TORPOR
 
     Meio entorpecida, vagueia lentamente como se não soubesse o rumo a abraçar. Seus olhos estão cobertos pelas pálpebras adormecidas. O torpor só permite mergulhar no olhar de mar um risco de luz. Tentativa de enxergar o infinito.

     O corpo está adormecido. Nada sente. Carrega nas costas mais de meio século que, se colocado na balança, deitará até ao chão tristeza, angústia, amores em vão.

     O peito arfa na cadência companheira da falta de ar, do sufocar sonhos, anseios, desejos, vivacidade, vitalidade. Todos amordaçados pelos fios implacáveis da solidão que tecem a trama da existência já percorrida em mais de sua metade. Resta um tricotar mágico, maestro do réquiem, do epitáfio que registrará o que não há mais a remediar, a amar, a acreditar.



Foto: Denise Mello - litoral do nordeste brasileiro - março/2010