Ao amor

A estória a seguir contém temas adultos relatando relações sexuais entre duas mulheres adultas. Se você for menor de 18 anos ou onde mora é proibido ler esse tipo de material, por favor não continue. A escritora e a pessoa que mantém o website onde esse trabalho aparece não aceita responsabilidade legal pelo não cumprimento desse alerta.

Kenia Tinôco

A aurora parecia anunciar um dia calmo, fresco e acima de tudo igual aos outros; e seria apenas isto, mas Diana sentia-se muito diferente aquela manhã. Tudo o que a pequena barda sempre quisera foram dias para lutar e seguir sua melhor amiga; era perfeito, pois tinha seu caminho e sua paixão.

Mas, acima de tudo a manhã estava linda... a maioria das pessoas gostava da primavera, mas Diana adorava o outono que cobria os campos com aquelas cores em tons de conforto e abrigo, posto que o chão em que dormia tornava-se realmente mais confortável; e o mais importante, havia fartura para a comilona se empanturrar.

Porém a Rainha das Amazonas nem percebia que seu cenário favorito construía-se à sua frente com a chegada da luz do dia. Sentada em seu cobertor, com as pernas cruzadas, os cotovelos apoiados em seus próprios joelhos e o queixo sustentado na face de suas mãos; sentia um misto de confusão, amor e preocupação enquanto contemplava o corpo nu da Guerreira que dormia, com o cobertor puxado até a cintura. Ela não o percorria com os olhos, mas parecia olhar para um único ponto no rosto de Laura, e apenas ela mesma sabia o que estava vendo; e estava vendo tudo... e tudo lhe era muito confuso. Diana já sabia de cor todos os contornos do corpo daquela heroína, sentia vertigens quando pensava o quanto era linda e apesar de saber o quanto aquela Guerreira mexia com todos os seus sentidos, jamais a havia tocado; não da forma que naquele momento achava que queria.

E foi pensando nisso que se deu conta de que havia tentado engolir aquelas sensações durante todos aqueles anos, achando que estaria confundindo seus sentimentos de pura devoção à sua Guerreira com o amor que para ela só existia entre homens e mulheres. Sua intimidade com aquele corpo, ser e alma era tamanha, e apenas achava que estar ali seria sempre o suficiente; que aquele amor espiritual e recíproco capaz de fazê-la dar sua própria vida pela felicidade da outra era o único sentimento que lhes cabia. Mas certamente estava enganada e ela precisava compreender.

A Guerreira se mexeu, esticou os braços e abriu os olhos. Enxergou o céu num azul um pouco escuro ainda, e como fazia todas as manhãs virou-se para ver sua Diana. Seus olhos lhe lembravam o outono. Mas aquele outono estava muito escuro àquela manhã, como um mar de ressaca... ressaca... e que dor de cabeça ela sentia! Levou a mão à testa fechando os olhos, voltou-se para Diana novamente e percebeu que algo realmente não estava bem; sua amada Diana parecia não estar ali com ela.

_ O que houve Diana? Você está bem?

Diana voltou de algum lugar distante e parecia nem ter percebido que Laura já havia acordado.

_ Não Laura... precisamos conversar. Disse, após um longo suspiro.

_ Ah Diana! É tão urgente que não possa esperar essa dor de cabeça miserável passar!? Perguntou Laura tentando adiar a conversa.

A barda apenas se levantou e caminhou em direção ao rio que passava por ali, sentando-se à margem e contemplando o vazio.

Nos dias anteriores havia sentido um medo que jamais havia sentido antes, nem mesmo quando perdera Homero. Depois de ajudarem Hércules a derrotar uma das exterminadoras enviadas por Era, percebera a tensão que havia entre Laura e o semideus e sentiu uma dor descomunal quando a Guerreira sugeriu que se juntassem a ele. A barda respondeu que iria onde a Guerreira fosse, mas que não seria capaz de se juntar a ela e Hércules e muito menos (disse isso ironicamente) de se "passar pela filhinha do casal"; e apesar de ter ganho a "queda de braço" com o filho de Zeus, sentiu uma dor profunda enquanto testemunhava o porre fenomenal que Laura tomara depois de se separarem do herói. O que acontecera com a Guerreira? Nunca a havia visto bêbada antes... será que Laura sentia-se sozinha? Seria Hércules tão importante para ela? E a maior pergunta de todas: porque isso a incomodava tanto? Pois apesar de Hércules, ela ainda estaria ao lado da Guerreira, e se isso não era suficiente o que seria então?

Já vestida, Laura sentou-se ao lado dela à beira do rio.

_ Muito bem Diana, diga...

_ Eu vou embora...

Laura sentiu o metal gelado de uma espada entrando em seu estômago.

