O Menino e a Verdade

Era uma vez um menino que mentia muito. Mas não mentia porque era mau, nem porque gostava de enganar pessoas. Mentia porque sua imaginação era um universo tão imenso que ele não conseguia mantê-lo dentro apenas do que seus olhos viam. Assim, se percebia um pequeno rodamoinho levantando papéis e folhas do chão, chegava em casa dizendo que passara por um furacão tão forte que ele e seus colegas chegaram a ser levantados no ar. Se tinha uma desavença com algum coleguinha de escola, era capaz de rasgar suas próprias roupas e contar para a mãe que brigara feio com um menino duas vezes maior que ele, mas que conseguira vencer a briga, apesar de sair um pouco machucado...

E assim, de estória em estória e de mentira em mentira o menino foi crescendo. Quando tinha 18 anos, e no seu primeiro emprego, gostava de ler para dar asas à sua imaginação, e passava o horário de almoço lendo numa praça perto de onde trabalhava. Nesse dia um rapaz se aproximou e perguntou seu nome. Ele inventou um nome diferente do seu. O rapaz se sentou e começou a contar-lhe toda uma estória de vida, de forma humilde e honesta de causar espanto! Em determinado momento perguntou o nome do livro que o nosso herói estava lendo. Ele virou a capa para mostrar e o desconhecido tomou o livro nas mãos, e na folha de rosto estava uma dedicatória do seu padrinho, que lhe ofertara o livro. O rapaz leu, ficou sério e lhe disse: "O seu nome não é aquele que me disse. Você mentiu. E quem mente numa coisa tão simples vai mentir sempre também nas grandes!".

O nosso personagem ficou rubro de vergonha e o rapaz se levantou, decepcionado. Vendo-o afastar-se e com o coração apertado pelo constrangimento, percebeu pela primeira vez que a mentira não é algo tão inocente, e que pode magoar profundamente as pessoas, porque elas se sentem enganadas na sua boa-fé. E foi aí que tomou a decisão de que nunca mais mentiria - nem nas grandes, e nem nas pequenas coisas.

Bem, essa estória é real. Na verdade, é a história da pessoa que lhes fala. Desde aquele dia eu respeitei meu juramento e tornei-me a pessoa mais autêntica e transparente que podia ser, abandonando por completo a vontade de me esconder por trás de mentiras, por mais inocentes que se apresentem.

É bem verdade que o convívio social nem sempre permite que expressemos todos os nossos sentimentos. E nem devemos fazê-lo, porque dizer coisas que não precisam - ou não devem - ser ditas também magoa tanto quanto dizer inverdades. A forma de harmonizar tal contradição, então, é responder apenas o que nos perguntam, ou oferecer elementos para as pessoas tirarem suas conclusões quando algumas verdades nossas podem ser dolorosas e, dessa forma, mereçam cautela antes de colocadas de forma incisiva para não agredir as verdades dos outros.

Dessa forma todos os que conviverem com você perceberão isso, e você será respeitado como alguém de caráter inquestionável por sua qualidade de pessoa leal e confiável. É bem verdade que sempre haverá alguns que se aproveitarão disso, e buscarão tomar partido de sua imensa capacidade de acreditar nos outros (pessoas que valorizam a verdade costumam também confiar muito nos outros, pois sempre jogamos para fora o que trazemos na alma). Assim, seu excesso de confiança no mundo vai lhe custar algumas lágrimas e decepções. Mas o que posso lhe dizer é que não deixe que tais ocorrências lhe tirem a vontade de continuar confiando, de continuar acreditando que o número de pessoas que joga no seu time é muito maior do que o dos adversários, e que sempre você colherá muito mais frutos mantendo-se fiel a seus valores do que capitulando em prol dos que defendem que a maioria mente, que "você é muito puro, ingênuo, e um perfeito candidato a otário para os mais espertos!"

Quem lhe diz isso é alguém que acaba de sofrer mais um desses baques - que teria capacidade para me abalar profundamente as estruturas não fosse os pilares estarem profundamente enterrados no cerne de uma crença inabalável no ser humano e na minha capacidade de superação, de dar a volta por cima, de olhar para a frente e continuar acreditando que sempre virão outros me provando que a verdade pode custar a aparecer, mas que, como as ondas, cada recuo é apenas o ponto de partida para um novo avanço!

Que esta singela estória dos meus tenros anos - que virou história - sirva como mensagem de encorajamento para você que hoje está desiludido, e de estímulo para renovar as esperanças e acreditar que o ano novo lhe trará mais e mais pessoas que farão jus à confiança que você lhes dedica.

Obras publicadas: www.lojasingular.com.br

Luiz Roberto Bodstein
Enviado por Luiz Roberto Bodstein em 31/12/2007
Reeditado em 20/03/2012
Código do texto: T798310
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