O ACIDENTE

-Espere, não posso correr tanto quanto você, minha idade não permite.

- Tá booom... tia, vou devagar, mas se apresse, o tempo anuncia chuva.

- Também vi, mas não posso fazer nada.

- Quer parar para descansar? Mas estamos sujeitos a tomar chuva pelo caminho.

- Você tem medo de chuva?

- Claro que não, apenas não quero me molhar, você sabe do meu problema.

- Ah! tinha- me esquecido.

- Olhe, vem vindo um carro, pode ser o motorista.

- Será ?

O veículo foi parando lentamente perto das duas senhoras. Uma já aparentava ter mais de cinqüenta mas a outra apenas uns trinta. E esta era a mais apressada.

- Bom dia, tudo bem ?

- Sim, obrigada, para onde está indo?

- Vou falar com seu marido, preciso de uns conselhos dele.

- Espere, pode nos dar uma carona? Parece que vai chover.

- Se seu marido não se importar...

- Pode ficar sossegado, ele não vai dizer nada, o senhor está até fazendo-nos um favor. Minha sobrinha não pode tomar chuva, está meio resfriada. Mentiu.

Pareceu milagre, pois, segundos após entrarem no caro, os primeiros pingos de chuva já molhavam o pára-brisas do veículo. Seu Joaquim, motorista velho, mas inexperiente, achou que seria bom correr, para fugir da chuva que parecia vir bastante forte, uma vez que fortes rajadas de vento balançavam os galhos das árvores que ficavam à margem da estrada.

Enquanto dirigia e à medida que aumentava a intensidade da chuva, ficou quase impossível dirigir, devido à precariedade do limpador de pára-brisas.

Ainda faltavam mais de 500 metros para chegar à sede da fazenda, quando, ao tentar desviar-se de uma pedra, o carro derrapou e foi chocar-se contra a cerca de arame liso que havia à beira da estrada.

No exato momento da colisão e quando parou o veículo acidentado sobre a cerca, um raio atingiu-a.

O destino, o acaso, qualquer um poderia dizer e pensar o que quisesse, porque tudo havia contribuído para aquele desfecho. O acaso havia reunido três pessoas, sendo uma quase que estranha a partilhar de uma mesma sorte.

Quando o raio atingiu a cerca, correndo através desta, atingiu os passageiros que se encontravam dentro do carro, tentando desvencilhar-se do cinto de segurança.

Na porta da casa, de onde observava a chuva, o fazendeiro comentou com o empregado que estava ao seu lado:

-Você viu o raio? Caiu diretamente sobre a cerca, espero que não haja reses perto desta, o prejuízo seria grande.

- Patrão o senhor viu a explosão? Alguma coisa explodiu lá.

- Meu Deus, é mesmo, até há fogo, mesmo debaixo da chuva forte, vamos lá ver o que foi aquilo.

Colocou a capa que sempre usava quando saía atrás dos bois em dias de chuva e, quando saía disse:

- Josefa, diga a minha mulher que eu já volto.

Saiu apressadamente nem escutou a resposta da empregada:

- Senhor, ela não está, foi caminhar, com sua sobrinha.

A empregada ainda estava preparando o café da manhã, quando o patrão entrou esbaforido pela casa adentro, ia falando como se gritasse, coisas que ela não conseguia entender.

Mesmo sem entender as palavras do patrão, imaginou que deveria ter ocorrido algo muito sério, pelo grau de agitação dele e do corre-corre dos empregados que gritavam uns com os outros, todos ao mesmo tempo, dando ordens e tentando contar o funesto acontecimento.

O Raimundin, peão de dentro de casa, parou em frente à empregada para lhe falar sobre o que havia acontecido, no mesmo momento que a chuva estava parando.

Ela sentou-se e depois de ouvir todo relato do caboclo, disse:

- Jesus, Maria, José, que desgraça, nos ajude, meu pai!

E caiu em prantos.

Lá fora o sol brilhava.

07-12-07-VEM.

Vanderleis Maia
Enviado por Vanderleis Maia em 11/12/2007
Reeditado em 15/08/2008
Código do texto: T773686