A HISTORIADORA FELIZ


Certo dia encontrei passeando pela praia Rosa dos Ventos, uma jovem de porte físico invejável! Era bem alta, não gorda e de uma simpatia radiante.
Embora fôssemos desconhecidas, podemos iniciar uma boa conversa. Os dias seguiram e todas as manhãs ela saía do hotel, onde estava hospedada, durante uma temporada. Fazia, naquela cidade, um trabalho de pesquisa para sua Monografia para conclusão do Curso de História. Esse seu trabalho tinha que ser levado muito a sério, pois deveria constar do seu currículo para sua especialização.
Coincidentemente, eu hospedara no mesmo hotel, no Transwold Hotel, o qual ficava de frente pra o mar. Estávamos na cidade Recanto Sereno - RJ. Minha passagem por ali fora de poucos dias, pois eu acompanhava um grupo em viagem turística.
Nós nos encontrávamos sempre, ora na praia, ora no refeitório e/ou no salão de jogos do hotel. Fizemos uma boa amizade e acabamos descobrindo que tínhamos algumas afinidades marcantes. Isso facilitou o nosso compartilhar de experiências.
Chegou o dia que eu teria de prosseguir viagem com meu grupo. Agora familiarizada com a Lucia, sentiria falta e saudades dela, e vice-versa. Ao despedirmos, trocamos e-mails e números de celulares, já que a nossa intenção era dar continuidade nas nossas relações de amizade.
Mantivemos, por algum tempo nosso relacionamento, mas nunca fora esclarecido, os detalhes sobre seu trabalho, ou seja, o tema de sua pesquisa que estava desenvolvendo naquela cidade.
Nossos contatos foram interrompidos, e deduzimos terem sido alterados o telefone bem como o seu e-mail.
Não sabia eu que Lucia estava passando por problemas...
Depois de alguns anos, fui surpreendida com a notícia num importante jornal – A TRIBUNA DE RECANTO SERENO. Sua foto estava estampada ali e seu lindo sorriso confirmava a manchete que dizia: “Historiadora Está Feliz, pois tem Seu Trabalho Reconhecido, e Recebe Título com Honra”.
Que interessante e curioso!
Lembrei-me logo de Lucia. Seria ela, essa historiadora?
Procurei me informar até descobrí-la! E foi gratificante o nosso reencontro.
Lucia enfrentou toda a sua luta com resignação e foi triunfante!
A essas alturas, o leitor, deve estar perguntando: qual teria sido o problema de Lucia, que teve protelada sua história de sucesso?
Pois, o Trabalho de Pesquisa, dessa jovem alcançou uma repercussão fantástica dentro da Universidade Estadual de Recanto Sereno do Estado do Rio de Janeiro, mas simplesmente porque era negra, tentaram puxar o seu tapete. Ignorando-a, e, consequentemente, deixaram de dar-lhe a devida distinção, como acadêmica. Infelizmente, em nossa sociedade ainda existe o estigma do racismo e passa vergonhosamente sem receber punição.
Lucia, um dia conheceu uma pessoa especial de cujo nome Rogério. A alegria de Lucia foi em dose dupla: Rogério se encantou com Lucia e propôs a ela um pedido de namoro sério. É claro que Lucia aceitou. Rogério era um dos recentes professores contratados pela Universidade, portador de um excelente currículo. Aliás, este foi um dos motivos principais de sua contratação.
Convivendo dia-a-dia com Lucia, acaba por tomar conhecimento do drama que ela vivia. Assim, se propôs ajudá-la.
Ah! Estava, agora, escrito nas estrelas que o sonho de Lucia seria realizado. Não foi difícil para Rogério conseguir resolver essa parada, em face seu livre acesso e influência junto à direção da Universidade, convencendo-a a decidir coerentemente sobre o caso. Mas Rogério queria proporcionar à sua amada Lucia, algo mais substancial, mais completo. Ele era jornalista e sócio daquele importante jornal também, citado anteriormente.
Conclui-se que, nem é preciso explicar, porque Lucia alcançara a manchete dos jornais que fizera tanto sucesso e me despertara para a lembrança de Lucia.
A direção da Universidade reconheceu seu erro e procurou corrigi-lo.
Foi o próprio Rogério o autor da reportagem que estava estampada naquele jornal.
Lucia sofrera muito, mas Rogério, surgiu em sua vida para ser um instrumento restaurador de seu sonho, de sua moral, e, aspectos sociais e psicológicos, até então desgastados.
Hoje, Lucia e Rogério estão casados. Alegre, ela me comunica, enaltecendo o casal de filhos que tem, morenos, sadios, lindos, e que vivem felizes. 


                                          Com este Conto estou homenageando 
                               o Dia Internacional da Mulher