A mudança p/ Belo Horizonte (A Saga..29.)

Constãncio recebeu o equivalente a alguns salários como indenização, por ter sido dispensado da fábrica do Cedro.

Do clube de futebol e da banda de música não recebeu nada pois não tinha carteira assinada.Com esse dinheiro, pensou, dá pra agüentar uns três meses em B. Horizonte , até arranjar trabalho.Combinou com Fabiana que ela e o filho Betinho ficariam na casa da mãe, enquanto ele iria na frente pra Belo Horizonte, tentar emprego na fábrica da Renascença que acabava de ser inaugurada e estavam contratando operários, como ouviu falar.

Alguns companheiros vieram buscar as famílias, contando que já estavam trabalhando.

Não devo demorar, disse ele na despedida. Elal evou-o até o ponto da “jardineira”,pra viajar, com lágrimas nos olhos, por saudade antecipada mas tambem por ter pensado, num segundo, se ele faria o que seu pai tinha feito:Saiu pra fazer Serenata e nunca mais voltou. Idéia do capeta. Ele não faria isto.Está feliz comigo(pensou, séria) acabamos de ter um filho e msmo assim, o amor de nós dois continua quente e cada vez melhor.Porque ele me deixaria no Cedro?

Tinha fé em Deus,que isso não aconteceria.

E estava certa. Constâncio fez tudo rápido, no dia seguinte da chegada, foi até a Companhia Renascença industrial num bairro novo na zona nordeste de B. Horizonte e depois de uma conversa com o “gerentão” que estava contratando conseguiu o emprego no mesmo setor que trabalhou na outra fábrica: Sala de Panos. Mas não como chefe.

Na viagem de ônibus tinha conversado com o motorista Mozart qur lhe disse ter um amigo dono de um caminhão, o Fagundes, que faria sua mudança pra B. Horizonte por um preço barato, que compensava levar tudo, pra não ter que comprar novamente na cidade.na fábrica encontrou alguns ex-companheiros operários que também arrumaram emprego. Atravéz deles soube que num bairro próximo à Renascença, estavam alugando casas, por um preço barato, visando os operários que chegavam de fora pra trabalhar.Constâncio não perdeu tempo.Dormiu num quarto de um hotel "fuleiro" perto da Rodoviária e no dia seguinte, foi até a chamada “Vila Ipiranga” procurar casa pra morar.

Desceu perto da Fábrica e foi a pé até o outro bairro que era bem vizinho,como haviam dito, pra ir conhecendo a região.

Procurou a manhã toda e não encontrou o que queria.

Depois do almoço, num barzinho que servia pratos feitos, voltou pro meio da Vila Ipiranga e de tanto perguntar, acabou encontrando um barracão nos fundos de uma casa grande, que embora não fosse de frente e bonitinho como ela,lembrou muito o interior da casinha do Beco da Cataplasma, porém com uma vantagem:Tinha dois quartos. Um a mais, por causa do filho. Pagou adiantado três meses de aluguel para garantir o contrato e voltou na mesma tarde pra rodoviária onde ainda achou passagem na jardineira do Mozart, quase cheia, pro Cedro,via Sete Lagoas.Só então parou e descobriu o que o estava incomodando...

Sentia saudades de Fabiana e do filho de que nem se lembrava mais, como era a carinha.

Sabia que era bonitinho feito a mãe.

Mais uma vez, a última curva, a casa da mãe do Lipão,zagueiro do time, a casa de Zora, afinal ,o CEDRO!

Foi uma surpresa pra mulher e a sogra, a sua volta tão rápida, dois dias depois. Pensaram até, que ele não tinha conseguido o tal emprego e foi motivo de muito biscoito fôfo, e licor de pequi, quando ele contou as boas novidades.

-“Hoje vocês dormem aqui e amanhã vamos atrás do tal Fagundes, pra tratar da mudança...bôa noite para todos"..., disse Dª Maria Fel, com um indisfarçável ar de alegria.

Numa triste segunda feira,Constâncio foi pro ponto pegar a “jardineira” do Mozart, com sua bagagem e seu estojo com o clarinete,seguido da mulher,Fabiana,grávida de seis meses,com Betinho no colo, Dª Maria Fel, seríssima, Nazon e seu Sherife e Fulô ,(que prometeu tratar da mudança dos móveis com Fagundes, o motorista de caminhão.) A “jardineira” estacionou, entre a “venda de Seu Juca” e o portão do Campo do Cedro,pra onde Constâncio deu uma olhada de despedida e já com saudades, embarcou com a família, rumo a novos tempos...

Aecio Flávio
Enviado por Aecio Flávio em 05/10/2007
Reeditado em 06/10/2007
Código do texto: T682417