise daquele que acabara de tocar seu corpo --- Então, como se chama?

--- Dentre os muitos nomes que tenho prefiro Jack --- Jack acaba instigando a curiosidade da moça --- E você?

--- Eu sou Gabriela, mas pode me chamar de Gaby --- Interage companhia esticando sua mão direita até próximo da mão de Jack, a mesma com copo baixo e duas doses de conhaque.

--- Prazer minha cara --- Jack retorna o cumprimento, mas antes passa o copo com cuidado para outra mão e do resultado entre o toque de sua pele nua surge um brilho intenso em meio a nebulosa que há em seus olhos. Com sua voz tremula e desajeitada pergunta.

--- Quem é você? --- Encarando-o de forma apreender cada efeito diferenciado dos muitos traços que envolvem seu rosto. Jack sorri como se já esperasse por pergunta indiscreta.

--- Eu sou o tempo, eu sou o ponto de espera, eu sou o olhar debruçado na eternidade ... --- Antes que Jack pudesse concluir a frase é interrompido com o sussurro.

--- de sua janela! --- concluiu Gaby pasma com que acabara de ouvir daquele desconhecido --- Como soube?

--- Foi fácil. Há vi lendo trechos do livro “JANELA SECRETA”, num ponto de ônibus do campus outro dia. Esta frase foi a que mais me chamou atenção. --- Ela o encara sem mover nenhum músculo esquecendo até de seu vestido molhado pelo whisky. --- Já concluiu ele?

--- Já --- demora um certo tempo para compreender toda aquela ocasião. Um homem de roupas estranhas aparentando meia idade, com sorriso misterioso sobreposto ao canto direito da boca, sem traços de tatuagens, pouco comunicativo, mas direto ao ponto com classe --- Você já me viu outras vezes então? Por que não conversou comigo?

--- Um encontro não se resume apenas a um encontro é preciso que algo mais se encontre dentro de nós --- Gabriela se sente incomoda com a forma e ocasião com que as coisas aconteceram, achou tudo muito bem orquestrado por um maníaco talvez, entretanto a vós, olhar e seu toque não pareceram de um maníaco.

--- Nossa até esqueci de meu drink, vamos brindar por mais ocasiões como esta, embora deva confessar que seja muito estranho brindar com um desconhecido --- Jack sorri demasiado.

--- Claro, um brinde a momentos como este, afinal o momento certo é apenas uma questão de oportunidade --- Jack levanta seu conhaque para o alto e se permite ouvir o tim dos copos como se fosse o sinal de que tudo havia ocorrido como planejado, embora saibamos que há muito de improviso em seus planos.

continua...