A Saga de Constâncio e Fabiana (5)

Fabiana voltou pra casa, depois de lavar o café pro irmão Fulô na fábrica, completamente diferente.

Já não parecia tão alegre como pela manhã, mas o meio sorriso que tinha na boca, persistia em permanecer. Não falou nem com a mãe, ficava vagando pelos cômodos da casinha, ia no quintal pra ver se tinha caído manga, voltava, tomava água fresca da bilha de barro. Teimava em não admitir pra si mesma, mas aquele olhar firme de Constâncio, não lhe saia da memória.”Meu Deus;aquele rapaz me olhava de um jeito, como se já me conhecesse”...

A figura dele sumia uns segundos e voltava a povoar a mente de Fabiana.

Ela tentava imaginar os dois conversando, queria ouvir o som da voz dele, mas ninguem falava uma palavra. Somente se olhavam, como se o olhar fosse o bastante pra dizer tudo.

Ouviu o apito da Fábrica. Eram cinco horas da tarde e acabava o turno de quem começara de manhã bem cêdo. Fulô não ia demorar a chegar .Ela resolveu que ia falar com o irmão,.mas falar o que? Sabia que o Fulô tinha pavio curto e agora, deu pra ter ciúmes dela...Sei lá, saber pelo menos quem era, o nome, de onde viera, porque, do Cedro com certeza aquele rapaz não era.!

Nisto, Sherife, o cachorro de Nazon deu um latido de alerta,baixinho, quase uma saudação.Era Fulô chegando da fábrica.

O coração de Fabiana apressou um pouco as batidas, só um pouquinho.Assim que acabaram de jantar,Dª Maria Fel serviu um doce de mamão verde, que era o preferido de Fulô. Fabiana ao ver a cara de felicidade do irmão, se aproximou dele;

”Fulô; Eu cheguei sem fazer barulho lá no pátio da fábrica e não pude deixar de ouvir aquele moço dizer que nadava num rio que passava na sua porta...Isso é possivel?”

“É sim Nega. Ele é da região do Rio São Francisco e lá as casas eram construídas na beira do rio,pois o rio é a estrada deles Já li sobre isto numa revista.”Fabiana quis peruntar mais sobre o estranho, mas nem precisou,pois Fulô,fã de futebol, continuou contando:O Constãncio veio trazido pelo Dr Alexandre pra jogar no time do Cedro, trabalhar na fábrica e tocar na Banda de Música; O patrão tem muita esperança nele.Trata como filho.Ele parece ser um bom rapaz sim.Não se mete com a vida dos outros, só fala de sua música, de sua terra e de sua paixão pelo futebol;Aliás, o rapaz joga mesmo muito bem. .Se jogar domingo,no aniversário do Clube, como treinou ontem, o Cedro vai ganhar fácil do seu grande rival, o time do São Vicente... Fabiana não disse mais nada nem perguntou. Já sabia que o moço se chamava Constâncio, era um bom rapaz e ainda mexia com música. Ficou foi mais interessada, mas preferiu saber mais atravéz dos comentários das filhas de Dª Santa, que eram suas amigas. Elas não disseram que a mãe agora estava hospedando um rapaz de fora? Só podia ser o Constâncio.

Na pensão de Dª Santa, Constãncio já era bem popular principalmente entre as três moças da casa, cada uma mais feia que a outra, porém educadíssimas..

Constâncio costumava praticar seu clarinete na varanda da casa,no começo da noite e atendia sorridente os pedidos delas;”Toca aquela música do Orlando Silva? Toca aquela do Ary Barroso...Por falar nisto, amanhã Dr Alexandre ficou de leva-lo ao ensaio da Banda e apresenta-lo ao Mestre Zebedeu, responsável pela “Euterpe Sta Cecília” que já tinha ganhado um concurso entre Bandas de todo o Estado, num Festival, na capital, Belo Horizonte.A banda era o orgulho dos Diretores da Fábrica.

No dia seguinte depois do almoço, Dr Alexandre estacionou o seu “Ford de bigode”na porta da Pensãode Dª Santa, como havia combinado. Seu motorista buzinou e lá apareceu Constâncio todo alegre com o estojo do Clarinete em baixo do braço.As três feiosas, já estavam na janela da sala dando tchauziho e desejando “Boa sorte, Constâncio”.

Aecio Flávio
Enviado por Aecio Flávio em 13/09/2007
Reeditado em 06/10/2007
Código do texto: T650460