Lobo Solitário I – Programa Casual

A manhã era fria como toda manhã daquele mês de inverno. Um gosto amargo na boca e uma insuportável dor de cabeça me despertaram. Sair de debaixo do cobertor parecia uma ideia incômoda.

Havia alguém na cama junto de mim. Maldita dor de cabeça. Um braço envolveu meu corpo e me apertou em um abraço. Criei uma coragem inimaginável e joguei as pernas para fora da cama, sentando-me.

- Aonde vai?

- Para minha casa. Meu serviço foi feito.

E de fato havia sido. O trato era servir de companhia na festa e pelo resto da noite, mas estaria rompido ao amanhecer.

- Fica mais um pouco, vai.

O pedido veio seguido de um leve mordiscar na orelha e um abraço quente.

- Tenho afazeres.

Menti e levantei. Vesti minhas roupas que estavam atiradas pelo chão.

- Tome pelo menos o desjejum comigo. Inclua no seu 'trato', deve estar com fome.

- Não, não dá.

Encaixo o sapato no pé e observo uma fotografia sobre a cômoda. Ela e seu marido. O homem estava viajando a negócios por aquela semana e voltaria apenas no fim do dia.

- Sabe... Queria te dizer uma coisa...

Recebi outro abraço. Um beijo no pescoço. Um carinho nos cabelos. Não fosse meu mal humor e esta maldita dor de cabeça, eu teria cedido ao pedido do café.

- Queria que você voltasse amanhã, mas ele vai estar aqui.

- Meu serviço não inclui maridos.

- Eu sei. Não ia pedir isso. Quero que você seja exclusivamente meu. Não quero que saia com outras mulheres enquanto estiver comigo.

- Aham, vai me comprar uma coleirinha também? E me levar para passear?

- Estou falando sério! Não seja sarcástico.

Ela pareceu ficar chateada. Pouco me importava, aprendi a ficar imune aos sentimentos e as carências. Sua bolsa estava aos pés da cama, peguei e retirei de sua carteira o montante combinado pelo serviço. Joguei a bolsa na cama.

- Estou indo. Quando precisar, tem meu número. E aproveite seu marido enquanto der. E quando precisar de um homem, me contrate.

Saí do apartamento e senti o frio do corredor. A cabeça latejava lancinante. O elevador estava vazio, menos mal. O resto do dia era livre, não haviam mais contratos.

Não sou um cão de companhia. Sou um garoto de aluguel.

Viajante Ls
Enviado por Viajante Ls em 22/10/2010
Reeditado em 18/02/2014
Código do texto: T2572744
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