_ Como assim vai embora? Do que está falando?

_ Preciso ficar longe de você...

_ Ahã! e eu posso saber por quê? A Guerreira mal conseguia respirar tal o pavor que a tomava.

_ Por que não importa, não me faça muitas perguntas, por favor...

_ Como não lhe fazer muitas perguntas Diana? Depois de passarmos todo esse tempo juntas um belo dia eu acordo numa ressaca miserável e você me diz que vai embora?! Ou eu lhe fiz alguma coisa enquanto estava bêbada ou lhe caiu um coco na cabeça enquanto dormia! Deixe de bobagens e vamos procurar algo para comer.

Laura se levantou e quando viu que a barda não havia se mexido, respirou fundo e voltou a sentar-se a seu lado.

_ O que está acontecendo Diana? Converse comigo... por quê quer ir embora?

_ Porque eu a amo Laura...

_ Eu também te amo Diana e ...

_ Não Laura! Não é desse amor que falo! Estou falando de um sentimento que não me deixa dividi-la com ninguém! Posso não permitir que meus pensamentos se formem mas sei que quero você de uma forma... bem diferente.... eu acho.

Ah, aquele sentimento! então Diana o sentia também... tinha tanto medo que ela percebesse o que sentia a tanto tempo que já havia se conformado em escondê-lo para sempre; mas sua atitude com Hércules havia sido muito estranha e precisava esquecer, por isso o porre. Sabia o que era amar outra mulher, mas com Diana era diferente; sentia um amor tão profundo por aquela criança que a possibilidade de perdê-la era insuportável. Tantas vezes ficara acordada tentando controlar o desejo que sentia por sua Dana... que repousava ao seu lado e que às vezes a abraçava à noite, mas nada podia fazer a não ser esquecer pois seria ainda mais insuportável não tê-la por perto e não podia arriscar. Seu coração parecia querer sair por sua boca! Ele nunca havia se manifestado de maneira tão imponente, nem à beira da morte, nem à beira do amor.

_ Diana, eu também...

_ Não Laura! não fale mais nada, eu não quero ouvir... não entendo e não posso conviver com isso e por isso preciso ir embora e farei isso agora...

Dizendo isso Diana se levantou e começou a juntar algumas coisas. Laura se encaminhou em direção à ela e num misto de desconcerto e desespero contido começou a falar.

_ Escute Diana, tenha calma, isso é mais comum do que imagina; algumas Amazonas, por exemplo...

_ Ah! Por favor Laura, não é comum para mim está bem...? Disse sem parar de juntar suas coisas.

_ Pelos Deuses Diana! Você é a Rainha das Amazonas e não sabe de seus costumes? Laura sentiu um profundo arrependimento por falar tão pouco e deixar de esclarecer certas coisas à Diana.

_ Me deixe ir está bem? Apenas me deixe ir Laura... Disse-lhe olhando em seus olhos de maneira quase suplicante.

Ela não podia fazer mais nada a não ser assistir a mulher que amava sumir entre os arbustos sem olhar para trás. Pensou em segui-la preocupada com sua segurança, mas não podia desrespeitar sua decisão daquela maneira. Ficou parada, pensando, preocupada com Diana sozinha naquele tempo tão selvagem; e só muito depois pensou em chorar por sua ausência; sentiu um vazio tão grande que sua determinação de Guerreira tornou-se irreconhecível... então chorou como uma criança inconformada e adormeceu de cansaço; não sabia que a lágrima e a dor pudessem levá-la tão rápido à exaustão.

Laura acordou num salto com um conhecido barulho metálico, pegou sua espada e virou-se para chamar Diana... quase perdeu as forças quando se lembrou que sua barda não estava mais ali. Mas seu instinto de Guerreira a fez dar um salto e correr em direção à luta que se travava. Havia dois homens lutando contra oito que identificara como sendo do exército de César. Os dois homens lutavam bem, mas não iriam suportar por muito tempo. Laura se juntou a eles e a luta se tornou realmente desleal; Laura brigava com habilidade e força de 100 homens, mas não havia paixão em seus olhos, como se não houvesse mais motivos para lutar, como se estivesse apenas fazendo o seu trabalho, cumprindo o seu dever. Em alguns minutos não havia mais um só homem do exército de pé. Um dos homens que a Guerreira havia ajudado virou-se para ela e disse:

_ Obrigado! Você deve ser Laura... a Guerreira.

_ É, meu amigo... eu acho que sim. Respondeu a Guerreira tomada por uma profunda tristeza nos olhos e na voz _ mas o que houve aqui?

