ESCÓRIA


     Seus passos cadenciados regem o batuque de altos saltos esmagados pelo peso de mais um óbvio cotidiano.
 

     Seus ombros não suportam as águas turvas que afogam aquela alma irrequieta, inconstante pronta a surpreender seres pacatos, desavisados quanto ao seu turbulento jeito de ser.
 

     Verborrágica, vomita ansiedades, abissais dores infectadas e refletidas, em surto, no aço dos gélidos espelhos. Superfícies que refletem, ecoam, em silêncio, insanos gritos de desesperança, de desamor.
 

     Lábios amordaçados, mãos atadas traçam, por fim, seu perfil, cria  da escória demente que nada mais respira, nada mais sente.