Haust(r)o de pulmões cansados

Eu e ele estávamos morrendo de câncer de pulmão, agarrados aos ponteiros do decadente relógio da vida.

Não pudemos nos contentar com o beijo de conveniência ou com o abraço amarelado. Mergulhamos na alvura dos lençóis de prazeres passados e manchamos tudo com nosso arco-íris mágico.

A mesma carteira de cigarros que eu havia lhe dado vinte e cinco anos atrás, em nosso último encontro. Como as cinzas contidas naquele maço, nosso coração compartilhado fora assoprado no vento e retornava para dentro de nós como chagas sufocantes. E a convivência culminara num câncer.

E, para nós, o câncer em comum seria o fim de qualquer jeito.

A amnésia do desgosto provocara nosso reencontro, quando em uma esquina qualquer não fomos capazes de reconhecer nossos cabelos brancos e pudemos nos amar em um olhar perdido.

Logo, as lembranças vieram tímidas, em um café acompanhado das forcas tragáveis e suspiramos nossa velha paixão.

Haveríamos de nos amar uma vez mais e nunca, pois esta era a sina ofegante a que estávamos condenados.

Amarmos até morrermos, pensei, mas a ejaculação se aproximava. E com ela, falciforme, o ceifamento de todo o ar.

Preferi meus livros como últimos amores.

E ele?