Sonho
Sonhara casar com um príncipe encantado. E jurou que o esperaria. Jurou que morreria solteira, quem sabe virgem, se não o encontrasse. E ela o desenhava na mente. Lindo, charmoso, e tão carinhoso. Ela sonhava.
Já ele era arquiteto. Casaria e teria filhos. Uma mulher amiga, fiel e dedicada. E linda, claro. Nem se incomodaria de ser fiel com ela. Nunca tinha sido. Ele amaria sua família, e levaria todos no parque no domingo. Ele planejava.
Ambos foram naquele dia, primeiro de junho, e naquela hora, lá pelo fim da tarde, na mesma padaria.
— Um sonho, por favor.
— Um sonho. De creme pra mim.
— Desculpe, porque não pede de doce de leite?
— Ah? Não. Engorda.
— Mas creme não?
— Mas creme parece engordar menos.
— Mas a vida é assim mesmo. Não dá pra fugir do destino...
— Hum, filósofo...
— Ah, não! Não sou de filosofar. Mas sei de algumas coisas, entende?
— Sei...
Silêncio.
— Posso te fazer uma pergunta?
— Não sei. Não sou intima de você. Será que não está sendo meio impertinente.
— Não estou sendo, e sei disso.
— Por que tanta certeza?
— Porque você está sorrindo...
Ela sorriu mais ainda. Ele mordeu o sonho, sujando a cara de doce de leite.
— O que quer saber? Meu telefone? Aposto!
— Não. Queria saber se você sabe porque chamam isto de sonho. Você sabe?
— Não sei. Será porque é doce? Sei lá!
— É. Deve ser. Mas é um nome bonito.
— É sim.
Silêncio. Um mais longo.
— Já vai?
— Sim, por que?
— Nada. Foi um prazer conversar com você.
— Também gostei.
Ela ia saindo da padaria, comendo um sonho e lavando pão quente para casa. Ele ficou ansioso. Um pouco nervoso. Saiu com pressa da padaria. Ela estava parada na calçada esperando pra atravessar a rua.
— Amor.
— O que? — ela sorria abertamente.
— Os sonhos deviam se chamar amor. É... um bom nome.
— É sim. Muito bonito.
— É...
— Tchau. Tenho que ir. Pra casa, sabe? Tchau...
— Tchau...
Ela atravessou a rua. Ele ficou parado do outro lado. Seguiu ela com os olhos. No dia seguinte se encontraram de novo. Assim que ele a viu sorriu, e tremeu, e suou, e ficou nervoso. Os olhos dela viraram estrelas de brilho castanho quando ele chegou perto.
No domingo irão ao parque. Será que vão andar no carrossel?