O CASAMENTO

Finalmente chegou o dia.

O casamento que já havia sido marcado por mais de uma vez iria acontecer naquele dia. João havia tirado férias e desde cedo estava se preparando psicologicamente para aquele grande passo que iria dar.

As alianças, convites, a festa e os móveis, tudo já estava arrumado. Nada desta vez iria atrapalhar os planos de Mariana, em levar o seu grande amor à igreja para o tão esperado casamento.

Por duas vezes o casamento havia sido adiado por detalhes pequenos. Na primeira, mesmo tendo sido distribuído todos os convites e toda a festa ter sido arranjada, o João havia esquecido de preparar os documentos para satisfazer às exigências da lei. O edital e os proclamas tinham sido esquecidos.A noiva não aceitava ir para a cama com ele antes de tudo estar como dizia, "nos conformes", sem casamento não havia a mínima possibilidade de eles morarem juntos.

Na segunda vez, 24 horas antes da cerimônia, ele foi à igreja e desmarcou tudo.Ao ser questionado pela noiva sobre o motivo, ele inventou uma esfarrapada desculpa. Agora, no entanto, nada deveria dar errado. A noiva tinha sido esperta e participava ativamente com ele de todos os detalhes. Ela havia anotado cuidadosamente tudo em um caderno que havia comprado e passara a anotar tudo, cinco meses antes. Na sexta-feira, ela ficou por mais de meia hora, conferindo tudo e quando terminava, recomeçava de novo. Queria se certificar de que nada iria dar errado daquela vez.

O noivo, como sempre, deixara tudo para que ela resolvesse. Afinal, eram mais de sete anos entre namoro, noivado e tentativas de casamento.

Ele havia tirado férias e planejara a lua de mel, no local de seu sonho. A primeira noite seria inesquecível. Tinha desejos que pensava em realizar naquele dia, pois fazia questão disso. Ele achava aquilo mais importante que a própria noiva e o futuro do casamento. Ela, com medo de ficar para “titia”, estava disposta a se sujeitar aos caprichos do noivo. Afinal, na última vez, o noivado terminara um dia antes porque ela dissera que não concordava com certas coisas. As recusas dela, em se sujeitar aos caprichos dele, foi motivo para João cancelar o casamento.Ela somente veio saber dias depois.

Desta vez seria diferente, ela conferia os detalhes e aquiescia com tudo que ele falava. Nada iria dar errado.O casamento para ela seria uma questão de honra.

Às sete da manhã, ele levantou-se e enquanto a mãe preparava o café, disse:

- Sabe, mãe, acho que desta vez tudo vai dar certo.

- Claro, e você ainda tem alguma dúvida? Retrucou ela.

Ele ficou calado enquanto mastigava o pedaço de bolo que ela lhe fornecera. Pensava no programa que havia combinado com os amigos. Depois do almoço, iria participar da despedida de solteiro.

Às duas da tarde, alguns amigos chegaram e, depois de momentos, saíram para a última festa de solteiro. Ele ainda não sabia qual seria o local nem tampouco o que os amigos haviam preparado para ele.

Ao pararem no campo de futebol ele perguntou:

-Aqui será o local da festa?

Alguns riram e o chefe da turma respondeu:

-Claro, iremos jogar futebol e tomar cachaça. Você terá que agüentar o tranco para mostrar que realmente é macho. João, acostumado com as brincadeiras dos amigos, não relutou em entrar na farra. Afinal era uma amizade de muitos anos.

O casamento somente seria realizado às 7 da noite. Ainda havia muito tempo para brincar e encher a cara.

Às seis horas, a mãe e os familiares dele começaram a ficar preocupados. Já estava quase na hora e ele ainda não havia chegado para se arrumar para o casamento. A mãe pediu ao filho mais novo que fosse procurar o irmão que havia saído com alguns amigos para a tal festa de despedida de solteiro.

O irmão menor saiu apressado e seguindo informações logo encontrou o irmão com amigos jogando futebol. O João quase não conseguia se manter em pé de tão bêbado que estava. Enquanto jogavam, os amigos obrigavam-no a tomar uma dose de cachaça. Naquele momento ele já não conseguia ficar de pé. Estava completamente embriagado nem mesmo se lembrava do casamento.

