36 - O papel azul que envolve a Maçã (a Saga...)

Assim que os meninos iam fazendo sete anos, Fabiana ia matriculando um por um no Grupo Escolar Tito Fulgêncio,lá em baixo na Rua Jacuí,perto do ponto final do bonde.Quando Betinho e Aécio já estudavam, a coisa apertou para o casal.Apesar do ensino ser gratuito(público),tinha as despesas de uniforme,calçados,material.etc. Constâncio recebia somente o ordenado da Fábrica.Não tinha o complemento, como no Cedro, do futebol e da banda de música. A pobre da Fabiana é quem se desdobrava e fazia milagres pra dar conta de tudo.

Era ela quem cuidava de tudo aquilo::Escola, material, uniformes,calçados. O marido além de não ter tempo, sabia que a mulher fazia aquilo muito bem e gostava da tarefa.Então, relaxava...Ela sempre improvisava de algum modo,como na ocasião em que os dois que estudavam, precisavam de sapatos e ela,economisa daqui,guarda um troco dali... conseguiu juntar pra comprar um par de sandálias pretas. Como os dois eram praticamente do mesmo físico,combinou com eles o seguinte: Um ficaria com o pé direito da sandália e o outro com o pé esquerdo..Na hora de irem para a escola colava um esparadrapo no dedão do pé descalço de cada um. O que valeu um comentário maldoso de um garoto,na hora do recreio:

” Que coincidência, hein? Você deu uma topada com o dedão direito e seu irmão outra topada com o dedão esquerdo.Foi na pelada, foi?".

Betinho fuzilou o garôto com um olhar de raiva e saiu dali,antes que partisse pra briga,mais com vergonha, do que com raiva. Constâncio vivia arrumando um jeitinho de faturar um dinheirinho extra,mas as idéias nem sempre duravam muito tempo,certamente por que o moço era bom mesmo era de música e futebol,além de ser um operário responsável, honesto,eficiente e só...

De certa feita, cismou que se comprasse maçãs no mercado central em quantidade, podia vende-las uma a uma, aos domingos no campo de futebol e ter uma pequena margem de lucro.Combinou com Fabiana que no próximo pagamento que recebesse,iria separar a quantia pra comprar uma caixa com cinqüenta maçãs no mercado e depois de tudo vendido,repunha o dinheiro,que naturalmente iria faltar pra outra despesa qualquer.A mulher,sempre “parceira”, acatou a idéia e ainda ia com ele, ás sextas feiras de madrugada ao mercado,pra ajudar a trazer as frutas e organizar tudo pra ser vendido no futebol de domingo.

Só teve um lado complicado, que ela mesma se incumbiu de resolver;-”Como explicar e convencer as dez crianças,que não podiam comer daquelas maçãs,senão no final o pai não ia conseguir todo o dinheiro pra repor nas despesas e comprar outra caixa?" Explicou do jeito que pode e os meninos compreenderam.

Mas como sempre, “ o Capêta” tenta, acontecia o seguinte:

Naquela época as maçãs vinham da argentina e tinham uma aparência e um cheiro maravilhosos e vinham envoltas naquele papel delicado de cor azul-violeta,quem não se lembra?.

Quando o casal chegou em casa com o engradado das maçãs, da primeira vez, Fabiana convenceu o marido que somente desta vez, deviam separar umas cinco maçãs e dar a metade pra cada um apenas para eles “conhecerem". Tudo bem,disse Constãncio.A mãe chamou a filharada,explicou de novo como devia ser, e ofereceu a cada um meia maçã,só pra eles experimentarem,prometendo que se tivessem o lucro esperado,iam comprar um engradado só pra eles comerem em casa e não iam vender nenhuma...

Mas era muito difícil conviver com aquele cheiro bom das maçãs,impregnando a casa por três dias seguidos, sem ficar tentado.Foi Aécioquem teve a idéia: Tirou os papéis azuis de dez maçãs deu um a cada irmão e ficavam cheirando aquele papel amassado na mão pra ter a ilusão que tinham comido a fruta.

Melhor do que nada,uai!

Aecio Flávio
Enviado por Aecio Flávio em 13/10/2007
Reeditado em 13/11/2007
Código do texto: T693017