O Amor ultrapassa barreiras...

Numa tarde de outono, August foi caminhar à beira-mar para descansar... Sentiu um arrepio subir-lhe a coluna e se permitiu lembrar. Lembrou de um tempo que não voltaria jamais.

August era recém formado no curso de direito. Começou a estagiar na empresa de seu tio ainda no segundo ano. Agora ele era um dos sócios do escritório, e a pouco tempo completara 27 anos. O rapaz tinha uma vida bastante agitada para um jovem, embora tivesse grandes responsabilidades para sua idade - uma vez que era órfão-, morava sozinho e num bairro nobre da pequena cidade de Greensville, no leste dos Estados Unidos.

Numa tarde de sábado ensolarado August fora visitar um casal de amigos de seu tio, num pequeno coquetel. Ele desconhecia o fato de que aquele dia mudaria sua vida. Chegando à casa dos Rosberg foi-se para um canto, próximo à praia. E lá, a beira-mar viu então pela primeira vez alguém que o perturbava com sua candura. Aproximou-se, era uma jovem ruiva, de pele alva, cabelos encaracolados esvoaçantes - com o vento que batia.

Aproximando-se:

- Olá, poderia acompanhá-la neste pôr-do-sol? Deixe que me apresente...

- Quem é você? - disse a moça - Assustou-me!

- Desculpe, não foi a minha intenção! Sou August Dumont.

- Ah... Sim - disse a moça mais tranqüila - o amigo de papai. Sou Susan Rosberg.

Apertaram as mãos e ficaram a conversar enquanto caminhavam pela praia.

August convidou Susan a subir nas pedras para ver a lua, a moça aceitou.Era uma noite de lua cheia, no alto das pedras a jovem sentiu frio, o ar realmente tornou-se mais gélido e o vento mais forte e constante. August deu seu terno para Susan e desceram... Ao final do percurso de volta, ela agradeceu-o e então seus lábios se colaram numa espécie de pacto de amor...

Na primavera seguinte trocaram-se as alianças. A família de Susan era de uma felicidade extrema, sua menina estava em boas mãos.

Assim, a felicidade durou por dez longos anos, tinham um poder aquisitivo alto, podiam dar-se a certos luxos. A mulher sonhava em ter filhos, mas já houvera sido avisada dos riscos.

Tentou engravidar de seu amado, no entanto sofreu um aborto espontâneo e ficou em coma. Os médicos avisaram a família que o tempo era curto, as conseqüências do aborto eram gravíssimas.

Quando a mulher saiu do coma e para espanto da família, pediu a August que a levasse para casa, ele atendeu o pedido, levou-a, preparou-lhe um jantar, tomaram uma taça de vinho juntos e Susan foi banhar-se.

Na saída do banho sentiu-se tonta e sangrar. O marido a pegou nos braços, a colocou no sofá e então como a primeira vez que a viu, segurando suas mãos disse:

- Você, minha querida, foi-me dada como um presente, nunca em toda a minha vida poderei sentir este amor novamente, obrigado!

E então, Susan segurando as mãos do amado soube que nunca mais o veria... O casal, chorando, se beijou. Ela cerrou os olhos.

Andando à beira-mar, August, 30 anos mais velho, ainda sente as lágrimas que queimam seu rosto, seus cabelos grisalhos o fazem se desconhecer perante o espelho. E a saudade aperta-o no peito de uma forma avassaladora.

Breve nota da autora: O amor ultrapassa barreiras do tempo e da distância, mas ele não cria raízes no tempo, ele precisa andar, procurar a saciedade. Um amor não pode estar todos os dias sorrindo, há dias de tristeza para cada amor, e nesses dias que se vê o quanto se ama, pois estando triste com o outro não se pode ficar longe... August passou sua vida triste com Susan, mas sempre sentiu sua presença junto à dele.

Luandra Russo
Enviado por Luandra Russo em 21/04/2006
Código do texto: T142619