Ela não se importava realmente, perguntou talvez por força do hábito, por isso nem ouviu o homem se apresentar e começar a contar sua história. Laura virou-se para se retirar pensando no quanto era importante a presença da barda; talvez soubesse que seria muito difícil, mas senti-lo aproximava-se cada vez mais do insuportável. Havia deixado o homem falando sozinho...

_ Mas... o que há com ela? Perguntou o homem interrompendo sua história.

Os dias que se seguiram foram todos iguais, alguém para matar, alguém para salvar; apenas escolhia um lado ou causa e começava. Não havia hora, dia ou noite, dormia quando não agüentava mais, bebia e comia o suficiente para não morrer e lutava por não saber fazer outra coisa. Não suportava mais sua própria inércia! Não podia se entregar daquela forma, não ela, a Guerreira, a que tivera forças para voltar do reino de Hades, derrotar Ares, Era, a si mesma e a tantos outros. Mas tudo isso lembrava Diana, ela sempre esteve por perto em todos esses momentos, na verdade, lutara por elas, por si e por Diana, para que pudessem estar juntas, para que pudessem comemorar a glória e chorar a derrota, e ver o mundo mudar juntas. Precisava fazer alguma coisa, procurar algo que a animasse, que resgatasse sua vontade...

_ Hércules...

Sim, talvez ele pudesse animá-la, sempre se sentiu bem perto dele e sempre sentiu algo mais também; não era tão forte e incondicional quanto o que sentia por Diana mas era alguma coisa, um sentimento forte! Tinha que tentar, precisava se reerguer, voltar a ter propósitos e caminhos...

Partiu à sua procura e não foi difícil achá-lo. Onde quer que Hércules passasse, fosse a "trabalho ou a passeio" era percebido por todos. Quando o viu, estava um pouco distante, conversava e ria com um ajudante. Parecia uma muralha de ternura e bondade se movendo, imponente e suave, um homem como poucos, tão interessante quanto as mulheres guerreiras daquele tempo... mas, mesmo sem se aproximar, Laura percebeu que não era o que precisava, não iria adiantar se enganar, precisava de Diana, sua barda, sua Rainha, sua criança. Sentou-se ao lado de seu cavalo Pietro, e chorou como um adulto, conformada diante de sua impotência em mudar as coisas.

Era Pietro quem guiava seu caminho agora, não importava onde pudesse ir ou por quem lutar, apenas seguia seu instinto de justiça, sobre o qual aprendera muito com Diana; mas não havia paixão ou vontade, lembrava apenas um animal seguindo seus impulsos; e em cada vilarejo ou acampamento que passava perguntava por Diana apenas para tentar saber se estava bem, e em muitos lugares recebia notícias de que passara por ali mas não falara com ninguém, nem para onde ia, nem de onde vinha. Até que um dia, numa pequena aldeia, ao perguntar por ela alguém lhe disse que havia alguém assim em uma taverna em frente. O coração da Guerreira parecia ter voltado a bater naquele instante, e quando ainda em cima de Pietro a viu sair, quase caiu de seu cavalo ao sentir seu sangue voltar a circular pelas veias, doía até, como se estivessem secas a muito. Diana foi parando devagar, como se não acreditasse ser real a visão de Laura à sua frente. A barda parecia um pouco mais magra e com certeza não parecia feliz.

Diana engoliu seco, era tão bom vê-la! Seu coração doía, mas não podia, não conseguiria viver algo que não entendesse, não tinha suas respostas ainda e não sabia se as teria um dia. Determinada, virou-se e seguiu a trilha que se abria no meio da mata.

Se ainda não estivesse de pé poderia dizer que estava morta, derrotada ali em cima de Pietro, e por isso, por estar morta, nem mesmo chorou. Pietro começou a levá-la para o mesmo caminho que Diana seguira. Quando Laura se deu conta, segurou as rédeas e disse:

_ Você a tem seguido garoto? Se o estiver fazendo pare, ela não nos quer por perto...

O cavalo relinchou, bateu com a pata duas vezes no chão e depois se virou e começou a andar para o lado contrário.

Laura estava com fome, não sabia a quanto tempo não comia, não sabia nem quantos dias se passaram desde que... na verdade nem sabia a ordem das coisas que lhe haviam acontecido. Pietro, que parecia estar mais humano do que nunca no sentido da compreensão, parou em frente a um rio. Laura desceu, tirou as roupas e mergulhou para pescar e aproveitou para tomar um banho, que também não sabia quando tomara o último. Fez uma fogueira e começou a comer quando se deu conta de que conhecia aquele lugar... sim... tinha sido ali aquele dia horrível, o último dia em que realmente se sentira viva. Foi naquele lugar que Diana a havia deixado. Não conseguiu engolir nem mais um pedaço de seu peixe. Deitou e adormeceu... não sonhava mais, nem bons sonhos nem pesadelos... Morpheus, Deus do Sonho, pai de Orpheus e um dos irmãos da morte, era impotente diante da dor que a Guerreira sentia. Um pouco além da metade do dia acordou com um barulho nos arbustos, sabia que alguém se aproximava e se apoiou em seu cotovelo para ver, instintivamente, sem ao menos se prevenir... não tinha mais esperança, e alguém sem esperança é alguém sem medo... não pegou sua espada, apenas observou sua rival Hera sair de trás de seu esconderijo. O quê, pelos Deuses aquela mulher fazia ali!? Não estava presa em Tartarus ou Zeus sabe onde? Isso provocou uma profunda irritação em Laura.

