A HISTÓRIA QUE NÃO PODE SER CONTADA

A HISTÓRIA DO BALÃO PRETO.

Voltando a escola a busca da minha história, naquele ano de l972 no mês de junho, onde minha turma tinha que fazer o famoso trabalho escolar, na época de festa junina. Foi quando eu fiz a história do balão preto, a história que não saiu do papel e nem da minha mente.

Era um trabalho famoso sim, pois a solicitação da professora era a mesma e o exercício também. Tendo como prêmio os melhores cartazes a finalidade de enfeitar a escola, para a festa junina. Havia orgulho em ver os visitantes olhando os trabalhos como obras de arte, com o os nomes assinado em baixo.

Minha escola tinha carteiras em duplas e sentíamos seguros , pois havia um colega,um amigo do lado que caminhávamos juntos. E este meu amigo de sala de aula/vida, Jorge Luiz Defante, era filho de um fazendeiro, que andava sempre de cabelo cortadinho,andava de kichut, roupa passadinha,tinha até uma bicicleta.

Bem! Vamos ao trabalho. Chegando em casa, peço minha avó dinheiro pra comprar a cartolina, pra fazer o tradicional trabalho de festa junina. Mas minha avó ¨ não tinha ¨. Preocupado e estudando em saber, como fazer. Resolvi construir uma ¨ poesia¨ , contando a história de um balão .Eu sabia que não era aquilo que a professora queria.

Estava preocupado. Quando chega me chamando, o meu colega de sala, Jorge Luiz , todo arrumadinho, com sua bicicleta,sua bolsa escolar, o seu trabalho em uma folha de papel cartão e todos os quesitos, para irmos para a escola.

Eu não estava pronto ainda, pois estava preocupado com o trabalho pra a escola, estava pensando em não ir com medo da professora, mas minha avó não deixaria eu faltar .Comecei a me arrumar, coloquei minha bermudinha e enquanto colocava minha meia branca com o tênis de lona azul, com o biquinho redondo branco que o governo dava,para calçarmos, foi que Jorge Luiz me perguntou pelo meu trabalho. Eu disse que não havia feito. Que havia feito apenas uma historinha com rima e mostrei a ele. Era uma folha de papel sem pauta, que dobrei em quatro e recortei, ficou tipo um livrinho, na capa um balão vermelho e em cima o título: A HISTÓRIA DO BALÃO PRETO. Ele leu e como para me estimular disse: ficou muito bom, leva sim. Eu percebi no seu semblante, que ele estava sendo sincero.

Então tomei coragem, acabei de me arrumar, pequei minha carteirinha coloquei no embornal, que minha avó tinha feito pra mim, naqueles dias,com o corte da perna da calça Jens da minha irmã mais velha. Montei na bicicleta do Jorge Luiz e fui carregando ele, como sempre. Na verdade hoje eu não sei quem carregava quem, éramos muito unidos.

No portão da escola, vi todos os colegas com o trabalho, tinha os de cartolina , os de folha de papel pardo e uns poucos, igual ao do Jorge Luiz em folha de papel cartão.

Bateu o sinal para entrarmos, era a chefe de disciplina dona Lucy, com o sino na mão e que recolhia nossas carteirinhas de presença. Entramos até a sala da professora e colocamos os trabalhos sobre a mesa, tive o cuidado de pegar o meu e colocar mais por baixo. E fomos formar fila, pra cantar o Hino Nacional e o da Bandeira.

Por fim, fomos em fila pra sala e sentamos esperando a professora.E o comentário geral era só o trabalho. E eu ali, sem saber nem o que falar, me restringi apenas, a trocar algumas palavras com Jorge Luiz.

A professora chega na sala, todos param a conversação e como sempre nos colocávamos em pé, do lado da carteira, até que a professora dissesse: podem sentar-se.Coloca sobre a mesa, sua bolsa e sua régua, que eu mesmo havia dado, era uma régua de madeira forte e grande, devia ter uns quarenta centímetros, pois a régua anterior tinha sido quebrado em um aluno. E eu achava que eu dando a régua, não apanharia com ela. Era uma régua que minha tia tinha me dado.

Veio então a pergunta da professora: todos trouxeram o trabalho? Resposta óbvia. Sim,professora. O que estaria eu fazendo ali , se não tivesse levado o trabalho? A régua estava lá. E a aula seguiu normalmente até que por fim o sinal bate , a professora pega os trabalhos e avisa: amanha trarei as notas.

No dia seguinte chega a professora com os trabalhos já corrigidos e começa a chamar os alunos lá na frente pra entrega- los. E começou logo pelo colega do meu lado: Jorgel Luiz 100 parabéns!!!,Ronaldo 100 parabéns!!!,era o filho da diretora ,Cleber 90 muito bom!!!,era o filho de outra professora. E assim foi, e o meu trabalho nada. Por fim após todos trabalhos/alunos avaliados e entregues, a professora me chama lá na frente. Manoel Maia. E lá vai eu. Pensei : to na régua, quase comecei a chorar. Então a professora disse: Você está sem nota, você copiou isso de algum livro.Me entregou a poesia e mandou voltar no dia seguinte com o trabalho feito.

Fui pra casa e conversei com minha avó. Claro que com medo de apanhar, porque antigamente era assim, se apanhasse na escola, a gente tinha que ficar quietinho e torcer pra professora não ir na nossa casa, porque se não, apanhava em casa de novo.

Então minha avó me deu o dinheiro, comprei uma cartolina bonita, não comprei de cor não, porque custava muito caro. E fiz o trabalho igual ao que a professora mandou. A fogueira era feita de palitos de fósforos colados uns sobre os outros, as bandeirinhas recortadas de papel jornal eram primeiro coladas no barbante e depois na cartolina. Barbante lá em casa tinha muito pois meu avô juntava, do embrulho do pão. Desenhei os esteios onde iam ficar pregadas as bandeirinhas e um bonito balão vermelho, com olhos,nariz e a boca, que gritava, viva São João!!!

No dia seguinte levei pra escola e ganhei um notão. E um pequeno elogio da professora: ¨ ficou bom é assim que se faz ¨.

Voltei e sentei perto do Jorge Luiz quietinho e nunca mais escrevi. E até hoje essa história não foi mais contada.

Ass: o autor

OBS: Há dois meses atrás, uma ex professora da época, a mãe do Cleber,me deu uma foto da nossa turma de 72, na escadaria da antiga escola que hoje é o fórum de Cambuci. Aí pude recordar: os ricos ficavam no meio da foto, eram o centro e nas laterais o resto.rsrsrs

Maiacambuci
Enviado por Maiacambuci em 14/03/2011
Reeditado em 17/03/2011
Código do texto: T2847752