A casa da sra. Gomes era do tipo antigo, portas muito altas, largas e pesadas. As janelas eram metade persianas, metade vidros. Apesar de muito antiga, estava conservada,cuidada. Dentro tinha  onze quartos e 4 banheiros, todos completos com banheiras em mármore branco. Poderia se dividir a casa ao meio. Na frente havia duas suítes. Uma era de sua filha Dorinha e a outra era da sra Gomes e sua outra Filha, Celma. Nos outros dois quartos dormiam suas netas e seu neto ainda bem pequenos e havia um banheiro no corredor para eles usarem. Para se acessar a casa era preciso subir uns 20 degraus. A casa ficava numa rua calma da cidade. Havia umas varandas com grades de ferro que a sra. Gomes mantinha sempre pintadas mantendo bela a aparência da casa. Para se chegar à cozinha andava-se por um corredor bem largo, com as portas internas também muito altas As crianças tinham medo de passar pelo corredor imenso e só andavam correndo. Nos outros quartos que sobraram a sra. Gomes alugava para moças , não sem antes tomar informações sobre quem eram. Na verdade eram moças sozinhas que trabalhavam na cidade e moravam muito longe. Na cozina, além do fogão moderno, havia um à lenha em que a sra Gomes mantinha sempre a caldeira fervendo para facilitar seu desempenho na cozinha. Ela fazia doces maravilhosos para seus netos. Alí não faltava doces gostosos de varios tipos. Sra. Gomes era uma portuguesa, muito bonita, mas podia-se ver em seu rosto  as marcas do  cansaço de tanta luta. Sua filha mais nova, mãe das crianças, trabalhava fora, e sua outra filha havia tido paralisia infantil e não tinha condições de trabalhar fora, então ela bordava para uma loja elegante de roupas íntimas.
As crianças estudavam longe de casa, e assim que dona Dorinha melhorou de salário na empresa, mudou-se para a Tijuca onde ficava bem mais perto para as crianças.
Foi uma choradeira no dia da mudança, elas gostavam muito daquela avó, da tia Celma e ficaram sentidos em deixá-las.
Foram para um apartamento de 2 quartos e depois de morar naquela casa imensa, sentiam-se sufocados.
Foram crescendo e entendendo que a mãe havia feito o correto e todo domingo iam para a casa da avó.
Acabava o silêncio da casa. A correria das crianças felizes, as brincadeiras faziam parecer que a casa estava em festa.
Um belo dia tiveram que faltar às aulas e ir para a casa grande de tantas alegria, pois sua querida avó havia falecido apõs um derrame cerebral.
Dorinha não tinha mais lágriamas para chorar a tristeza de perder sua mãe, e as crianças ficaram sem entender porque sua avó tinha que morrer. Elas nunca tinham visto uma pessoa morta. A primeira foi uma das pessoas que elas mais amavam.
A netinha menor, ainda bem  pequena, com uns cinco ou seis anos enconstou-se num cantinho de uma cômoda, e ficou ali, sem chorar até levarem sua avó embora. Ela pensava consigo mesma: " para onde vão levar minha avozinha?" Os outros irmãos foram ao sepultamento, mas ela ficou com sua tia paralítica. Ela nunca perguntou qual tinha sido o destino da avó.Ela imaginava lugares bonitos, cheios de compota de doces, de flores, de pássaros, e muita laranja. Sem perceber, ela imaginava a avó num lugar igual ao da casa grande, onde ela viveu uns tempos  felizes.
A casa grande foi vendida, Celma foi morar numa casa pequena em outro bairro, ela tinha dificuldade de andar, mas podia trabalhar e fazer seus bordados. Logo foi arrumado uma companhia, uma empregada que morava na casa e tomava cuidados com a pobre moça Celma.
Dorinha mudou-se para uma casa de três quartos, o filho mais velho fazia pipas e vendia. Não era muito mais ele não pedia dinheiro a sua mãe. 
As crianças cresceram, formaram-se no científico e até puderam ir ao baile de formatura, graças a dona Dorinha que fez os vestidos e elas não precisaram faltar a festa tão desejada.
Logo arrumaram emprego e começaram a dar descanso a mãe, pois ganhando bem, podiam sustentar  a casa. O irmão tinha que servir ao exército e ganhava pouco como cabo.
Indo trabalhar a vida deles melhorou bastante, os salários eram muito bons e resolveram mudar para um bairro melhor.
e mais perto da casa de Celma, onde podiam visitar com mais frequência.
Essa parte da vida delas foi cheia de preocupações com a tia e com a mãe que não parecia estar muito bem. Dorinha costumava ser ativa, forte, lutadora, mas andava se deitando durante o dia e isso elas sabiam que não era um bom sinal.
Dorinha teve que ser operada e ainda estava de repouso, porém em casa, quando Celma foi internada e não resistindo a cirurgia, morreu na mesa de operação. A tristeza voltou àquela casa.
Nádia, esse era o nome da filha mais nova, pensava quando teriam algum acontecimento que pudessem se alegrar, não por momentos como ir ao baile de formatura, começar a trabalhar, ajudar a mãe, mas algo que perdurasse, que fosse digno de ser lembrado e fazê-la feliz.
Não achou esse acontecimento, achou pequenos momentos aqui e alí, mas tudo muito passageiro. Descobriu que a vida não é tão simples e que a felicidade não está batendo sempre à porta. Entendeu que há momentos, pequenos momentos em que nos sentimos bem, mas que a felicidade é um sentimento que é preciso cultivar dentro de nós mesmos para tornar a vida mais suave.
Não é fácil viver sempre feliz, quando não há acontecimentos que perdurem, que permita lembrar sempre e reviva momentos de grande alegria e felicidade
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naja
Enviado por naja em 21/06/2010
Reeditado em 03/01/2011
Código do texto: T2332394