_ Ah, Hera, mas que perturbação... me deixe em paz, vai... E voltou a deitar-se escondendo o rosto com um de seus braços.

A vilã não entendeu a atitude da heroína e ficou desconfiada, seria um truque? Onde estava Diana?

_ Onde está Diana Laura?

_ Não sei...

_ Eu não vou cair em sua armadilha Laura, acho melhor...

_ O que você quer Hera, me matar?! Disse a Guerreira dando um salto de seu cobertor até a loura e colocando a espada de sua inimiga em seu próprio pescoço _ vamos, faça!

_ O que está havendo com você, esta louca?... Eu não quero te matar, quero te humilhar, te ferir, te machucar, vencer você, mas isso...

_ Então vá embora Hera, não há mais nada em mim que você queira ou possa atingir, você perdeu a vez, alguém chegou primeiro e fez o seu trabalho. Vá procurar outra pessoa para querer e odiar ao mesmo tempo, sua doida!

Hera, do alto de sua insensibilidade e ignorância ficou ali parada com uma profunda tristeza estampada em seus olhos escuros, como se tivesse perdido um ente querido e nada pudesse fazer para resgatá-lo, enquanto Laura voltava para onde estava e dava-lhe as costas.

_ Você ainda está aí Hera? Me deixe em paz... E deitou-se novamente sem saber em que momento a vilã se afastou; foi quando sentiu um perfume... o cheiro de Diana! Deu um salto do chão e ficou de pé, apurando os ouvidos para sentir sua chegada.

_ Diana?

Ouviu passos em sua direção e a viu surgir, linda! Era ela a dona de sua alma, a única que poderia tirá-la daquele lugar horrível em que se encontrava seu espírito. Os olhos se encontraram e queimaram todos os sentidos das duas mulheres, como se o olhar de uma entrasse pelo corpo da outra e vasculhasse tudo estremecendo todos os órgãos apenas para dizer "eu estou aqui".

_ Você está bem? Disse Diana.

_ Acho que sim, agora...

_ Ouvi dizer que Hera estava livre e que estava lhe procurando, fiquei preocupada e vim para ver se estava tudo bem. Sua voz parecia se prevenir de algo que estava dentro dela mesma.

_ Ela já foi...

_ Como assim?

_ Já veio e já foi embora... só isso. Disse Laura com a voz doce.

_ Então... eu já vou... dizendo isso se virou e começou a sumir entre os arbustos.

_ Diana espere!

Ela não obedeceu e começou a correr! Sentia pavor, mas não sabia onde se esconder já que o que a seguia estava dentro de si mesma. Precisava correr mais e mais! Até que numa enorme clareira ela sentiu uma mão forte fazê-la parar.

_ Diana, por favor, escute...

A barda olhou para aquele azul infinito e percebeu que havia uma nuvem naqueles olhos que tanto amava, uma tristeza que doía em si mais que a sua própria; então decidiu ouvir o que sua heroína tinha a lhe dizer...

A guerreira a olhava se recuperando da corrida que inesperadamente a deixara um pouco ofegante. Diana estava triste e com medo, via-se em seu olhar, mas ficara para ouvi-la; então Laura começou a falar com a voz mais doce que Diana já ouvira:

_ Diana é você quem salva todos os meus dias; sem você eles são apenas bons dias para se viver ou morrer numa batalha, para se andar para lugar algum, para matar e esperar ser morta por alguém que me pegue de surpresa ou que seja melhor que eu... a comida boa ou ruim só faz sentido com você; vencer e estar viva no final de uma briga só faz sentido se estiver comigo! Você me ensinou o prazer de fazer bem a alguém, de perdoar, de amar! E sem você, seu sorriso e seu olhar de admiração estas coisas não são mais as mesmas. Quantos dias Diana, quantos dias se passaram desde que foi embora? Para mim nenhum, pois desde então nenhum dia realmente nasceu.

