A QUERMESSE

A QUERMESSE. (Conto)

Festa Junina no interior é evento especial, produzido e planejado com grande antecedência . Os festejos em homenagem aos santos de junho têm grande aceitação popular. As promoções incluem as tradicionais quermesses, bailes populares, além de música e comidas típicas da época e da região. A Igreja e os chamados clubes de servir organizam festejos beneficentes cuja arrecadação é distribuída entre as entidades de benemerência.

Sempre que podíamos, por ocasião das férias de meio do ano, viajávamos ( eu e minha esposa) para uma pequena mas próspera cidade do interiorx, localizada no centro do estado de São Paulo, encravada na “Califórnia Brasileira”, dentro da região de Ribeirão Preto..É uma das localidades mais ricas do Estado. e detentora de uma economia bastante forte, diversificada e fundamentada na agroindústria.

O município de Taquaritinga também se destaca como um dos principais centros universitários e de pesquisa do Estado e do país.Naquela época era um dos maiores produtores de laranja, cujas safras eram bastante valorizadas em função do crescente comércio exportador de suco..

Numa ocasião, parece-me que no final da década de 70, houve uma sobrevalorização do produto em face da quebra de safra ocorrida nos Estados Unidos, devido a ocorrência de praga (cancro cítrico) que contaminou os laranjais da Califòrnia. Tal fato favoreceu sobremaneira o produto brasileiro com o aumento da demanda,.injetando um grande volume de recursos na economia da região.

Quando chegamos para as férias daquele ano, a cidade já respirava um ar de festa e, pelas ruas, notava-se os sinais de prosperidade no brilho dos automóveis, nas construções de novas residências e no comércio em geral.A casa da prima Izildinha, onde nos hospedávamos, ficava num bairro (Vila Sargi) próximo ao centro, numa avenida de pouco movimento. A alguns metros do local, havia uma praça com uma Igreja, na época, em construção, dedicada a S. Cristóvão, padroeiro dos motoristas.

Naquela noite, embora cansados da viagem, fomos a uma das quermesses organizadas pelo pessoal da comunidade, que tinha como objetivo a arrecadação de recursos para terminar as obras da igreja Era uma grande festa, com música sertaneja, comidas típicas, contando com elevado número de pessoas.Havia de tudo um pouco: bingo, sorteios em geral, além do leilão de variados objetos, garrafas de vinho e champanhe. Também havia lances para pratos de assados em geral, incluindo meia-leitoa em vistoso arranjo, que arrematei, após uma sucessão de lances, para marcar minha presença e ofertar à minha prima.

Durante o transcorrer da festa, principalmente do leilão, minha mulher não pode deixar de perceber, numa das mesas, um senhor de idade , modestamente trajado, bem ao estilo da roça. Notou que toda vez que ele tentava arrematar fosse lá o que fosse, o produto leiloado não alcançava a sua mesa.Nem um simples frango assado... Sentiu até pena do pobre velhinho, chegando mesmo a ensaiar o arremate de um franguinho, com o objetivo de enviá-lo de presente a sua mesa. Porém, acabou desistindo.

Quase ao final da noitada, comentou o fato , dizendo que ficara com dó do ancião. Ao ouvir a estória, meu primo Paulo, conhecido como Pacello, deu uma sonora gargalhada para nossa total surpresa, como se o que se relatara fosse uma piada.Ficamos sem entender nada... Ante nosso espanto, explicou-nos que o ”pobre velhinho”, de pobre, não tinha nada. Ao contrário, tratava-se de um dos mais abastados fazendeiros da região, plantador de laranja.A questão dele não receber nenhum produto leiloado, se devia ao fato de, discretamente , remete-los a outras mesas, presenteando, assim, seus amigos.

Ficamos atônitos, pois sua aparência era humilde. Nunca poderíamos imaginar se tratasse de pessoa de posses. O ocorrido serviu-nos de lição. Não se deve jamais julgar pelas aparências, sob pena de incorrermos em graves erros de avaliação.

EMILIO CARLOS ALVES
Enviado por EMILIO CARLOS ALVES em 30/11/2005
Código do texto: T78806