Como Dizer a Verdade Através de Mentiras

Como compor um conto.

Como dizer sem se condenar, ou sem se justificar.

Como talvez emaranhar-se.

As horas passam. Eu preciso te escrever. Não sei por onde começar, como começar, o que dizer ao certo. Sei que tenho que escrever. Te escrever.

Tento me nutrir da saudade, do inconfundível desejo de reviver tudo aquilo pelo que já passei. Eu não faço ideia de como te tomar nos braços, pronunciar o que se passa dentro de mim. Sinto-me confusa a ponto de saber em demasia.

Não sei se eu devo dizer isso.

Penso em comentar sobre o frio que não se faz, e o calor excessivo como fuga para algum tipo de piada tola da qual muitos rirão, talvez por a fazerem repetidas vezes.

Há alguns dias me envolvi com alguém. Transamos. Foi tão entediante quanto assistir programas de fim de tarde aos domingos. Eu pensava em ti, nas tuas linhas, na contemplação que outros teriam de ti.

Reconheço que senti algum tipo de ciúme. Me senti patética.

Mikä yllätys!, surpreendo-me, enquanto nos encontramos. Quanto mais me aproximo de ti, mais me sinto tomada, apanhada, pelos braços de meu abismo. Não há luminosidade suficiente. Eu tateio. Descubro olhos, mãos, bocas, braços, que não são os meus. Talvez tenham sido num momento apropriado. Não agora. E talvez seja isto o que me assusta.

O nosso encontro é um pêndulo. Um pêndulo de Foucault.

Eu quero te escrever. Não consigo. Se por um lado me parece haver uma obrigação, por outro, sinto um forte desejo.

Você se mostra difícil, ardiloso. Não sei no que o nosso encontro pode resultar. Pode me trazer pedras, assim como rosas. Se por acaso trazer rosas, as traga em vasos, para que possa cuidar. Do contrário, murcharão. Considero de uma violência grande flores mortas por motivos passionais.

Eu tenho um certo medo de nomear isto que estou sentindo. Tenho medo de nomear, e isto ser contaminado de alguma forma pelo exterior. Gostaria de acolher este afeto só para mim. Você o tornará vulgar, o disseminará por aí, aos olhos de pessoas que jamais conhecerei, e sequer esbarrarei no ônibus, para dizer me desculpe.

Entretanto, se eu não te escrevo, estará este afeto contaminado pelo que poderia haver de pior: o silêncio. O segredo, sabe melhor do que eu, é aquilo que se põe pra fora, que se vomita, se expurga, sem que perceba ser segredo.

Este ato, o de ir de encontro àquilo que há de mais profundo em mim, de te escrever, pode doer. Nem toda dor machuca profundamente. Algumas dores revelam o quão fortes podemos ser. Sem elas, quem haveria de ser eu? Há uma certa dose de masoquismo, de certo. Não há dor insuportável. E esse eu, quanta tolice!

Dedicado ao ato de escrever. Escrevive-se.

Inaê Diana Ashokasundari Shravya
Enviado por Inaê Diana Ashokasundari Shravya em 08/02/2017
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