Seus olhos estavam vermelhos pela pressão da lágrima que impedia que se libertasse enquanto percebia a profunda tristeza e dor estampadas no olhar de sua barda. Mas continuou, talvez fosse sua última chance, tinha que dizer tudo:

_ O que é isso Diana, vamos diga! O que é isso que sinto por você? Se isso é uma aberração ou não pode, porque me faz tanto bem? Porque apenas esse sentimento que você está tentando negar e apenas ele, salva minha alma, me torna uma heroína e não uma louca perdida sem saber distinguir tirania e justiça? Você é minha outra parte e sem ela não há nada que complemente meus dias, que me dê paz. Estou como no início, a diferença agora é que sei o que me falta...

A Guerreira fez uma pausa para ter coragem de dizer o que provavelmente seriam suas últimas palavras para Diana. Queria ter mais para dizer... e tinha, muito mais, mas sabia que diria apenas para prendê-la ao alcance de seus olhos mais pouco. Soltou o braço da barda, acariciou seu rosto e cambaleou quando sentiu que ao seu toque Diana fechara os olhos numa demonstração de prazer e paz.

_ Eu precisava lhe dizer tudo isso meu amor, para que junto com seus devaneios esteja também o meu apelo. Agora você pode fugir para qualquer lugar que queira; eu vou pegar minha espada e enfrentar o que me espera, pois nisso eu sou boa, com ou sem você.

Dizendo isso Laura se afastou devagar, segurou as rédeas de Pietro que a havia seguido, e não olhou para trás. Diana sentou-se encostada numa pedra e chorou durante muito tempo... o choro das crianças e dos adultos; e nem se deu conta de que começara outro dia.

As palavras de Laura ecoavam como num sonho; seu amor pela Guerreira agora a açoitava mais do que em todo esse tempo, pois mais do que sua própria dor não suportava a dor que vira em seus olhos... ela jamais falara tanto de si mesma, jamais estivera tão vulnerável, e isso por si só já seria demais para ela. A falta que Laura fazia em sua vida era vencida por suas perguntas... mas que perguntas? A única coisa que fizera fora fugir de si mesma e não correr atrás de respostas. Não havia mais perguntas, pois a resposta estivera sempre ali, dentro dela! A resposta era o que sentia, o amor que sentia e era correspondido! Que pergunta havia para responder sobre esse assunto?! Pelos Deuses! Perguntar o quê se ela não tinha perguntas nem sede de respostas longe de sua Guerreira? Não tinha mais vontades, a não ser a vontade de correr e se juntar à ela, ficar ao seu lado, o único lugar que queria estar, que poderia estar, onde teria paz e que era seu. E foi o que começou a fazer sem mesmo se dar conta... correu para o acampamento para encontrá-la e dizer tudo o que sentia, pedir desculpas, amá-la, apenas fazer o que não havia possibilidade de ser diferente! Não via a hora de se encolher naquele abraço que a fazia ficar nas pontas dos pés para alcançar e abraçar o pescoço de sua Bárbara; era o lugar mais seguro e confortável do mundo; queria receber aquele sorriso que não era mostrado a mais ninguém, era seu! E como era bom pensar que era seu e de mais ninguém, como se sentia lisonjeada por ter o amor daquela Guerreira! E um sorriso largo foi-se abrindo em seu rosto no meio da correria... mas só encontrou as cinzas da fogueira, ela havia ido embora.

Diana precisava encontrá-la! Sua dor era física, como se estivesse faltando uma parte sua e precisava colocá-la no lugar. Chegou na aldeia mais próxima, e na outra, e na outra, e assim passou luas percorrendo todas as aldeias, seguindo as informações que lhe davam sobre a Guerreira que passara por ali, guiada por seu animal. Até que num vilarejo próximo a Styrmon Pass, ouviu alguém dizer seu nome dentro de uma taverna e entrou.

Havia muitos homens rindo e bebendo, pareciam comemorar... foi então que viu aquela cena horrível! Seu estômago vazio parecia querer expulsar o ar que havia dentro dele... suas pernas não sustentariam seu próprio corpo por muito tempo então sentou-se, caiu numa cadeira que estava perto. À sua frente, sobre uma mesa, banhada em sangue, com uma espada ainda encravada em seu abdômen estava a maior das Guerreiras, a mais temida, a melhor de todas... sua Melhor Amiga e seu Maior Amor, Laura. Tudo começou a rodar, a voz dos homens na taverna que davam vivas e diziam o nome "Laura" se contorcia... estava desmaiando. Formava-se um eclipse em seus olhos, tudo estava escurecendo ao redor quando, tomada por uma ira irreconhecível em Diana, levantou-se e partiu para cima dos homens. Talvez, nem mesmo Laura teria dado cabo deles com tanta rapidez; a gentil e doce Diana era pura fúria! Seu olhar era capaz de derrubar um homem! Usou seu bastão, garrafas, cadeiras, mesas e até, quem diria, uma adaga. Quando tudo terminou só havia Diana de pé, era difícil saber se a barda havia derrubado apenas os culpados.

