São dezoito horas...

SÃO DEZOITO HORAS!

Arneyde T. Marcheschi

São dezoito horas. Estou na minha varanda molhando as plantas e contemplo o belo pôr-do-sol. Esta é a hora do dia de que mais gosto, apesar das muitas recordações e da melancolia.

De um apartamento vizinho, ouço a doce e suave música da Ave-Maria. Ergo osmeus olhos para o céu e agradeço ao Criador pela vida, pela bela imagem que se descortina aos meus olhos; o sol se pondo atrás dos montes, brincando com sua sombra no mar, nos oferecendo esse espetáculo maravilhoso, a emoção doespetáculo da vida, numa sincronia de cores indescritíveis...

Sinto o meu coração pulsar acelerado pelas recordações e saudades que nos trazem o passado de volta. Sinto aquela gostosa saudade das pessoas queridas que sozinha me deixaram. Não... seria egoísmo pensar assim, porque tenho meus filhos, nora, genro e dois netinhos maravilhosos, que são a minha única razão de viver.

Neste momento, como eu gostaria de estar junto aos meus queridos pais, meu irmão e o homem extraordinário e especial que foi o meu marido!

Ah! Mamãe, também com intensa saudade dos outros que já partiram, como eu gostaria que você estivesse comigo aqui e agora, para juntas conversarmos,olho no olho, neste momento mágico! Conversar coisas que deixamos de falar por muitos e muitos anos, e você se foi sem ter tido tempo de me dizer ou de me ouvir! Coisas que estão se passando no meu coração, neste capítulo da minha vida, que só a você eu gostaria de dizer! Como eu gostaria de compartilhar os meus sonhos e amores, que estão dentro do meu coração,vivendo uma nova etapa na minha existência!

Gostaria de poder descobrir com você coisas que não tivemos tempo de juntas conhecer, de vivenciar, de saber se era certo ou errado! Justo quando estávamos nos reencontrando numa intimidade de mãe e filha amigas, a vida nos separou, sem nos dar nem tempo para uma despedida, para um até logo, nada... Você partiu silenciosamente, como sempre viveu nesses 81 anos no lado de ca.

Mãe, eu espero que onde você esteja fale um pouquinho mais. Mesmo sabendo que a sua presença física não está mais comigo, sinto-a ao meu lado pronta para ouvir o que eu quero lhe contar, embora você, desta vez, tenha sido a primeira a perceber os movimentos do meu coração, o novo brilho dos meus olhos, o meu sorriso mais franco, sem tristezas, somente saudades...

Sabe mãe, eu queria que você estivesse comigo, para ver como sua filha está feliz e inebriada, acreditando num novo e florido caminho.

Sabe mãe, olhando para o céu, parece-me vê-la, poucas semanas atrás, quando você me disse uma coisa que eu esperei ouvir de você durante meus 52 anos de vida, quando, naquele sábado, eu estava me esmerando na maquiagem porque iria sair para jantar e dançar com P.... e você entrou no meu quarto, me abraçou e disse: Filha, como você está linda! Como seus olhos brilham! E você começou a cantarolar: "É o amor... é o amor!"

Sabe mãe, meus olhos se encheram de lágrimas pela emoção de vê-la cantar para mim, por mim, pelo fato de dizer que eu estava bonita e pelo simples fato de que você, espontaneamente, nunca havia me abraçado assim antes...

São momentos como esse, mãe, que eu gostaria de poder dividir com você e nunca pude, porque estávamos muito longe uma da outra. Embora morássemos na mesma casa, algo nos separava...e somente agora que a perdi eu entendo o quanto eu a amo mamãe, e do quanto eu ainda precisava do seu colo, do seu carinho, dos seus conselhos.

Mas, sinto-a sempre ao meu lado e nosso amor se fortificará cada vez mais;sei que nos momentos difíceis, que terei de enfrentar sozinha, não estarei só, porque você estará aqui comigo, segurando a minha mão, sorrindo para mime me dando todas as forças de que preciso para enfrentar este momento detransição e de mudanças na busca do aprendizado de mim mesma.

Obrigada, mãe, pelo seu amor, que me foi dedicado em todos esses anos em que talvez eu não lhe tenha dito suficientemente forte para que você ouvisse :

"MÃE, COMO EU A AMO! OBRIGADA POR TER ME ESCOLHIDO E ME ACEITADO COMO SUA FILHA".

Vitória. E.Santo 22/08/2002 - 17:55 hr

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