(31) a Renascença

A Renascença

Nas idas e vindas da Vila Ipiranga pra fábrica, Constâncio,que sempre foi meio desligado, acabou reparando que havia um movimento de muitos pedreiros e caminhões de material chegando e saindo, dos lados e em duas ruas transversais no alto atrás da fábrica.Era uma obra enorme que envolvia centenas de operários.

Procurou se informar e soube que a Companhia RenascençaIndustrial, estava construindo casas populares que seriam cedidas aos operários, como empréstimo por um sistema de sorteio. Soube ainda que entre os operários sorteados,,os que tivessem mais tempo de casa e maior número de filhos, teriam preferência na fila.

Assim que teve oportunidade e se lembrou, Constâncio foi até o escritório da firma e se inscreveu como candidato a ocupar uma das casas quando estivessem prontas

Deixou o gerente meio desentendido na entrevista ao responder à pergunta”Quantos filhos”? Dois e meio, por enquanto,escreveu.”Como dois e meio, perguntou o gerente.”É, sim senhor. Temos um de dois anos ,outro de um ano e pouco e minha mulher ta esperando o terceiro pra daqui a uns seis meses,sim senhor!

Explica-se. Estavam no início dos anos 50. Era1941...42,por aí...Não se falava ainda em planejamento familiar.Nem preservativo e a Televisão ainda não tinha chegado ao Brasil e ainda por cima, o amor de Constâncio e Fabiana,parecia aumentar, com o passar dos anos.

Na mesma ocasião ,operários da prefeitura acabavam de instalar a linha de bonde, que teria ponto final bem ali na Rua jacuí, esquina de Botucatu, a rua da fábrica.A linha de bonde ficou pronta antes ,porém uns seis meses depois das inscrições, a Diretoria da fábrica começou a chamar alguns operários sorteados,para tomarem posse das primeiras casas prontas.O nome de Constâncio constava da primeira chamada..E então seu Constâncio...já inteirou os quatro filhos? Perguntou o gerente entregando-lhe as chaves.Tá quase, senhor...ele ta só esperando mudar pra casa nova... Assinou os papéis necessários e foi todo feliz pedalando a velha bicicleta, doido pra contar a novidade pra mulher.Foi uma festa a notícia.Fabiana dançava e rodava balançandop e beijando as chaves, enquanto o caçula chorava no berço e Betinho engatinhava pela sala,já treinando para as estrepolias que iria causar daqui a poucos anos...

Vamos lá amanhã, que é sábado, pra ver a casa, meu amor? Disse Fabiana, cansada de dançar grávida mesmo do jeito que estava...

Vamos...disse Constâncio sorrindo pra ela e carregando Betinho no colo...

Sábado depois do almoço...O casal resolveu ir até a Renascença visitar a nova casa. Heleninha,filha de “Tio ZéAugusto”, prima de Constâncio, gentilmente se ofereceu pra ficar com as crianças.

A “pantera negra” como sempre era a condução favorita do casal. Assim que Fabiana se ajeitou na garupa, Constâncio saiu pedalando, procurando os caminhos sem buracos, por causa da mulher na garupa.A rua Botucatu (da f[ábrica)era como um tobogã e era cortada transversalmente por duas outras: Horta Barbosa na metade e a última, José Maurício, a última, lá no alto da subida. 444 era o nº da casinha deles.

As casas eram todas no mesmo estilo,(estilo casinha- de-pombos) geminadas,ou seja: na metade da esquerda moraria uma família, na outra metade,outra família.naturalmente para aproveitar melhor a dimensão dos lotes pra caberem maior número de operários possível.

Mesmo assim, tinha dois quartos, cozinha, sala, banheiro, um quintalzinho nos fundos e um alpendre e uma pequena área na frente,murada, que circundava a casa do lado da esquina e uma escadinha que dava pra rua.

Fabiana,na sua simplicidade, era só felicidade...

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Aecio Flávio
Enviado por Aecio Flávio em 08/10/2007
Reeditado em 08/10/2007
Código do texto: T685850