A Rainha das Amazonas se voltou para a mesa onde estava Laura e apesar de toda a demonstração de força que acabara de dar mal tinha coragem para olhar. Um choro estrangulado parecia sair de dentro da barda, mas não havia lágrimas, ela estava morta por dentro e por isso não chorava... chegou mais perto e acariciou a testa da Guerreira, afastando seus cabelos... inclinou-se e beijou sua boca gelada.

_ Dian...

Diana deu um grito que seria impossível descrever, ela ainda estava viva!

_ Laura! Fale comigo! Laura, Laura sou eu, eu te amo! Fale comigo, por favor. Como num sopro de vida a barda renasceu naquele instante e começou a chorar, espernear como uma criança que não se conforma_ anda! Fale comigo meu amor, vamos! Abra os olhos e... e fale comigo...

Não teve mais nenhuma resposta... e como a criança inconformada que acabara de se tornar reuniu todas as forças de sua alma e retirou a espada da barriga da Guerreira. Tentou carregá-la até Pietro, mas não suportava o peso da guerreira mesmo que estivesse bem alimentada... saiu pela porta e gritou por socorro ao primeiro que passava. O homem não acreditou na devastação que havia lá dentro e concluiu que a Guerreira que repousava sobre a mesa teria feito aquele estrago e que havia se ferido no combate.

Com Laura pendurada no cavalo, Diana guiou Pietro até Neliva; um curandeiro que vivia perto de onde estavam. Lá chegando o homem magro e pequeno já as esperava... em outra situação a barda teria se perguntado se o homem era curandeiro ou mago, mas nem se deu conta. Os dois tiveram muito trabalho para arrastar Laura até o abrigo e acomodá-la num colchão de folhas e palha. O homem pediu a Diana que esperasse do lado de fora e assim ela o fez... relutante, mas conformada.

A barda sentou-se ao lado de Pietro e esperou... nada pensava, apenas esperava com a paciência de um Deus. Não rezava, não pedia nem especulava, apenas esperava; e assim ficou durante dois longos dias, sem se mover, sem dormir ou acordar; lembrava um monge tibetano, parecia estar em transe... nem fazia idéia de quanto tempo havia se passado quando o curandeiro pôs a mão em seu ombro e ela o olhou com calma, como se tivessem passado alguns minutos. O olhar daquele homem dizia tudo o que não queria ver ou ouvir e sem que ele dissesse uma só palavra Diana respondeu:

_ Continue.

_ Ela não quer viver minha jovem; eu não posso fazer mais nada. Seu corpo não precisa morrer, pois apesar do ferimento ter sido grave não há veneno e isso facilita as coisas; mas seu espírito assim o quer; nunca vi uma Guerreira como essa tão vulnerável, jamais imaginei que pudessem chegar a tanto e não duvido que já tenha voltado do reino de Hades mais de uma vez. Mas é ela quem não quer e pelo que sei só o amor pode derrubar um gigante como este, apenas ele é tão poderoso... ele pode ser uma dádiva e também maldição...

Diana se levantou e entrou no abrigo. O curandeiro permaneceu do lado de fora, pois realmente não tinha mais nada a fazer.

A barda deitou-se ao lado da Guerreira que parecia sem sangue, gelada... muito branca; encostou a face em seu peito e agarrou a gola de sua roupa de baixo, sentindo seu coração que quase não batia, tão fraca e esparsa era sua pulsação; mas ela não podia se desesperar agora... encostou sua testa no colo de sua Princesa como se orasse e começou a falar em tom de súplica.

_ Laura preste atenção, onde quer que esteja ouça o que eu tenho a lhe dizer. Às vezes sou uma fedelha infantil e cheia de dúvidas, que precisa de um tempo para pensar e organizar as coisas... mas uma coisa sempre foi clara para mim... eu amo você! Mais do que já amei qualquer um e muito mais do que poderia amar algum dia, pois nada pode ser maior que isto que sinto... sou sua irmã, sua mãe, sua filha, sua melhor amiga... e onde quer que vá, viva ou não, eu irei atrás de você! Seja no reino de Hades, Tartarus ou na Terra dos Mortos das Amazonas, eu irei atrás de você! Mesmo que eu tenha que deixar meu corpo da maneira mais dolorosa, pois não sei abandoná-lo como você faz; eu juro que irei atrás de você e não duvide disso!

