O pra sempre deve acabar

Ao ler uma linda crônica enviada por um caríssimo amigo muito especial, Raul Sá D'Almeida, sobre a efêmera durabilidade das coisas modernas, refleti sobre o tema e acabei por 'viajar' ao passado longínquo, onde estão nossos mais importantes registros.

Me veio a cabeça que, uma das vezes que estive a passeio em Minas Gerais, lembrei-me de comprar algumas lembranças para alguns amigos e familiares, algo que se identificasse com os locais por mim visitados; Cá chegando, passei a distribuir os presentes por alguma ordem de importância, enfim, ao meu saudoso pai dei a mais linda e cara peça, um cinzeiro de Ágata. Com um sorriso de satisfação, ao desembrulhá-lo calmamente, percebi uma leve expressão de incredulidade em sua plácida face. Perguntei-lhe se havia gostado da lembrança, ele, olhando em meus olhos, disse-me: "Se você lembrou de mim em suas andanças fico muito satisfeito, mas faltou-lhe, quem sabe, um pouco de sensibilidade ao comprar este objeto tão caro, primeiro, eu não fumo e ninguém aqui em casa fuma, por outro lado, não gostaria de incentivar as visitas a fumar aqui." Logo tentei argumentar de improviso e convencê-lo sobre outras finalidades para o, agora, "famigerado" objeto. Ao perceber que não surtiu efeito algum, como argumento derradeiro fora do contexto, disse-lhe: "Pai, o mundo vai acabar, nós vamos todos morrer e essa peça, quase indestrutível, ainda estará aqui"; Sem perder o equilíbrio, ele me abraçou carinhosamente e, ao meu ouvido disse: "As únicas coisas que gostaria que durassem mais do que eu, são meus familiares e meus amigos"

Estou, até hoje, pensando no que me foi dito.

ZIBER
Enviado por ZIBER em 23/08/2011
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