À sombra dos ipês...

Roberto era jovem, contava seus 23 anos. Numa tarde de primavera em sua cidade natal, Rio de Janeiro, ele foi até um bosque para sentar-se a sombra de ipês - árvore dita por ele das mais românticas- e ler um livro.

Ao sentar-se sob a sombra de um ipê amarelo ele parou para refletir sobre sua vida, seus amigos e viu que algo lhe faltava.

Resolveu olhar ao entorno e viu, sentada numa sombra também, uma donzela, belíssima, de cabelos louros que pendiam pelas suas costas, de pele alva, olhos de um azul profundo, esguia e de uma existência sublime.

Sentiu um fogo abrasar-lhe o peito como uma fagulha caída do céu e queimar seu interior.Sentiu que aquela donzela era quem faltava no seu mundo, que a jovem poderia ser para sempre seu objeto de afeição.

A partir daquela tarde, Roberto resolveu que iria vê-la todas as tardes, e assim foi, por mais de um mês.

Uma vez tentou aproximar-se de sua musa, mas não conseguia, era como se ao redor da bela jovem houvesse uma redoma de vidro, ele devorava seu livro.

Quando o livro terminara ele resolveu declarar seu amor àquela jovem, que já tinha toda uma personalidade criada na imaginação do amante.

No dia em que ele resolveu se aproximar o céu estava mais róseo, assim como a face de sua amada. Chegou sem fazer ruído, olhava-a absorto, e parecia então que ela dormia de olhos abertos. Quando o moço se encontrava a menos de dois metros dela, ele cumprimentou-a em tom cordial: “Boa tarde! Que belo céu podemos ver, concorda?... Meu nome é Roberto, prazer!”, esticou sua mão ao encontro da dela, que se assustou embora logo tenha sorrido. Ela tateou como a procurar algo e pediu: “Chegue mais perto para que eu possa tocar sua mão, infelizmente sou cega e não sei onde as encontrar! Acredito que a tarde esteja realmente linda, pois hoje os ipês exalam um aroma particularmente agradável! Chamo-me Lucília, prazer!”.

Roberto apertou a mão da moça e ficou absorto! Como tão bela jovem podia sofrer de tão pesado fardo?

Conversaram ainda toda aquela tarde, e quando a lua despontava no céu chegou sua aia para levá-la embora! Roberto beijou ainda suas mãos prometendo chegar no dia seguinte.

Ele não voltou! Nunca mais! E chorou dias e dias por sua própria covardia em amar uma jovem que não o podia ver.

A bela Lucília casou em breve, com um belo aristocrata que a amava por seu encanto e inteligência. Foi feliz, embora lembrasse com nostalgia do jovem que outrora conhecera numa bela tarde de primavera, que nunca mais voltou para vê-la.

Roberto procurou pelo mundo a fora aquilo que lhe faltava, embora não tivesse encontrado! E ele inclusive odiava Deus: "porque a única que lhe despertou o amor não podia vê-lo?"

No seu último momento de vida pensou nos ipês do bosque e em sua bela Lucília. O amor para ele nunca poderia ser cego, pois assim ele não poderia dominar os olhos de sua Amada e ter certeza que eles o fitavam.

Luandra Russo
Enviado por Luandra Russo em 19/04/2006
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