A lágrima quente descia por seu rosto e molhava a pele gelada de sua amada. Diana aproximou sua boca do ouvido da Guerreira, deitando a cabeça em seu ombro... abraçou o corpo frio com sua perna, começou a acariciar seus cabelos e rosto puxando-a para perto e, choramingando e soluçando voltou a falar:

_ Mas eu queria ficar aqui... com você; queria ver seus olhos se abrindo todas as manhãs e se fechando todas as noites... quero segui-la, guiá-la... e quero... quero beijá-la Laura... quero sentir seu corpo quente ao meu lado e junto ao meu... quero sentir sua intimidade me invadir a cada dia... eu.... eu quero saber como faz amor, como se entrega, que palavras diz, o que mais gosta... quero tê-la... e quero que me tenha... quero ouvi-la gemendo... quero aprender a satisfazê-la, e quero me mostrar... agora eu quero ser também sua amante... e não tenho mais vergonha desses sentimentos... eu quero me sentir livre para sentar e admirar cada parte do seu corpo em ação enquanto tenta mudar o mundo, e quero saber que tudo isso é meu...

_ Eu tento mudar o mundo por você Diana... Sussurrou Laura.

A barda levantou a cabeça num salto! Viu aqueles olhos lindos, e soltou um grito de alegria beijando cada pedacinho do rosto de seu amor mais ou menos desperto, enquanto chorava o choro dos que amam, o choro da felicidade, o choro que é libertado pela pressão sobre as glândulas porque o sorriso não cabe no rosto.

_ Eu te amo, eu te amo, eu te amo, eu te amo, eu te amo, como eu te amo!

A Guerreira sorriu, muito fraca, e abraçou Diana que se excedia.

_ Diana, cuidado, está doendo... ai...

_ Desculpa! Mas eu te amo muito, você sabia disso? Você sabe do meu amor por você?

_ Ai!... Sim, eu sabia, mas pensei que nunca mais fosse senti-lo.

A Guerreira era mais cautelosa em demonstrar sua felicidade, enquanto que a barda poderia acordar todos os reinos apenas para falar da sua.

Depois de recuperar suas forças e se divertir com a comilança inumana de seu amor, a Guerreira se despediu do curandeiro e montou em Pietro com sua Rainha agarrada em sua cintura, rezando para que ela nunca mais saísse dali enquanto vivesse.

Não era mais outono, mas as paisagens pareciam as mais lindas. Quando passavam por um rio, Diana disse a palavra mágica:

_ Estou com fome.

_ Pelos Deuses Diana! Quanto tempo ficou sem comer?

E com a voz inesperadamente provocante, Diana disparou:

_ Nossa... muito... você não imagina quanto... e apertou a guerreira contra seu corpo.

Laura agradeceu por seu rosto não estar à vista de Diana, pois ruborizara; como podia aquela fedelha arrancar as mais inusitadas reações na Guerreira?

Desceram do cavalo e encaminharam-se para o rio. A Guerreira começou a tirar a roupa, quando a barda perguntou com um ar desconcertante:

_ Quer que eu lhe ajude?

_ Não! Diana, você está me deixando nervosa...

_ Está bem Grande Guerreira, tire sua roupa então, eu não vou olhar. Disse a barda se afastando.

Laura estava surpresa com a mudança em sua Diana; era de fato uma mudança maravilhosa, mas estava se sentido uma virgem deslocada, como se tivesse perdido uma parte da história.

Tirou a roupa desconfiada, sentindo que estava sendo vigiada... então tratou de entrar logo na água e começar a pescaria. Quando voltava de seu primeiro mergulho com um peixe na mão encontrou Diana com o olhar mais lindo que já lhe havia lançado, a menos de meio metro de distância. O peixe era um grande sortudo, pois no susto Laura o soltou.

Seus olhos se encontraram. A Rainha das Amazonas ergueu a mão e tocou a face de sua Guerreira, que fechou os olhos para sentir; segurou as costas de seu pescoço carinhosamente e puxou-a para dar-lhe um beijo.

Laura sentiu os lábios de sua companheira... eram tão macios que parecia estar beijando sua alma; sua língua se encaixava em sua boca como algo que jamais deveria sair dali; seu beijo ocupava todos os cantos de seu corpo, estremecendo-o, provocando reações em cada ponto. Diana que também estava nua... se aproximava e se encostava; a Guerreira se invadiu de desejo e esquecendo-se da parte da história que perdera, puxou seu amor num abraço, apertando seu corpo contra o dela como quem quisesse se tornar um. Diana passou os braços pelo pescoço de sua enorme Guerreira e cruzou as pernas por suas costas, alcançando sua altura. O beijo se desfez e a barda olhou sua amante que refletia a luz do sol nas gotas de água que lhe cobriam o corpo. Ela estava deliciosa, dourada, a Rainha queria cobrir a mulher que amava, com sua boca.

