DEUS RESOLVEU SONHAR
DEUS RESOLVEU SONHAR
Subiu ao céu nublado um corpo magérrimo. Deus assistia a tudo calado, atravessando a avenida movimentada, manco, sujo e faminto. O corpo magérrimo confundia-se com folhas secas atravessando o bairro cinza. Lágrimas imundas molhavam as barbas encardidas de Deus que, esbarrando nos transeuntes, era repelido com nojo por aqueles que apressadamente caminhavam pelas ruas, sem notarem a mancha negra com feições de pássaro sem rumo, ganhando o céu em meio à tempestade que se anunciava.
O corpo magérrimo sendo apagado do céu pelas primeiras gotas de chuva fizera Deus cair sentado na calçada molhada, desconsolado e impotente. O pequeno corpo foi apagado sem fazer a mínima diferença ou falta a ninguém. Apenas Deus viu aquela história surgir e desaparecer sem poder fazer nada.
Num boteco próximo ao Mercado Adolpho Lisboa, revitalizado e reluzente, o velho ancião tomou uma dose de Alcatrão e foi se lamentar aos urubus que, em revoada, pincelavam a tela do cais.
07/11/13
Rojefferson Moraes