Quando os familiares souberam do estado do noivo, foram buscá-lo e levaram-no para casa e depois de 15 minutos debaixo de um chuveiro frio, deram várias xícaras de café e várias outras simpatias, tentando reanimá-lo. Mesmo com todos os cuidados, o noivo não mostrava nenhuma recuperação e não conseguia se manter em pé sem ajuda. Já passava das sete horas quando conseguiram vesti-lo.

Alguns amigos já haviam se dirigido à igreja e depois de muito trabalho os familiares conseguiram levá-lo arrastando-o até a igreja onde, naquele momento, a noiva já esperava, ansiosa, com medo de um novo adiamento ou que o noivo houvesse desistido ou fugido.

Com dificuldades, conseguiram chegar à igreja, levando João totalmente embriagado. Ele, amparado por amigos, mal abria os olhos e não conseguia ficar de pé, sozinho. Se o deixassem sentar-se poderia adormecer e não acordar tão cedo.

Ele trajava um terno preto com colete amarelo que havia alugado dias antes. Estava impecável, não fosse o fato de ele não conseguir ficar em pé. De vez em quando a mãe limpava-lhe a boca, devido a baba que escorria.

Ao se aproximar do altar, amparado por amigos, a noiva lá se encontrava toda chorosa, mas não podia deixar escapar aquela oportunidade.Se não casasse daquela vez, teria que desistir. Afinal, três vezes seria demais para ela. Os convidados, espalhados pela igreja, cochichavam quando notaram o estado em que o noivo se encontrava e era arrastado rumo ao altar.

O padre, que já o conhecia de outras vezes, estava em pé, esperando de cenho fechado. Estava ansioso para terminar aquele casamento, que parecia muito mais um enterro. Eram tantos os problemas que às vezes duvidava que pudesse casar João

Vendo que não seria possível manter o noivo em pé, sem perigo de ele cair, mandou que se ajoelhassem, enquanto celebraria a cerimônia.

Com muita preocupação, conseguiu, enfim, ouvir do noivo o tão esperado "sim". Durante toda a cerimônia, a noiva se desdobrou para mantê-lo acordado.

A voz de João ao responder o que o padre lhe havia perguntado, parecia sair do fundo de um poço. Sua voz que já era rouca agora estava baixa e uma baba continuava a escorrer pelo canto da boca.

Era uma cena patética.

Quando o padre pediu que o noivo colocasse as alianças no dedo da noiva, este, num ato de puro reflexo, pegou a mão do padre e colocou a aliança no dedo dele.

O pároco, com toda paciência, tirou a aliança que foi colocada em seu dedo e colocou-a no dedo da noiva. Enquanto a patética cena se desenrolava, os cochichos se multiplicavam.

Realizada a cerimônia, um dos convidados perguntou:

- E o beijo, não vai haver?

O padre sabendo do estado em que se encontrava o noivo, respondeu em voz alta para que todos ouvissem:

- Por favor, meus filhos, o beijo deve ficar para depois, ele não está em condições de ficar em pé e não quero que ele pense que está na cama e possa fazer alguma coisa mais, aqui dentro da igreja.

O Estado do noivo era lamentável. Com os olhos quase fechados, a baba correndo pelo canto da boca, e as pernas quase se dobrando para frente. Diante da cena cômica, alguns convidados não agüentaram e começaram a rir, enquanto outros em coro gritavam:

- Beija, beija, beija...

O recém casado, naquele momento estava quase dormindo, ao ouvir o coro, arregalou os olhos, pegou o padre pelos ombros e se lançou sobre ele, tentando beija-lo. Com muita dificuldade, o padre conseguiu se desvencilhar do "assédio" do noivo afoito.

Aquela cena provocou o maior alvoroço dentro da igreja e com muita dificuldade a noiva e alguns familiares, contiveram o noivo e o levaram para fora, quase que arrastado.

Enquanto ele se arrastava amparado por familiares, alguns amigos riam quando ele passou cambaleando e babando.

Ele, que estava praticamente fora de si quando entrou no carro que o levaria à festa na casa da noiva, ao sentar-se no banco adormeceu.

Três dias depois de muita apreensão da noiva e familiares, ao acordar e abrir os olhos, vendo a mulher ao seu lado, perguntou:

- Afinal, quem ganhou o jogo?

29/07/06- 16.30

Vanderleis Maia
Enviado por Vanderleis Maia em 19/09/2006
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