_ Eu te amo Laura, e quero você agora e todos os dias da minha vida... entende isto?

_ Sim Diana, eu entendo isto... muito além do que possa imaginar ou do que eu mesma pudesse esperar.

A Guerreira percebeu que seria impossível se controlar a partir dali. Beijou Diana com a fúria de uma leoa, selvagem, como quem quer devorar sua caça! Que por sua vez respondeu com um delicioso e prolongado gemido; as pernas da barda desfaleciam gradativamente, a ponto de não conseguir sustentá-las nas costas da Guerreira; que as segurou tomando sua amante no colo e sem interromper o beijo que ia da fome à mais profunda devoção, dirigiu-se até Pietro para pegar um cobertor e forrar o chão, onde deitou-a com carinho... beijou-a ainda mais, mordeu-a com os lábios, explorou cada parte de todo o seu percurso tão desejado e esperado... ganhando um gemido mais alto de sua amante.

Diana sentia os cabelos molhados e a boca quente e suave de sua Guerreira por todo o seu corpo... suspirando, perdendo o fôlego... arrancando-lhe sensações que nem sabia que podia sentir. Tinha vontade de gritar, sentia-se encharcar entre suas coxas a cada toque de Laura... então soltou um grito abafado que mais parecia um apelo.

A Guerreira gemeu alto quando sentiu o gosto molhado de sua Rainha invadir sua boca; nada era mais saboroso que o gosto de Diana. Ela afastava suas pernas com o próprio rosto e suas mãos pareciam não querer perder de vista um só pedacinho do corpo de sua barda. O gemido de Diana se tornava cada vez mais alto e prolongado enquanto subia e descia o quadril num movimento rítmico... era música e dança; e Laura gozou apenas com a visão de seu amor estremecendo, atingindo o clímax e soltando o que parecia ser um uivo de prazer.

Diana arqueou o corpo puxando sua Guerreira pelos cabelos e deu-lhe um beijo mais que selvagem, chupando, comendo sua boca como a uma fruta. Laura sentou-a em suas pernas, que estavam dobradas, e sentiu aquele pedaço encharcado delicioso de sua amada encostando-se em seu abdômen, curando-o; levou uma das mãos até ela e sentiu o canal quente; estava dentro de Diana que se movimentava de forma alucinada em seu colo e mordia seu pescoço, sua boca, suas orelhas.

_ Eu sou sua Laura, tudo em mim é seu, faça o que quiser. Dizendo isso soltou outro gemido alto e se jogou em cima da Guerreira, apertando-a com força... ofegante, saciada por enquanto.

As duas amantes deitaram-se, uma ao lado da outra; a Guerreira apoiava a cabeça em seu cotovelo, virada de lado, contemplando e acariciando o corpo que amava; sua alma, tão endurecida e ferida entendia naquele instante o que era ser feliz, encontrando um par de olhos castanhos totalmente apaixonados olhando-a. A jovem encontrava-se com um sorriso bobo no rosto, enquanto a mulher mais velha perdia-se em seu próprio encantamento contido.

_ Pensa que vai fugir de mim? Disse a jovem com um sorriso maroto.

_ Até onde eu sei quem andava fugindo de mim era você...

_ Nem me lembre disto... suspiro... mas você tinha razão...

_ De novo? No que eu tinha razão dessa vez? Disse a guerreira sorrindo o sorriso que pertencia à Diana.

_ Arrogante... linda! Disse roubando um beijo da Guerreira _ tinha razão quando disse que devia ter caído um coco em minha cabeça... certamente eu estava louca quando quis fugir de você... e agora que recobrei minha sanidade eu quero tudo em você.

_ Não há nada em mim que não seja seu, Diana. Tinha força e suavidade em sua voz.

_ Ah, é mesmo? nada? Perguntou com mais um sorriso maroto no rosto.

_ Nada.

_ Então...

Dizendo isso a barda mordeu os lábios e a Guerreira fechou os olhos ao sentir sua Rainha sobre seu corpo.

_ Acha que sabe o que fazer? Perguntou desnecessariamente, por puro nervosismo.

_ Ah, sei sim... eu acho que sempre soube, meu amor... você sempre despertou a minha criatividade...

_ Ainda não viu nada.

_ Você também não...

Então a jovem tomou sua Guerreira como ninguém jamais a tomara antes; tornando-a vulnerável, domando-a, sendo sua escrava e dona. Viu a leoa virar um gatinho se entregando ao seu toque, desfalecendo-se de prazer em suas mãos. Aprendeu seus gemidos, seu gosto e o exato momento em que libertava seu corpo. E por isso foi feliz, ao lado daquela mulher que era a sua metade.

Kenia Tinôco
Enviado por Kenia Tinôco em 19/06/2006
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